Grandes empresas ligadas à indústria de base e à infraestrutura começam a despertar para uma prática que ganhou força nos países industrializados: considerar os gastos com manutenção de ativos não como centro de custo, mas como ferramenta de apoio para a melhoria de resultados. No Brasil, a manutenção ainda é vista como custo, abordagem que precisa mudar, na visão da Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos (Abraman).
"É importante entender que investir em manutenção aumenta o faturamento", diz João Ricardo Lafraia, presidente da Abraman. A entidade faz pesquisa sobre a situação da manutenção no Brasil. Na última edição, o trabalho mostrou que os gastos com manutenção de empresas da indústria de base e infraestrutura chegaram a R$ 145 bilhões em 2011. O cálculo considera que, em média, as empresas investiram 3,95% do faturamento bruto em manutenção no ano passado. São empresas com grandes ativos em setores como prestação de serviços, transporte e portos, metalurgia e siderurgia, energia elétrica e indústria automotiva.
O percentual aplicado em manutenção caiu em relação ao faturamento bruto em série histórica feita pela entidade desde 1995, mas o valor absoluto, em reais, aumentou. "Está se investindo mais em técnicas preventivas para aumentar a produção e evitar paradas não programadas", diz Lafraia. Na semana que vem, a Abraman realiza, no Rio, o 27º Congresso Brasileiro de Manutenção com a participação de especialistas estrangeiros.
Um bom exemplo do que está acontecendo no Brasil nessa área é a AES Tietê, geradora com parque dez usinas hidrelétricas com capacidade de 2.663 megawatts (MW) de potência instalada. A empresa aderiu à filosofia da gestão de ativos em 2010 e já começou a colher resultados, segundo Ítalo Freitas Filho, diretor de operações e manutenção da AES Tietê. A empresa reduziu a chamada taxa de saída forçada, indicador que mede a parada não programada de máquinas em operação, em 80,6% em três anos. Em 2009, essa taxa era de 1,24%, percentual que caiu para 0,24% no ano passado. A taxa corresponde às paradas forçadas (medidas em horas) das usinas da AES Tietê no período de um ano.
Freitas diz que a gestão de ativos é algo novo no Brasil. E cresce a cada dia o interesse das grandes empresas no assunto. "Essa é a próxima coqueluche em gestão em empresas baseadas em ativos", diz Freitas.
A AES Tietê passou a fazer uma análise crítica de cada ativo na geração de energia com foco não só na manutenção, mas em diferentes aspectos que vão desde a compra do equipamento até o fim do ciclo da vida do bem. Na gestão de ativos, a empresa passou a trabalhar considerando critérios como confiabilidade do equipamento, facilidade de manutenção, suporte, nível de segurança e eficiência de custos. O próximo passo da AES Tietê é conseguir até dezembro a certificação PAS 55, padrão internacional de melhores práticas em gestão de ativos.
Lafraia, da Abraman, diz que em 2013 a pesquisa da entidade sobre manutenção vai incluir perguntas sobre como as empresas estão enxergando a gestão de ativos. Uma das questões é como a manutenção pode contribuir para a melhoria de resultados operacionais e financeiros, caso do Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Fonte: Valor
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