“Olha as consequências que já estão sendo sentidas no Brasil”, argumentou o secretário-geral da Camara de Comércio Internacional (ICC), John Denton, ao mencionar “consequências não intencionais” das sanções internacionais contra a Rússia sobre as cadeias de abastecimento, nesta segunda-feira (21), durante um fórum na Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Nenhum de nós está discutindo a necessidade de sanções”, afirmou Denton, que condenou a guerra que está ocorrendo na Ucrânia como injustificada e contra a lei internacional. “O que estou dizendo é que se você quer solidariedade global, precisa olhar para os impactos na cadeia de abastecimento e fazer algo a respeito.”
Denton apontou um impacto desproporcional sobre pequenas médias empresas e países em desenvolvimento, que necessitarão financiamento de instituições multilaterais para ajustes estruturais.
Nos debates, a avaliação geral foi de que os bloqueios e gargalos na cadeia de abastecimento provavelmente persistirão em 2022 e talvez por mais tempo. E, no curto prazo, acumularão pressões inflacionárias.
No médio prazo, a expectativa é de que grandes incertezas, inclusive geopolíticas, continuarão a turvar a perspectiva de um afrouxamento do gargalo. E, a longo prazo, desafios estruturais como a modernização da infraestrutura, digitalização e descarbonização das cadeias de abastecimento terão que ser enfrentados.
Mesmo antes da guerra na Ucrânia, as rupturas na cadeia de fornecimento pesavam sobre o comércio global, o crescimento econômico e a estabilidade de preços.
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“A tragédia que está se desenrolando na Ucrânia está se acrescentando às tristezas da cadeia de abastecimento”, disse Ngozi Okonjo-Iweala, a diretora-geral da OMC, mencionando impactos imediatos na segurança alimentar global, com aumentos acentuados de preços para grãos, oleaginosas e óleos vegetais e fertilizantes, e para a energia.
Para Ngozi, esse não é o caso para recuo do comércio, estimando que as trocas ajudam na adaptação a esses e outros choques. “Mercados internacionais mais profundos e diversificados continuam sendo nossa melhor aposta para a resiliência de fornecimento”, disse.
Charles Darr, vice-presidente da MSC, a maior empresa de navegação do mundo, acha que o choque da pandemia e agora da guerra podem ter algum efeito permanente sobre as cadeias de valor. Mas observou que a diversificação de abastecimento é mais fácil de falar do que fazer. E que, no caso específico de sua companhia, acrescenta 100 navios em sua rede, mas se os portos não tiverem estrutura para recebê-los, isso não resolve a situação.
Fonte: Valor