A estratégia de diversificação geográfica e o real mais desvalorizado ajudam o grupo Gerdau num momento em que a economia dos EUA mostra sinais de vitalidade e o Brasil atravessa uma recessão. A empresa tem uma forte presença nos EUA, onde o setor de construção não residencial e o automotivo vão bem, ao mesmo tempo em que as exportações voltaram a ter impulso, com a moeda brasileira num nível mais competitivo. Cerca de metade do faturamento da companhia é em dólar.
"Nós vemos com muito bons olhos a retomada na América do Norte", disse na sexta-feira o presidente da empresa, André Gerdau Johannpeter. Ele enfatizou as perspectivas favoráveis para o setor de construção não residencial nos EUA, que inclui edificações comerciais, escritórios e shoppings, moradias de cinco ou mais andares, hospitais e escolas.
"Os números são muito bons", resumiu Gerdau. Nos 12 meses até abril, o investimento nessa área nos EUA cresceu 14,5%. "E isso representa 60% da nossa atividade nos EUA", completou o vice-presidente de finanças e controladoria, André Pires de Oliveira Dias. Gerdau lembrou ainda que as vendas de veículos sobem com força no país. Eles falaram ao Valor na Bolsa de Nova York, no Gerdau Day, antes de fazerem uma apresentação para 100 analistas e investidores.
Dias ressaltou que o dólar mais forte frente ao real é positivo para a Gerdau, dada sua operação expressiva nos EUA e pelo efeito favorável sobre exportações. "Mesmo que a fotografia de um determinado momento do dólar alto seja a dívida subindo, de outro lado o nosso ativo aqui na América do Norte está se valorizando", disse Dias, lembrando que os ativos em dólar superam os débitos. O endividamento da empresa subiu com a alta da moeda americana porque cerca de 75% das dívidas são denominadas em dólares.
Segundo ele, o faturamento das operações nos EUA responde por cerca de 40% do total do grupo. "Quando se adiciona exportações do Brasil, chega a 50% ou um pouco mais de faturamento em dólar", afirmou. "E com esse dólar mais alto, mesmo com preços internacionais relativamente baixos, é possível exportar com rentabilidade, o que não ocorria fazia tempo."
Gerdau, por sua vez, afirmou que a desvalorização do real ajudou a empresa, mas ainda não é suficiente. Para ele, o real precisaria estar mais depreciado, para a indústria ficar mais competitiva. "Ao se comparar, o Brasil ainda está caro em relação a outros países."
Ao falar da situação da economia brasileira, o presidente do grupo afirmou que 2015 deve ser um ano de ajuste forte, acreditando que a recuperação tende a ficar provavelmente para 2016. Para ele, ajuste fiscal e monetário em curso é necessário, mas os reflexos são duros para o país. E saudou como "positivo" o programa de concessões de infraestrutura lançado na semana passada. "Para nós, todo esse pacote está relacionado a consumo de aço".
Os executivos também destacaram a estratégia do grupo para reduzir custos. Segundo Gerdau, a empresa suspendeu contratos (layoff), fez demissões e concedeu férias coletivas, medidas mais relacionadas às ações tomadas no fim do ano passado, de paralisação de aciarias no Paraná e na Bahia. As duas estão paradas, "aguardando o momento para voltar", disse Gerdau, observando que a empresa levou parte dessa produção para a usina de Ouro Branco, em Minas Gerais.
"Tivemos uma queda de 7% nas despesas gerais e administrativas no primeiro trimestre", afirmou Gerdau. "Tudo isso é parte de um ajuste da empresa neste momento, de sobrecapacidade, de queda no crescimento do consumo de aço, em que o Brasil, a nossa principal operação, está com menos demanda." No primeiro trimestre, a receita líquida da empresa caiu 1%, para R$ 10,4 bilhões, enquanto o lucro encolheu quase 40%, para R$ 267 milhões.
Para o analista-chefe do setor de siderurgia na América Latina do Santander, Felipe Reis, a informação de que a empresa faz uma revisão do portfólio de ativos foi um dos pontos de maior destaque da apresentação. Ele considera uma novidade positiva, que envolve a análise das métricas de rentabilidade de cada ativo.
Esse processo poderá levar à decisão de vender alguns ativos, acredita ele, embora os executivos da empresa não tenham afirmado isso na reunião. "Eles não falaram sobre isso, mas a minha percepção como analista é de que nada está descartado", afirmou Reis.
Com recomendação de compra para ações da empresa, Reis também destacou o fato de a empresa enfatizar o processo de redução de capital de giro - os executivos usam o termo "otimização". A decisão de ser seletivo nos gastos de capital também é bem-vinda num cenário complicado como o atual, de excesso de oferta de aço e economia fraca no Brasil, afirmou o analista. A empresa planeja investir R$ 1,9 bilhão neste ano, abaixo dos R$ 2,3 bilhões do ano passado.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Lamucci | De Nova York
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