É preciso mais de uma hora para percorrer de automóvel os 40 km da estrada congestionada e cheia de buracos que liga Nova Déli à Zona Econômica Especial (ZEE) de Noida. Do lado de dentro dos portões, há uma Índia diferente. Uma via suave de quatro faixas conecta as unidades de eletrônica, engenharia e têxtil. Um gerador garante que o fornecimento de energia elétrica não sofrerá interrupções. O sistema telefônico é de primeira. "É o tipo de lugar em que uma pessoa pensa em fazer negócios", afirma Vishnu Pal Singh, cuja Optic Electronic India, sediada em Noida, vende dispositivos de visão noturna para rifles e tanques para a Alemanha e a Polônia.
A Índia conta com empreendedores como Singh para revitalizar um sistema em que foi pioneira há 45 anos: usar enclaves que os impostos são mais baixos, há menos burocracia e rodovias e serviços públicos melhores, para hospedar companhias que queiram aumentar suas exportações. A Índia tentou usar essas zonas nas décadas de 60 e 70. Mas os locais foram mal escolhidos e os incentivos às companhias para se mudarem para eles foram inadequados, de modo que apenas umas poucas zonas foram abertas. A China adotou o modelo na década de 80 com resultados espetaculares. A ex-vila de pescadores de Shenzhen tornou-se uma zona especial que se transformou em um dos maiores centros exportadores do mundo.
Agora, a Índia está criando essas zonas enquanto o premiê Manmohan Singh tenta aumentar a presença do setor industrial na economia do país de 17% para 22%. "Melhorar a infraestrutura no país inteiro levará muito tempo. Portanto, se você quiser promover o setor industrial, é preciso criar mais ilhas de excelência, que é o que são essas ZEEs", afirma Dharmakirti Joshi, principal economista da Crisil, uma unidade indiana da Standard & Poor's em Mumbai.
Os investimentos nas zonas especiais poderão dobrar, para cerca de 3 trilhões de rúpias (US$ 66,2 bilhões) até 2012, segundo o Ministério do Comércio da Índia. As exportações das ZEEs mais que dobraram no ano fiscal de 2009-10, para 2,2 trilhões de rúpias, um quarto das exportações da Índia.
Cerca de 100 zonas já operam no país - 478 outras foram aprovadas. As áreas patrocinadas pelo governo reduzem a burocracia ao usarem apenas um único departamento para conceder as autorizações, certificando que as exigências ambientais, de exportação e outras foram cumpridas. As empresas que operam nessas zonas têm isenções fiscais por 15 anos e não precisam pagar impostos locais sobre produtos industrializados ou impostos alfandegários.
Espalhada por mais de 1,254 milhão de metros quadrados, as fileiras de prédios brancos de dois andares da zona de Noida estão cheias de trabalhadores carregando e descarregando caminhões com tubos de aço, cimento, equipamentos elétricos e outros materiais destinados a novas fábricas. A zona tem sua própria usina geradora de energia, rede de transporte de ônibus, correio, bancos e terminais automáticos de bancos. As melhorias propostas incluem um segundo gerador e uma rodovia de seis faixas até Nova Déli. Singh, da Optic Electronics, investiu 100 milhões de rúpias para começar sua fábrica na zona e pretenda ampliá-la. "Posso fazer melhores negócios aqui, uma vez que há isenção das leis locais", afirma ele.
As empresas que ajudam a construir a zona também são beneficiadas. As ações da Adani Power, que ajudou a desenvolver a Mundra Port & Special Economic Zone, que com 64 milhões de metros quadrados é uma das maiores da Índia em área, valorizaram 40% este ano, contra apenas 13% do índice da Bolsa de Valores de Mumbai.
Como o governo apenas recentemente passou a levar a sério a criação dessas zonas, a Índia ainda está bem atrás da China. "A diferença entre as zonas econômicas especiais indianas e chinesas é de escala", afirma Rajesh Mohan, que ensina economia no Instituto Indiano de Comércio Exterior de Nova Déli. Uma das zonas especiais de maior sucesso da Índia, a Santa Cruz Electronics Export Processing Zone, cobre 405 mil metros quadrados. A maior zona especial da China em área é a de Hainan, uma ilha no sul do país, espalhada por 33,9 milhões de metros quadrados. A zona de Shenzhen inclui muitas das fábricas de eletrônicos da Foxconn, de Taiwan, que emprega 430 mil chineses no local. Juntas, todas as zonas especiais da Índia empregam 500 mil pessoas.
A dificuldade política de se conseguir comprar terrenos de bom tamanho também atrasa o desenvolvimento das zonas especiais na Índia, segundo afirma N.R. Bhanumurthy, economista do Instituto Nacional de Finanças e Políticas Públicas de Nova Déli: "Se o governo não resolver esse problema, a Índia terá dificuldades para igualar a destreza industrial da China". O governo está apoiando uma aquisição de terras que poderá ser discutida no Congresso em breve.
Fonte: Valor Economico//Tushar Dhara | Bloomberg Businessweek
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