O acelerado derretimento das calotas polares e das geleiras de montanhas é a causa por trás da elevação de 16,8 milímetros no nível do mar ao redor do mundo entre 2005 e 2011, de acordo com um estudo divulgado ontem pela publicação científica britânica "Nature Geoscience".
Os resultados são consistentes com as tendências de longo prazo já notadas, mas o estudo abrange apenas alguns anos de observações, o que limita suas conclusões, disseram os cientistas. Financiado pela Fundação Nacional da Ciência, dos EUA, e pela Nasa, a agência espacial americana, o estudo resolve discrepâncias de longa data que surgiram com diferentes métodos de medição do nível do mar.
Os cientistas querem definir quanto da variação do nível do mar reflete o aumento do nível da água provocado pelo degelo e quanto está relacionado à expansão térmica dos oceanos. Cálculos anteriores indicavam que o derretimento pode contribuir com cerca de metade desse aumento. O estudo recente conclui que entre o período de 2005 a 2011, essa contribuição foi próxima de 75%.
"Houve um aumento na taxa de derretimento da Groenlândia a partir de 2005 e isso é provavelmente o que está por trás da razão" para uma grande quantidade de água de degelo ter sido vertida nos oceanos nos últimos anos, afirmou Clark R. Wilson, geofísico da Universidade do Texas em Austin e um dos autores do estudo.
Os dados das últimas duas décadas sugerem que o nível do mar subiu 3,1 milímetros por ano. Observações num prazo mais curto - como o aumento do nível do mar em 2,4 milímetros por ano conforme apontado no estudo mais recente - podem ficar um pouco abaixo ou acima dessa média.
Os cientistas calculam a variação no nível do mar em geral usando um radar de satélite que mede a altura da superfície dos oceanos. Como alternativa, eles podem incluir dois componentes calculados separadamente - o aumento da massa de água de degelo e outras fontes e o aumento da expansão térmica do oceano. Para medir a expansão térmica dos oceanos, as informações são coletadas do Projeto Argo, que consiste em cerca de 3.500 dispositivos similares a torpedos que se movimentam rapidamente ao redor do oceano medindo sua temperatura e salinidade.
Ao mesmo tempo, a missão Grace, da Nasa, que se baseia no uso de satélites, mede o campo de gravidade - a variação da distribuição de massa - em torno da superfície da Terra. A água e o ar se movimentam de mês a mês, alterando a distribuição da massa. Ao medir essas mudanças, a missão Grace pode obter o dado de quanta massa de água está sendo adicionada aos oceanos a cada ano.
No entanto, os dados gerais do aumento do nível do mar obtidos pelos radares de satélite não estão de acordo com os dados do Projeto Argo e da missão Grace. A discrepância foi significativa.
Isso se deu porque os dados obtidos pela missão Grace próximo da fronteira entre o oceano e a terra não foram bem-interpretados, disse Wilson. Os dados do oceano são "contaminados" por sinais muito mais fortes da parte terrestre, seja pela neve, por águas subterrâneas ou outros fatores.
Wilson e seus colegas voltaram a analisar os dados da missão Grace para reduzir "o vazamento de sinais terrestres nos dados do oceano". Eles concluíram que o degelo foi responsável pela elevação de cerca de 1,8 milímetro por ano no nível do mar, para uma alta total de 2,4 milímetros por ano - o que reconcilia as duas medições.
"Estimativas anteriores da massa de água pela missão Grace eram cerca de metade das que nós obtivemos" depois que fizemos os ajustes necessários, disse Wilson.
Jonathan Bamber, um glaciologista da Universidade de Bristol, no Reino Unido, que não participou do estudo, diz que as descobertas "nos dão confiança em todo tipo de dados" que são usados para avaliar a variação do nível do mar.
Fonte: Valor
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