O desempenho das 15 maiores exportadoras brasileiras de manufaturados piorou no ano passado. O déficit saltou de US$ 456 milhões em 2013 para US$ 1,84 bilhão no ano passado, puxado principalmente pelas montadoras de automóveis que, dentro desse universo, totalizam nove empresas.
Os 15 maiores exportadores representam um quinto do valor total exportado em bens manufaturados acabados. Dentro desse grupo, dez pioraram o resultado comercial, porque reduziram superávit ou aprofundaram o saldo negativo.
No conjunto, a deterioração aconteceu porque a exportação total caiu em ritmo mais acelerado que a importação. Embraer, Ford, Volkswagen, Estaleiro Brasa, Fiat, Toyota, Estaleiro Brasfels, Scania, General Motors, WEG, Mercedes-Benz, Renault, Volvo, Pirelli e Tupy exportaram juntas, no ano passado, US$ 15,7 bilhões, com queda de 17,8% em relação ao que as mesmas empresas embarcaram em 2013. A importação caiu 10,3% e totalizou US$ 17,5 bilhões. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento.
Os cálculos levaram em conta a classificação dos maiores exportadores em 2014 e empresas que embarcam produtos com maior grau de transformação industrial. Não foram considerados para essa classificação, por exemplo, exportações de açúcar refinado, etanol e suco de laranja. Segundo estimativas da Associação de Comércio Exterior (AEB), nesse critério, os embarques de manufaturados representaram no ano passado cerca de US$ 70 bilhões.
Para José Augusto de Castro, presidente da AEB, a queda de exportação das grandes indústrias é um reflexo da rápida resposta ao decepcionante cenário do mercado internacional, com a recuperação frustrada dos países europeus e com um parceiro importante - a Argentina - em crise. Ao mesmo tempo, diz ele, o processo de desvalorização do real frente ao dólar em 2014 não foi suficiente para frear mais a importação, ou dar à produção doméstica o necessário ganho de competitividade.
Castro destaca que, no ano passado, a exportação total do Brasil chegou a US$ 225,1 bilhões, valor US$ 16,9 bilhões inferior ao de 2013. A lista dos produtos que contribuíram com as maiores quedas de embarques mostra que alguns manufaturados tiveram participação importante, apesar de uma pauta de exportação predominantemente de produtos mais básicos.
Segundo levantamento da AEB, do lado dos produtos mais primários, o minério de ferro teve queda de US$ 6,67 bilhões nos embarques, na comparação com o ano anterior. A exportação de açúcar caiu US$ 2,38 bilhões. Do lado dos manufaturados, as plataformas de petróleo sofreram redução de US$ 5,75 bilhões e os automóveis caíram US$ 2,29 bilhões.
Olhar o desempenho em relação aos principais mercados também ajuda a entender o quadro. Ainda segundo dados da AEB, as exportações para a União Europeia caíram US$ 5,73 bilhões e, para a Argentina, US$ 5,3 bilhões. Para a China, grande consumidora dos básicos brasileiros, a queda foi de US$ 5,4 bilhões.
A queda na Argentina, diz Castro, é particularmente importante para o exportador brasileiro, já que os manufaturados são 90% do que se embarca para o país vizinho. Dentro dos 15 maiores exportadores, o déficit comercial dos nove fabricantes de veículos cresceu de US$ 4,37 bilhões em 2013 para US$ 5,9 bilhões no ano passado.
Para Castro, um melhor desempenho da balança comercial total exige uma reação dos manufaturados. A expectativa é que a recuperação americana se mantenha, da mesma forma que a desvalorização cambial. A reação dos manufaturados, porém, ainda deve demorar, diz, porque essa exportação tem contratos com prazos maiores e é preciso que o exportador ganhe confiança em relação à política cambial e econômica.
Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados, diz que a consultoria mantém estimativa de déficit de US$ 5 bilhões na balança total do país ao fim de 2015. Em relação aos manufaturados, ele avalia que, provavelmente, haverá saldo negativo menor que o de 2014. Para ele, porém, haverá nova redução de exportação este ano. A diferença em relação ao ano passado, avalia, é que a redução nas importações virá num ritmo maior.
Vários fatores deverão resultar em decréscimo de importações neste ano. Para Bistafa, haverá o efeito da desaceleração da economia conjugada com a desvalorização do real, que torna as importações menos atrativas. Ele também acredita que um câmbio mais depreciado pode propiciar substituição de importações, embora de forma mais marginal.
A recuperação dos embarques de manufaturados, porém, depende ainda, segundo o economista, de fatores externos, como a demanda internacional, e de questões domésticas, como o eventual racionamento de energia, que afetaria não só o exportador, mas toda a produção industrial.
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe | De São Paulo
PUBLICIDADE