A indústria brasileira do aço está ampliando sua produção e afirma ter capacidade para abastecer o mercado nacional diante da retomada da demanda, afirma Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil. Com aceleração da retomada da produção, o setor revisou sua estimativa para 2020.
Em abril, no pior momento da pandemia, a estimativa era encerrar o ano uma retração de 18,8% no volume produzido, com 26,4 milhões de toneladas, na comparação com 2019. Este mês, a previsão foi revisada para -6,4%, para 30,4 milhões de toneladas.
PUBLICIDADE
— Começamos 2020 com 63% de capacidade utilizados. Pela característica da atividade, deveríamos operar acima de 80% para trazer resultados. Em abril, no pior momento, chegamos a 42%. Agora, já voltamos a 63% e devemos terminar o ano entre 70% e 75%. Estamos vivendo uma recuperação vigorosa e rápida — disse.
O executivo explicou que o repique na demanda vem principalmente da construção civil. E frisou que não há risco de alta de preços ou falta de aço no mercado do país, reforçou:
— Houve comentários no sentido da indústria retardar o religamento de alto-fornos pelo setor de construção. E que o incremento exponencial nas exportações levaria a um enxugamento da oferta no mercado nacional e a alta expressiva do preço do aço. Isso não procede. Está se querendo fabricar uma crise que não existe.
Marco Polo participou de encontro com o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, que visitou na manhã desta quinta-feira a usina da Gerdau em Araçariguama, em São Paulo. Juntos, eles falaram com jornalistas com transmissão ao vivo pela internet.
O secretário afirmou que o Brasil experimenta uma retomada na economia “sem igual no mundo”, reconheceu haver gargalos para equalizar o ritmo de diversas cadeias produtivas da indústria, mas está confiante na retomada do emprego, mesmo com a retirada das medidas de auxílio emergenciais.
— É um momento de alegria, pelo lado de geração de emprego, de retorno das atividades e crescimento vigoroso da nossa economia — disse o secretário.
— A previsão do setor era de queda de 20% no aço este ano. O que estamos vendo nas últimas semanas é uma surpresa grata para praticamente o Brasil inteiro. É um ano pujante para a indústria como não vemos há muitos anos no Brasil. É um retorno em V maiúsculo.
Esta semana, o IBGE divulgou uma taxa de desemprego recorde no país no trimestre encerrado em julho, de 13,8% ou 13,1 milhão de pessoas. Ao todo, faltou trabalho para 32,9 milhões de brasileiros no período.
Em agosto, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil teve saldo de 249.388 vagas formais, melhor resultado para o mês desde agosto de 2010. O dado, contudo, não pode ser comparado com o do IBGE porque considera apenas registros administrativos de empresas e postos com carteira no mês.
Alta no preço dos insumos
O comentário de Costa vem em meio a queixas de diversas áreas do setor produtivo num cenário de aumento do custo de matérias-primas e insumos de forma ampla, sobretudo daqueles precificados em dólar, passando pelo reajuste das commodities no mercado internacional.
Como houve uma interrupção da cadeia produtiva concentrada em abril, há um processo mais lento e gradual até reequilibrar os diversos elos do processo em produção, insumos e distribuição. O momento atual é de recomposição de estoques, sublinhou Costa.
— O urso acordou. E ele acorda morrendo de fome, depois de um tempo sem comer, magrinho. Ainda está fragilizado, então não é rápido como antes (de hibernar). Como come muito mais no início do que em situações normais, precisa repor energias e voltar a engordar — comparou o secretário.
— Está acontecendo isso no varejo, no atacado, nos distribuidores. O Brasil acordou com fome, mas está fragilizado. Até os estoques se preencherem novamente, infelizmente, teremos escassez de alguns produtos e preços mais altos, principalmente na ponta.
Ele reconhece que em alguns setores a retomada vai demorar mais, como em serviços, eventos e hotelaria, que demandam deslocamento físico até o local de consumo.
Mas criticou a decisão de governos de estados e municípios que mantiveram medidas de restrição a atividades do comércio na reabertura da economia, o que funcionaria como uma trava ao crescimento.
Carlos da Costa cita as medidas adotadas pelo governo como fundamentais para que a indústria tenha chegado até aqui pronta para responder com agilidade ao que chamou de “chicotão” na demanda.
— Há um efeito chicote. Começa a vender muito na ponta e o varejista tem de recompor o que vendeu e os estoques. Faz pedidos maiores do que o que está vendendo. E a indústria tem gargalos para atender isso. O elo mais apertado de uma cadeia determina a produção total. Estamos trabalhando para que o retorno não seja atabalhoado — disse.
Ele garantiu que não vai deixar o governo para assumir um cargo no Banco Mundial como foi noticiado na última semana.
Sem intervenção no mercado
No segmento do aço, ele reconhece o efeito da alta do minério de ferro, que saltou perto de 80% em 12 meses. É positivo do lado da exportação, mas ruim para quem importa, diz ele, destacando que é preciso respeitar os ciclos dos mercados.
— Se está faltando produtos em algumas regiões e essa escassez já está diminuindo, tentar controlar preço é a pior coisa. Ou teríamos o vergalhão mais caro do mundo e sem entrega. Temos de ter paciência. Não dá para fazer mágica. Se as cadeias de distribuição estão vazias, leva um tempo para preencher. Nesse momento, os preços estarão mais altos.
O tombo e o salto na demanda em sequência num mesmo ano, diz Costa, nunca aconteceu com a magnitude vista agora, o que explica a grande flutuação na cadeia de produção.
Para destacar a retomada “mais rápida do que esperava”, o secretário citou o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Brasil, apurado pela IHS Markit, que chegou a 64,7 em agosto, após bater 58,7 em julho. Acima de 50, o índice aponta crescimento industrial.
O relatório fala na retomada em produção e demanda, mas alerta para a pressão sobre os ganhos devido à alta de preço dos insumos, tanto pelo câmbio quanto pela escassez de materiais.
— Hoje, estamos vivendo o período com o qual sonhamos: o Brasil crescendo, gerando emprego. Milhares de pessoas sendo contratadas sustentam a demanda, sustentam as compras. A indústria de máquinas e equipamentos já está praticamente igual a 2019.
Marcos Faraco, vice-presidente da Gerdau Aços Brasil, Argentina e Uruguai, que assumiu a presidência do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil no último dia 22 de setembro, disse que sua companhia experimenta crescimento:
— Vemos retomada do crescimento, recuperação do atraso (em resultado da parada em meio à pandemia) e reposição de estoques. Temos estoque médio para 25 a 30 dias. Em julho baixou para 7 dias. Agora está na ordem de 15. Entre outubro e novembro, retomaremos a média de 25 a 30 dias. E estaremos vivendo a recuperação.
O setor siderúrgico no país está preparado para atender a demanda de aço em meio à uma retomada consistente da economia, afirmou Carlos da Costa, secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, após visita a usina da Gerdau em Araçariguama, em São Paulo, na manhã desta quinta-feira.
Fonte: O Globo