Os mais de 20 km da Avenida Paralela, principal ligação entre o aeroporto e o centro de Salvador, ainda estão tomados por cartazes alusivos ao recém-acabado Carnaval da cidade. A cada três pôsteres, um tem a logomarca da Petrobras, cujo ex-presidente, o economista baiano José Sérgio Gabrielli, volta à terra natal após mais de uma década. Fundador do PT no Estado e com pretensões políticas ousadas, ele terá em breve o desafio de se fazer tão conhecido quanto a petrolífera que patrocina a folia.
Para isso, vai ter que assumir um comportamento que adotou pela última vez em 1990, quando foi o candidato petista ao governo baiano. Já naquela ocasião, Gabrielli era um militante mais íntimo da cozinha do partido, afeito a análises de conjuntura e coordenação de campanhas, como a de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1994. As campanhas eleitorais tinham como objetivo maior projetar o PT. "Ele jamais articulou ou pleiteou aquela candidatura. Foi candidato por causa das circunstâncias", relembra o também economista Rui Costa, amigo, ex-aluno de Gabrielli e hoje titular da Casa Civil baiana.
Aparentemente adepto do termo "missão dada, missão cumprida", o ex-presidente da Petrobras declarou-se "um soldado do governador Jaques Wagner", ao aceitar recentemente o convite para integrar o seu secretariado. Sua função poderá ser definida amanhã, quando Wagner vai comandar uma reunião de remanejamento da equipe. Gabrielli já deverá participar deste encontro. A ideia, segundo o governador, é que o ex-executivo ajude a escolher a Pasta na qual poderá contribuir de forma mais consistente.
Apesar do peso de seu nome, Gabrielli terá o desempenho político e administrativo testado por Jaques Wagner antes de ser escolhido como candidato para a sucessão do governador, em 2014. Daí a importância de se encontrar uma função que dê a devida projeção ao trabalho do novo e ilustre secretário, o que ainda não aconteceu. Dentro do governo, ninguém se atreve a palpitar em que cadeira Gabrielli irá sentar.
"Sua vinda deve-se à missão de ajudar o governo e também para que fique mais conhecido do público que elege os representantes. Ele não vem com esse objetivo [de ser candidato a governador], mas tem simpatia pela postulação", afirma o deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), que ocupou diversos cargos na Petrobras e é tido como um dos principais aliados de Gabrielli na Bahia.
Em 2009, o parlamentar, então assessor da presidência da estatal, foi acusado por adversários políticos de beneficiar prefeituras petistas na distribuição das verbas de patrocínio das festividades de São João, bastante populares no interior baiano. Rosemberg nega.
De toda forma, o apoio financeiro a festas populares ajuda a reforçar ainda mais o prestígio da empresa na Bahia. Decisiva na criação e no desenvolvimento do polo petroquímico de Camaçari, a Petrobras tem uma marca da qual Gabrielli poderá se beneficiar politicamente. "Ele terá a seu favor essa coisa do executivo bem sucedido, do baiano que não esqueceu de sua terra", avalia o cientista político Joviniano Neto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O papel da petrolífera em solo baiano vai bastante além da área cultural. Além da refinaria Landulpho Alves, que processa todos os dias 350 mil barris de óleo, a estatal está investindo R$ 1,3 bilhão em um terminal de regaseificação na Baía de Todos os Santos e algo em torno de R$ 2 bilhões em novas usinas termelétricas movidas a gás, segundo informou o secretário estadual de Indústria, Comércio e Mineração, James Correia.
Segundo ele, a presença de Gabrielli no governo baiano vai ajudar muito na atração de novos investimentos. "Ele goza de grande aceitação entre os empresários e também entre a classe política que fica em Brasília", disse Correia. Questionado sobre o plano para alçar Gabrielli ao Palácio Ondina, sede do governo baiano, o secretário desconversou. "Ele voltou [para a Bahia] para tomar cachaça e comer comida de boteco com amigos, professores e ex-alunos, que é o que ele gosta de fazer".
Mesmo ciente de que a chegada de Gabrielli iria, fatalmente, antecipar o debate sobre a sua sucessão, Jaques Wagner não pretende tocar no assunto, segundo ele próprio, até junho de 2013. Com a popularidade elevada e praticamente sem oposição, o governador sabe que é grande a chance de eleger com tranquilidade o sucessor. Como a fila de pretendentes não é pequena, prefere o silêncio para não gerar desconfortos.
Além de Gabrielli, considerado favorito, estão no páreo os prefeitos de Camaçari, Luiz Caetano, e de Lauro de Freitas, Moema Gramacho. Também concorrem o senador Walter Pinheiro e Rui Costa, da Casa Civil, este último amigo e fiel escudeiro de Jaques Wagner, e considerado a principal "ameaça" à candidatura do ex-presidente da Petrobras ao governo baiano.
Em seu gabinete, Rui Costa conta que a vida política chegou de surpresa, no dia em que palpitou, sem ser convidado, em uma tensa negociação entre patrões e operários do polo de Camaçari, onde trabalhava. Terceiro deputado federal mais votado da Bahia em 2010, foi tirado de Brasília para coordenar o governo de Wagner como espécie de gerente de projetos. Garante, no entanto, que a cadeira do chefe não lhe faz brilhar os olhos.
Costa foi aluno de José Sergio Gabrielli na UFBA, onde o professor de macroeconomia tinha fama de carrasco. O secretário conta que, à época, um grupo de alunos organizou um abaixo-assinado pleiteando, em vão, outro professor para a disciplina. "Obviamente, eu não assinei", saiu-se o petista.
Fonte: Valor Econômico/Por Murillo Camarotto | De Salvador
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