As parcerias entre universidades e institutos de pesquisa e mineradoras estão em franco crescimento no Brasil. O foco das empresas é trabalhar novas soluções de redução de custos com energia, aumento de automação de processos e mitigação de impactos ambientais. Cada vez mais a indústria se vê pressionada pela licença social, ou seja, não basta apenas explorar o recurso natural, mas se preocupar com a comunidade local.
"A indústria é dependente da licença social e isso envolve lidar com água, energia, rejeitos, efluentes, preservação ambiental, cultural e social", afirma Virginia Ciminelli, professora titular do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFMG e coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia: Recursos Minerais, Água e Biodiversidade.
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Entre as pesquisas que acompanha mais de perto, ela cita um projeto que envolve consumo mais eficiente de energia. Para produzir zinco, cobre ou níquel de alta pureza, é preciso usar alta intensidade de energia nas etapas de fabricação. No projeto, analisam-se os processos e como trazer maior eficiência.
"Isso traria competência para o Brasil, uma ideia que está dentro do contexto de conhecimento e inovação, que é um foco essencial", afirma. Outro projeto usa diversas técnicas analíticas para estudar as partículas emitidas pela indústria de mineração na atmosfera. Assim se podem ver sua composição, a estrutura e a toxicidade. "Quem gera? O solo? A mina? Esse é um mapeamento bem amplo que pode dar várias respostas."
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, que tem um contrato de parceria assinado com a Vale, as mineradoras estão buscando soluções para reduzir o consumo de energia e para reduzir os impactos da atividade sobre o meio ambiente. Um projeto se refere ao estudo dos solos minerais para identificar a biodiversidade e poder mitigar futuros impactos. "No solo, há bactéricas e microorganismos que podem evitar rejeitos futuros", diz.
A Fapesp ainda mantém acordo de parceria Conselhos de Pesquisa do Reino Unido (RCUK). Um projeto se refere ao estudo de terras raras. Outro busca investigar o origens de jazidas de minérios no fundo do oceano Atlântico. Em algumas áreas oceânicas, em profundidades que podem atingir 5 mil metros, é possível encontrar diversos tipos de depósitos de metais. Os mais comuns são nódulos de manganês, com diâmetro entre 10 e 20 centímetros, distribuídos no assoalho oceânico, sobre o sedimento marinho, compostos por manganês, ferro, cobre, níquel e cobalto. Um consórcio internacional integrado por cientistas de universidades conceituadas e instituições de pesquisa do Brasil e do Reino Unido pretende desvendar, nos próximos cinco anos, como esses depósitos polimetálicos foram formados no oceano Atlântico, há milhões de anos, e quais condições favoreceram o surgimento e crescimento, entre outras questões.
Recentemente, a Vale fechou uma parceria com o grupo de pesquisa NAP Mineração, liderado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para desenvolver um projeto focado na otimização do processo de gestão e planejamento da operação de lavras da companhia. "A ênfase é na automação da mina do futuro, que terá cada vez mais controles remotos e a maior conexão entre planejamento e operação", afirma Giorgio Di Tomi, professor do Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da Poli, e diretor do NAP Mineração, formado pela Poli, que o coordena, e por pesquisadores do Instituto de Geociências e do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas.
A ideia nasceu há quatro anos a partir de uma chamada de projetos da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) e foi aplicada em lavras na mina de Sossego, na província mineral de Carajás (PA). Na operação de uma mina, existem dificuldades para que sua operação cumpra o determinado pelo planejamento. Além de chuvas, ventos, que podem atrasar o trabalho de exploração, há outras questões.
Fonte: Valor Econômico/Por Roberto Rockmann | Para o Valor, de São Paulo