Nova onda de recursos asiáticos é impulsionada por empresas do governo, principalmente nos setores de siderurgia e mineração
Hu Jintao inicia visita ao Brasil com grupo de empresários; na opinião de especialista, investimento chinês vai se consolidar em vários setores
A onda de investimentos que empurra a segunda visita do presidente Hu Jintao ao Brasil está mudando o perfil da presença chinesa no país. Mesmo se nem todos os projetos previstos saírem do papel, a participação de estatais no setor de mineração dá um caráter mais estratégico e deixa em segundo plano o capital privado, até há pouco predominante.
No mês passado, a estatal ECE anunciou a compra da mineradora Itaminas, instalada na região metropolitana de Belo Horizonte, por US$ 1,2 bilhão. O negócio faz com que os chineses passem a controlar uma jazida de 1,3 bilhão de toneladas de minério de ferro.
Segundo comunicado da empresa, a compra teve o aval da poderosa Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o principal organismo de planejamento do país,
Trata-se do maior investimento chinês feito no Brasil até agora, mas esse marco pode ser quebrado em breve, caso prossiga a parceria entre o gigante grupo de siderurgia Wisco, também de controle estatal, com a MMX, de Eike Batista.
No final do ano passado, a Wisco firmou um acordo para comprar 21,52% da MMX, um negócio de US$ 400 milhões. As duas empresas negociam ainda a construção de uma siderúrgica no Estado do Rio. O projeto, orçado em cerca de US$ 4,7 bilhões, prevê 70% de capital da estatal chinesa.
Ambos os projetos demonstram a preocupação do Estado chinês em assegurar o fornecimento de minério -o país asiático é o maior produtor mundial de aço e considera o setor uma peça estratégica para manter seu ritmo de expansão.
Antes dos avanços no setor de mineração, a presença chinesa era menor e de capital majoritariamente privado, com destaque para a Huawei, principal fabricante da área de telecomunicações da China. No país desde 1999, tem mais de mil funcionários e atua principalmente no mercado de banda larga fixa e móvel. A empresa, porém, não tem fábricas, apenas escritórios .
Rodrigo Maciel, especialista em China da consultoria Strategus, diz que os investimentos estatais em mineração fizeram com que o país asiático aparecesse pela primeira vez na lista dos dez maiores investidores do Banco Central. Antes, afirma, o investimento chinês era ínfimo, com uma média anual em torno de US$ 60 milhões.
Para Maciel, os novos empreendimentos representam o início do investimento chinês de forma estratégica. Ele acredita que a presença chinesa não se restringirá ao capital estatal e à mineração. "É uma mudança significativa, a consolidação de um projeto. As decisões demoram na China, mas o período de análise e de estudo para investir no Brasil passou."
Fonte: Folha de S.Paulo/FABIANO MAISONNAVE/DE PEQUIM
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