O Índice Geral de Preços -10 (IGP-10), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgado na sexta-feira, trouxe impacto do corte nas tarifas de energia residencial, em vigor desde 24 de janeiro. A redução tirou 0,3 ponto percentual do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que compõe o IGP-10, segundo cálculos do economista Fabio Romão, da LCA Consultores. Puxado pelos preços no atacado, o IGP-10 recuou de 0,42% para 0,29% entre janeiro e fevereiro, enquanto o IPC-10 ficou praticamente estável ao passar de 0,76% para 0,74%.
O grupo habitação, no entanto, exerceu forte influência de baixa sobre a inflação no varejo, com queda de 0,93%, após alta de 0,27% na medição anterior. O principal ponto de alívio veio do item energia elétrica, com peso de 3,2% no IPC da FGV, que caiu 10,65% em fevereiro, ante leve recuo de 0,01% na leitura do mês passado.
Romão estima que, no IPC que compõe o IGP-M, a deflação de energia atingirá seu piso e chegará a 13%, o que também irá tirar 0,3 ponto do índice ao consumidor e será o principal vetor de desaceleração da inflação ao varejo no fechamento do mês, ao lado da perda de fôlego esperada para o grupo educação, leitura e recreação. Entre o IPC-10 de janeiro e o de fevereiro, essa classe de despesa subiu um ponto percentual, de 1,60% para 2,64%. Ao contrário da metologia usada para apurar o IPCA, a FGV computa os reajustes de mensalidades escolares pelo regime de competência, ou seja, assim que os aumentos ocorrem, e não somente quando a cobrança chega ao consumidor. Assim, em fevereiro, as altas de mensalidades já saíram do IPC da FGV, enquanto começam a aparecer no IPCA.
No IGP-10, um dos destaques de alta foi o minério de ferro no atacado, que passou de 1,13% em janeiro para 2,53% em fevereiro. A alta dos preços do minério irá continuar nas próximas leituras dos IGPs, dado que a inflação no atacado ainda não incorporou totalmente o aumento das cotações no mercado spot, diz Flávio Serrano, economista do BES Investimento.
Esse movimento, no entanto, não deve ser grande fonte de pressão no varejo. O repasse do aumento da commodity para a cadeia industrial é limitado, segundo Serrano, porque a importação do aço controla os preços internos. Além disso, essa transmissão costuma ser lenta pelas cadeias. "O impacto mais relevante sobre o varejo virá da descompressão de alimentos", avalia o economista do BES.
Commodities afetadas no ano passado pela estiagem nos Estados Unidos, milho e soja cederam 3% e 13,3% na leitura atual do IGP-10, respectivamente, variação que Serrano aponta como piso para esses dois produtos. Como reflexo da trajetória de descompressão no atacado, projeta Serrano, os alimentos também irão perder fôlego no varejo. No IPC-10, o grupo alimentação avançou de 1,54% para 2,06% na passagem mensal.
Fonte: Valor / Arícia Martins
PUBLICIDADE