O minério de ferro caiu ontem a seu menor preço em dez anos. As preocupações com o mercado financeiro chinês e com a economia local levaram a um pessimismo generalizado, que foi classificado por alguns analistas como "pânico". O ambiente levou ainda investidores a fecharem posições vendidas em metais não ferrosos, o que, ao fim do dia, reverteu queda dessas commodities.
O minério com teor de 62% de ferro fechou negociado em US$ 44,10 por tonelada no porto chinês de Tianjin, queda de 11,3%. O preço é o menor desde 2005, quando os contratos ainda eram reajustados mensalmente. No ano, a baixa é de 38,1%.
A fuga de ativos ligados à China pressionou também a Vale. A maior produtora de minério de ferro do mundo e que tem o mercado chinês como seu principal cliente viu seus papéis desabarem na BM&FBovespa e chegaram ao pior nível em 12 anos na Nyse, bolsa de Nova York.
Carsten Menke, analista do banco suíço Julius Baer, disse que as quedas mais acentuadas do minério e das ações ligadas ao produto têm relação com esse "pânico". Para ele, a forte queda das ações em Xangai e a falta de sinais concretos de retomada da economia chinesa foram as principais causas da desvalorização.
Para Leon Westgate, do Standard Bank, a volatilidade entre as commodities metálicas tem tudo para perdurar. O "colapso", em suas palavras, do mercado chinês ainda deve pressionar as cotações, mas, a depender da resposta do governo, espera-se um repique acelerado para os metais. "Até agora, porém, as medidas falharam e exacerbaram as preocupações sobre liquidez", diz. "Outras iniciativas vão sendo tomadas, enquanto o pânico toma conta."
Um analista de banco, que não quis se identificar, acredita em uma recuperação do minério, repetindo o movimento já visto neste ano. "O mercado físico [de exportação] não aguenta esse nível por muito tempo." Em sua visão, a médio prazo a commodity teria de se estabilizar entre US$ 50 e US$ 60 para que mineradoras continuem operando sem perder dinheiro. A maioria dos analistas projeta nível entre US$ 45 e US$ 50.
Ben McEwen, analista do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), ressalta que o aumento da oferta pode trazer os preços a US$ 37,50 durante o ano que vem.
Os ADRs - recibos de ações negociados em Nova York- da Vale com lastro em papéis ordinários caíram 5,68% na Nyse ontem, para US$ 5,31. É o menor preço desde novembro de 2004. No caso dos papéis referentes a ativos preferenciais de classe A, a baixa foi de 5,68%, para US$ 4,48, pior nível desde maio de 2003. Na BM&FBovespa, as ações ON recuaram 4,29%, para R$ 17,16, e as PNAs perderam 4,02%, para R$ 14,54. As cotações são as menores desde abril.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás e Francisco Góes | De São Paulo e do Rio
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