As empresas americanas estão proibidas de vender componentes para a chinesa ZTE por sete anos, anunciou ontem o Departamento de Comércio dos EUA. A medida ilustra mais um caso de retaliação de governo contra empresa na disputa comercial entre EUA e China
A ZTE, maior fabricante de equipamentos de telecomunicação chinesa, é acusada de descumprir um acordo com autoridades dos EUA num caso de violação de sanções contra Irã e Coreia do Norte.
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A ação dos EUA pode ter graves consequências para a ZTE, já que as companhias americanas fornecem de 25% a 30% dos componentes usados nos seus produtos, incluindo smartphones e equipamentos de rede de telecomunicações.
A medida eleva a tensão econômica entre Washington e Pequim, em meio a ameaças mútuas de impor sobretaxas no valor US$ 150 bilhões no comércio bilateral.
Funcionários do Departamento do Comércio disseram que a medida contra a ZTE não tem relação com a disputa comercial com a China. Disseram que as violações da ZTE começaram a ser investigadas no governo Obama. Mas especialistas em comércio veem a medida como parte do crescente sentimento anti-China não só nos EUA, mas também do Reino Unido, Alemanha, Austrália e Canadá.
Ontem, o Reino Unido proibiu companhias britânicas de fazerem negócios com a ZTE, citando preocupações com segurança nacional.
Segundo o Departamento do Comércio, a ZTE descumpriu acordo firmado em 2017 para encerrar uma ação no qual foi acusada de vender ilegalmente equipamentos - com componentes dos EUA - para Irã e Coreia do Norte. No acordo, a ZTE se declarou culpada das acusações de violação e pagou uma multa de US$ 1,2 bilhão. Mas investigadores disseram que a empresa mentiu sobre a implementação de ações disciplinares contra funcionários envolvidos no esquema e também durante as negociações com as autoridades americanas.
"Esse comportamento escandaloso não pode ser ignorado", disse o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, em nota.
Em meio ao ambiente cada vez mais adverso, Pequim também parece estar mirando empresas americanas, ao atrasar a revisão de um acordo de bilhões de dólares de aquisição envolvendo as americana Qualcomm e Bain Capital.
O atraso na aprovação pelo órgão regulador chinês pode acabar anulando a compra da firma de semicondutores holandesa NXP pela Qualcomm. O negócio de US$ 44 bilhões é considerado crítico para o futuro da Qualcomm.
A China é o único país que ainda não aprovou o acordo Qualcomm-NXP, assim como a venda da unidade de chips da Toshiba para um consórcio liderado pela Bain Capital, um negócio de US$ 19 bilhões. A China tem de aprovar esses acordos, assim como fizeram outros vários países onde as companhias envolvidas possuem forte atuação.
Para analistas, é pouco provável que a aprovação desses acordos avance em meio a crescente ameaça de guerra comercial.
"O processo de revisão [pelo governo chinês] basicamente está parado por causa da tensão comercial", disse um executivo da Toshiba. "Tínhamos medo disso."
Bloquear esses acordos seria uma moeda de troca que a China pode usar para evitar que os EUA prossigam com seus planos de impor sobretaxas em até US$ 150 bilhões em produtos chineses.
Fonte: Valor