Um incêndio na noite de sábado (4) na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras, interrompeu a produção de coque, um subproduto do petróleo similar a uma pedra de carvão, utilizado principalmente por indústrias de alumínio, siderúrgicas, ferro-ligas e cimento, entre outras.
Antes de ser vendido a indústrias, o coque gera gasolina, GLP (gás de cozinha) e óleo diesel. Com a parada da unidade, poderá haver redução de produção desses derivados, avalia o coordenador do Sindipetro Duque de Caxias, sindicato dos petroleiros da região onde a Reduc está instalada, Simão Zanardi Filho .
De acordo com o coordenador do sindicato, o incêndio —que se segue a uma série de outros acidentes em refinarias da empresa nos últimos meses— é reflexo da soma de falta de manutenção com o uso acima da capacidade da unidade.
"Em agosto mandaram subir de 5 mil para 6 mil metros cúbicos a produção de coque para aumentar a produção de derivados, isso é um aumento de 20%, acima da capacidade do projeto da unidade", informou.
Este é o sexto acidente sem vítimas fatais em uma refinaria da estatal nos últimos dois meses. A Petrobras vem operando perto da capacidade máxima, para reduzir a necessidade de importação de derivados, principal motivo para a redução do lucro da companhia e sua perda de valor de mercado.
Com capacidade de produção de de 240 mil barris/dia de petróleo, mais de 10% da capacidade de refino do país, a Reduc está entre as quatro maiores da Petrobras e destaca-se por sua posição estratégica, abastecendo boa parte da região Sudeste com gasolina, diesel e outros derivados. A unidade supre ainda empresas petroquímicas e fabrica lubrificantes.
Se a Reduc ficar muito tempo sem operar, é provável que a Petrobras terá de ampliar importações de combustíveis e petróleo bruto -fator que levou o país ao seu pior desempenho da balança comercial em 13 anos.
A Petrobras divulgou o incêndio e a parada da unidade, mas não soube informar as consequências e nem confirmou se houve ordem de aumento de produção de coque. Disse, em nota, que uma comissão irá investigar a causa do acidente.
A empresa afirmou que o incidente ficou restrito a um "equipamento específico" da unidade. Não houve também nenhum dano ambiental, segundo a nota da Petrobras.
A estimativa do Sindipetro Duque de Caxias é de que a Petrobras perca R$ 500 mil por dia com a parada da unidade.
Outros sindicatos de petroleiros dizem que a estatal não realiza as manutenções no tempo necessário para não ter de reduzir a produção. Afirmam também que o mesmo vem ocorrendo em plataformas, como a P-20, no campo de Marlim, na bacia de Campos, cuja produção foi interrompida por um incêndio, no dia 26 de dezembro.
O retorno da plataforma à operação deve levar alguns meses.
"A estimativa mais conservadora fala que a P-20 só voltará em quatro ou cinco meses", disse o diretor da FUP (Federação Única do Petroleiros) José Maria Rangel, também representante dos empregados no Conselho de Administração da estatal.
Hoje, a FUP se reúne para discutir os acidentes da empresa, que já haviam gerado uma reunião extraordinária do Conselho de Administração no último dia 20. Naquela data, não foi tomada nenhuma decisão, segundo Rangel.
Sofreram acidentes não fatais nas últimas duas semanas as refinarias de Amazonas, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
A Reduc é a refinaria mais completa da Petrobras, e produz 50 produtos além do coque, gasolina, lubrificantes, óleo diesel, querosene de aviação, GLP (gás de cozinha), bunker (combustível de navios) e nafta petroquímica.
Fonte:Folha de São Paulo/DENISE LUNA DO RIO
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