José Sergio Gabrielli afasta com um argumento burocrático a interpretação de que saiu da presidência da Petrobras para que a presidente Dilma Rousseff tivesse maior controle sobre a companhia, por meio da indicação de uma amiga pessoal, Graça Foster.
"O governo sempre teve e sempre terá o controle sobre a Petrobras, porque é majoritário no Conselho que decide as políticas da companhia", afirmou Gabrielli ontem em Davos, cidade suíça em que é uma das raras autoridades brasileiras presente ao encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
Ele reforçou o argumento lembrando que os projetos da empresa já estão aprovados até 2014, o que significa que a nova presidente só executará uma programação já decidida -e aprovada, obviamente, pelo governo Dilma.
CAPITALISMO DE ESTADO
A tese de Gabrielli, exposta a jornalistas brasileiros, acabou encontrando eco pouco depois na voz de Lorenzo Mendoza, executivo-chefe do grupo Polar, um dos principais da Venezuela e que se encontra em permanente confronto com o governo Hugo Chávez.
Mendoza aproveitou discussão sobre a emergência do chamado capitalismo de Estado para apontar os riscos do modelo, pensando em seu próprio país, em que há mais Estado que capitalismo.
Depois de ouvir a Petrobras ser citada como bom exemplo de capitalismo de Estado, Lorenzo Mendoza afirmou: "Ninguém tem a menor dúvida de que o governo do Brasil tem a última palavra sobre a companhia".
Gabrielli contou que sua saída da Petrobras já havia sido definida há um ano e meio, ainda no governo Lula, portanto, para que voltasse à Bahia. Mas o que, exatamente, vai fazer no governo baiano ainda não está definido, segundo ele próprio. Como é natural, Gabrielli nega que será candidato ao governo em 2014, outra eventual explicação para a troca de comando na Petrobras.
Como 2014 está muito longe, a Folha disse a Gabrielli que as explicações que estava dando para a saída não colavam. Ele adicionou então mais um argumento.
"Sou o presidente mais longevo da Petrobras", afirmou, lembrando que faz seis anos e nove meses que comanda a principal empresa brasileira.
Era tempo, portanto, conforme contou depois em um debate sobre a América Latina, de trocar a atividade empresarial pela política.
Fonte: Valor Econômico/CLÓVIS ROSSI/ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
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