A Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) lançou no sábado um documento com propostas que poderiam ser adotadas para a retomada após a quarentena imposta em algumas cidades e estados do país para conter o surto de coronavírus.
O documento circula pelo meio empresarial neste domingo, enquanto várias carreatas ocorrem pelo país pedindo a reabertura.
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Em São Paulo, as atividades consideradas não essenciais, como o comércio, estão suspensas pelo menos até 10 de maio. A indústria paulista não foi paralisada pelo governador João Doria.
A expectativa é de que a doença vá derrubar a economia brasileira e global. O FMI (Fundo Monetário Internacional) chamou o quadro de “Grande Paralisação” prevendo queda de 5,3% no PIB brasileiro e de 3% globalmente.
No documento, chamado de Plano de retomada da atividade econômica após a quarentena, a entidade pede a “retomada gradual da atividade econômica o mais breve possível, respeitados os requisitos de saúde pública e controle da epidemia”.
O texto foi proposto pelo Conselho Superior Diálogo pelo Brasil, uma espécie de conselhão criado pela Fiesp para o presidente Jair Bolsonaro. O órgão conta com 36 empresários e segue os mesmo moldes do conselhão do ex-presidente Lula.
Bolsonaro é crítico às quarentenas impostas por governadores e prefeitos e diariamente apoia a retomada das atividades.
Pela proposta da Fiesp, entre o início da reabertura e o funcionamento total das atividades se passariam 45 dias.
Enquanto isso, a adesão ao isolamento social em São Paulo está em 49%, quando o considerado ideal para conter a pandemia é de 70% —60% é visto como aceitável.
A entidade propõe um horário de funcionamento alternado das atividades, para evitar superlotação no transporte público. Diz, no entanto, que cada empresário sabe de suas necessidades e poderia estabelecer o horário mais conveniente.
A Fiesp afirma que o documento é baseado em experiência internacional.
Não há um padrão mundial para lidar com a quarentena e tampouco para a retomada, que ainda é incipiente mesmo nos países tidos como exemplos no controle da doença, caso da Alemanha e da Coreia do Sul.
Alguns países adotaram nacionalmente regras mais duras, como bloqueio total de atividades e restrição de circulação para ida ao supermercado, farmácias, hospitais ou trabalho de profissionais dessas categorias. Foi o caso de países europeus após o colapso do sistema de saúde no norte da Itália.
Outros permitiram regras mais flexíveis, com decisões regionais, como nos Estados Unidos. O Japão resistiu em adotar quarentena e distanciamento social, mas precisou criar regras após uma disparada no número de doentes pelo novo coronavírus.
Em locais em que há quarentena, escolas, creches, museus e parques foram fechados, além do comércio.
A Fiesp apresenta sugestões de reabertura também para essas áreas.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), citada no documento da Fiesp, só é possível reduzir a quarentena com segurança quando o país tem capacidade de testar a maior parte da população para a doença. No Brasil não há sequer uma estimativa de quantos exames para identificação da Covid-19 foram aplicados.
Na Coreia do Sul, país em que as atividades foram retomadas, há testagem em massa da população e pessoas diagnosticadas são mandadas para isolamento domiciliar e monitoradas por GPS.
Para a reabertura da economia, a OMS também aponta que o sistema de saúde precisa ter capacidade de atendimento do doentes.
No Brasil, o atendimento público já colapsou em Fortaleza e em Manaus. Em São Paulo, a taxa de ocupação das UTIs estava perto da ocupação total na sexta-feira (17).
O país contava 36,9 mil casos confirmados de Covid-19 e 2.372 mortes até a tarde de sábado, o dado mais recente do Ministério da Saúde.
O texto da Fiesp insiste que, mesmo com a retomada, o distanciamento social deve persistir.
Pessoas que saem às ruas e trabalham deveriam usar máscaras e ser submetidas a medição de temperatura, por exemplo.
Mas uma das dificuldades de contenção do coronavírus é que muitas pessoas são assintomáticas ou só manifestam sintomas da doença, como febre, dias depois. No entanto, elas transmitem o vírus mesmo quando não têm sintomas.
Fonte: Folha