Com a compra da Transportadora Associada de Gás (TAG), o grupo francês Engie se prepara para estrear no mercado brasileiro de gás natural a partir deste ano. O presidente da companhia no Brasil, Maurício Bähr, afirma que o foco, neste momento, é concluir o negócio com a Petrobras, mas que a empresa está atenta a novos investimentos no setor de gás.
“O que queremos é ajudar a desenvolver esse mercado de gás, que tem um potencial enorme no Brasil. O pré-sal tem muito gás associado e a infraestrutura de gás ainda é pequena no país. Há um espaço muito grande, na medida em que a Petrobras está dando espaço para que novos agentes entrem no mercado. Vai ser uma coisa natural esse desenvolvimento”, disse ao Valor.
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A previsão da Engie é concluir a compra da TAG em maio e, em seguida, concentrar os esforços na integração do ativo. Para além do setor de transporte de gás, a companhia, no entanto, também mira oportunidades na distribuição de gás canalizado, importação de gás natural liquefeito (GNL), geração de energia a gás, produção de biogás e estocagem.
A empresa possui um projeto licenciado de uma usina de 600 megawatts em Joinville (SC) e estuda cadastrar o empreendimento nos leilões de energia nova. Além disso, a Engie negocia uma parceria com a Golar Power para construção de um terminal de GNL no litoral catarinense, que abasteceria não só a termelétrica, mas o mercado de gás do Sul como um todo.
Bähr disse, ainda, que a empresa está atenta às discussões sobre o novo marco regulatório do gás e que espera que as mudanças tragam “equilíbrio e atratividade para investidores”. A Agência Nacional de Petróleo (ANP), por exemplo, já se posicionou favorável a uma mudança estrutural no setor, por meio de medidas de desverticalização para forçar a redução da presença da Petrobras no mercado, incluindo a distribuição.
O executivo lembra que a empresa tem se mantido ativa na aquisição de ativos no Brasil, nos últimos anos, e que também mira oportunidades de negócios em outros setores, para além do gás. Ele cita a compra, em 2018, da catarinense Sadenco, que atua na operação de redes de iluminação pública na Região Sul.
“Dentro da área de serviços e soluções, estamos vislumbrando para o curto prazo as PPPs [parcerias público privadas] de iluminação pública, das concorrências em Teresina [PI], Rio de Janeiro, Guarulhos [SP] e Porto Alegre [RS]”, disse.
Segundo o executivo, com a compra da TAG, a participação do Brasil nos resultados do grupo francês pode chegar a até 20%. “Hoje contribuímos [Brasil] com alguma coisa perto de 15% do resultado do grupo mundial, sem a TAG”, disse Bähr.
A Engie, em parceria com o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ), apresentou a melhor proposta pela aquisição de 90% da TAG, no valor de US$ 8,6 bilhões. Com a transação, a matriz da Engie na França assumirá 29,5% da transportadora, a Engie Brasil Energia (EBE) ficará com 29,5%, o CDPQ com 31,5%, e Petrobras com 10%.
A operação terá 70% de seu valor financiado por um grupo de bancos locais e estrangeiros. Os 30% restantes serão investidos com capital próprio. O financiamento é todo baseado na receita da própria TAG. A Engie assume uma empresa com receitas líquidas de R$ 4,9 bilhões e Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 4,7 bilhões, segundo o balanço da companhia de 2018. A transportadora é proprietária de uma malha de gasodutos de 4,5 mil quilômetros de extensão, no Nordeste e Norte do país.
Bähr acrescentou que a operação traz longevidade para as atividades do grupo no Brasil. “Cada vez que fazemos um movimento dessa natureza, estamos ganhando longevidade das nossas atividades no país, uma receita previsível para os próximos anos e criando ótimas perspectivas”, disse Bähr , citando que um conjunto importante de concessões hidrelétricas da companhia vence em 2028.
Para a Petrobras, o negócio representa uma importante fonte de caixa, para a estratégia de redução da alavancagem da empresa. O UBS estima que a venda da TAG possa garantir uma redução de 10% na dívida líquida da estatal, para cerca de R$ 261 bilhões. Com a TAG, um dos maiores desinvestimentos da história da Petrobras, a estatal já totaliza US$ 9,25 bilhões em venda de ativos este ano, na gestão de Roberto Castello Branco.
Todos os negócios já estavam em andamento desde a administração de Pedro Parente. A expectativa, no entanto, é que a Petrobras intensifique seus desinvestimentos na gestão Castello Branco. Em março, ele afirmou que os desinvestimentos da Petrobras poderão atingir entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões em 12 meses.
Fonte: Valor