Com montantes a receber em atraso e contratos paralisados, os fabricantes de máquinas e equipamentos que fornecem para o setor de petróleo e gás estão se articulando para buscar uma solução em conjunto. O conselho de óleo e gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) realizou, na tarde de quarta-feira, uma reunião com empresas do setor para discutir a situação. Pelo menos 60 companhias de vários portes - desde gigantes como WEG e Siemens até as menores Metroval e AZ Armaturen -, ficaram por cerca de quatro horas a portas fechadas com as presidências do conselho e a executiva da Abimaq para direcionar as queixas.
Segundo o Valor apurou, a entidade solicitou uma reunião com a presidente da Petrobras, Graça Foster, para buscar soluções junto com a estatal, e o retorno foi positivo. O encontro deve acontecer na primeira semana de fevereiro e deixou o setor otimista sobre o interesse da estatal em resolver as questões de pagamentos dos fornecedores junto com o setor. A maior parte dos atrasos não é responsabilidade da Petrobras, mas de empresas contratadas pela estatal para grandes obras, que não estão pagando seus fornecedores.
De acordo com o presidente do conselho, César Prata, os problemas atingem tanto empresas pequenas quanto multinacionais e os montantes a receber, por fornecedor, vão de R$ 80 mil a R$ 30 milhões. Até agora, foi identificado que as dificuldades se concentram principalmente em contratos relacionados às obras da Usina de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III), do Comperj e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest).
Uma das medidas definidas na reunião foi realizar o mapeamento dos contratos em atraso. Os associados se comprometeram a informar a Abimaq sobre as suas situações de seus contratos e valores não recebidos.
Algumas empresas já entregaram equipamentos e ainda não receberam, outras estão com a parte ou o total da produção pronta, estocada, sem ter efetuado a entrega. A maior parte dos contratos com problemas é com as EPCistas, contratadas para realizar as obras e que compram máquinas e equipamentos. Dentre as devedoras, estão as empresas citadas na Operação Lava-Jato, algumas das quais enfrentam problemas financeiros.
No caso das empresas menores, já são relatados cortes de pessoal. Nos bastidores, é comum ouvir empresários perguntarem, em tom sério, uns aos outros: "E aí, já pediu recuperação judicial?".
Mas as preocupações do setor não se restringem aos valores a receber, se estendem à atuação da estatal daqui para frente. Os empresários estão apreensivos por conta de sinalizações da Petrobras de que pode recorrer a empresas estrangeiras para substituir as empreiteiras nacionais bloqueadas de fazer negócios com a empresa.
"Eu fiz meus investimentos baseado nos planos de investimento da Petrobras", disse Paolo Fiorletta, diretor de Óleo e Gás da Metroval, empresa fornecedora de medidores, que tem R$ 3 milhões para receber de contratadas da Petrobras por venda de equipamentos. No ano passado, a Metroval atingiu R$ 75 milhões de faturamento.
A AZ Armaturen, fabricante de válvulas, tem R$ 2 milhões, entre máquinas entregues e estocadas, de um contrato de fornecimento para a Alumini (ex-Alusa), que teve seu pedido de recuperação judicial deferido. Além disso, a empresa tem R$ 1 milhão para receber da TKK Engenharia.
A Fetterolf do Brasil, fabricante de válvulas, reduziu de 150 para 60 o número de funcionários, por conta de falta de pagamentos e paralisação dos contratos. A empresa tem R$ 4 milhões, ou 14% do seu faturamento anual, para receber por vendas feitas para a Alumini e para a Coeg (Conduto Egesa).
Até mesmo a Ecosan, do setor de saneamento, prestadora de serviços, está enfrentando dificuldades com contratos. Empresas fornecedoras da Petrobras devem R$ 3,8 milhões para a Ecosan, o equivalente a quase 10% do faturamento da companhia em 2014.
A SKF no Brasil diz que não tem valores em atraso para receber, mas confirma que quatro projetos com a Petrobras, que somam R$ 2 milhões, estavam para ser fechados no ano passado e foram adiados. Segundo o gerente de Petróleo e Gás, Petroquímica e Energias Não Renováveis, Ronaldo Farinhas, a empresa está confiante de que os projetos devem sair neste ano.
De acordo com a Abimaq, o faturamento da indústria fornecedora de máquinas e equipamentos para petróleo e gás no Brasil foi de cerca de R$ 8 bilhões em 2014. As empresas de petróleo, diz Prata, presidente do conselho, investem cerca de R$ 100 bilhões por ano no país, dos quais 30% são máquinas. "A participação nacional poderia ser mais do que dobrada, o que reverteria o processo de desindustrialização em curso", diz.
Procuradas, WEG, Siemens, AZ Armaturen, Fetterolf e Ecosan não se pronunciaram. A Petrobras também não se manifestou. Coeg e TKK Engenharia não foram encontradas.
Victória Mantoan | De São Paulo
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