As empresas criadas por Eike Batista e negociadas em bolsa estão passando por uma nova fase de ajustes. Ao final desse processo, o empresário terá menor participação em algumas. Em outras, se manterá no controle, mas de negócios esvaziados. Esse processo reduz ainda mais as chances de pagar suas dívidas e sair com algum ganho de toda a reestruturação de seus negócios.
Um grande complicador para Eike é o fato de estar sendo alvo de um processo criminal, acusado de ter negociado com ações da OGX e OSX com informação privilegiada, além de manipulação de mercado. Recursos do empresário estão bloqueados.
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O advogado Sergio Bermudes, que defende Eike Batista, disse que o empresário vê todas as providências que vêm sendo tomadas nas antigas companhias do grupo EBX como um elemento de preservação das empresas, de seus empregados e dos credores. "Eike acredita que vai superar os percalços e contratempos que levaram o grupo a passar por essa situação [de dificuldades] que resultou em vendas e na redução de suas participações societárias nas companhias."
Eike já foi diluído em sua participação na OGpar (ex-OGX), embora essa operação esteja sendo questionada. Sairá do controle para 5% de uma empresa que vive o dilema de tentar encontrar petróleo. A Prumo (ex- LLX) prepara um aumento de capital. Como o empresário não dispõe de recursos para acompanhar, verá sua fatia atual de 11,6% ser reduzida e deixará o controle da empresa. O mesmo deverá acontecer na Eneva (ex- MPX), em que os credores também preparam capitalização. Eike hoje mantém 20% da empresa.
A OSX vive uma batalha para dar andamento à sua recuperação judicial. A assembleia que aprovará o plano pode ficar para 2015 por conta disso. Ontem a Justiça do Rio manteve o direito de voto de todos os credores na aprovação do plano, rejeitando pedido de um dos credores, a Acciona. Mas pelo plano que se desenha, o estaleiro não deverá ter futuro: irá vender ativos e transferir os dividendo e direitos de exploração do Porto Açu para o pagamento dos credores. Eike tem 66% % da OSX que, ao final do processo, não será mais nada.
Esse caso praticamente se repete em MMX. Ela tem 55% das ações nas mãos de Eike e, desde que vendeu o Porto Sudeste para a trading Trafigura e o fundo soberano Mubadala, também passou a ser uma espécie de casca. A MMX, controlada por Eike, mantém 35% de participação no porto, mas negocia neste momento a venda para os sócios. O pedido de recuperação judicial da MMX Sudeste já pode estar relacionado a esse processo. Isso porque os compradores do porto não queriam ser contaminados pelos problemas que o empresário enfrenta na Justiça e com credores.
Em entrevista recente ao Valor, Eike afirmou que as fatias que detém das empresas são dos credores, por conta de avais na pessoa física que deu no passado às operações. Ele desejava esperar as companhias amadurecerem para que suas ações se valorizassem e conseguisse pagar os credores e ficar com algum dinheiro. Mas como suas fatias nas empresas estão se reduzindo ou sumindo, o tempo pode não estar do lado dele, que deverá ter cada vez menos probabilidade de ganho com os negócios.
Enfraquecido, Eike tentará negociar acordos que permitam a ele sair com algum dinheiro nessas negociações. A CCX, que reúne minas de carvão, pode ser usada nas negociações. No momento agudo que viveu ano passado, ele teve algum êxito ao manter pedaços relevantes dos seus negócios. Existem algumas estimativas de mercado que indicam que Eike, por conta de garantias pessoas que dava a seus negócios, chegou a dever mais de R$ 30 bilhões e hoje seu débito é de cerca de 10% disso.
Hoje na bolsa, as ações de suas companhias são negociadas a centavos. Somando o valor de mercado de todas, alcançam pouco mais de R$ 1,5 bilhão. As duas que valem mais são aquelas que não possuem pendengas judiciais e possuem sócios internacionais à frente dos negócios. A Prumo, que vale R$ 906 milhões, e a Eneva, com R$ 470 milhões. (Colaborou Francisco Goes)
Fonte: Valor Econômico/Ana Paula Ragazzi | Do Rio