Expectativas menos desfavoráveis sobre produção e emprego nos próximos três meses levaram ao aumento de 2,4% na prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI), da FGV, em outubro, para 67,6 pontos, feito o ajuste sazonal. Em setembro, o índice fechado caiu 2,9% ante o mês anterior. A projeção puxou o resultado preliminar do Índice de Expectativas (IE), que subiu 7,2% em outubro, ante setembro.
A leve melhora na confiança na indústria ocorre em meio a outros sinais positivos e sugere que o fundo do poço para o setor pode estar próximo. A sondagem mensal da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou a primeira queda dos estoques do setor industrial do ano, registrada em setembro, além do crescimento do otimismo com relação às vendas externas e a elevação da intenção do investimento, a primeira alta em 2015.
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Para a FGV, no entanto, o aumento na confiança, não implica otimismo dos empresários, apenas pessimismo menor. O sentimento decorre da possibilidade de um movimento mais forte de substituição de importações, devido à alta do dólar, disse o superintendente-adjunto de ciclos econômicos do Ibre-FGV, Aloisio Campelo Junior.
A valorização do dólar ajudou a tornar as expectativas do empresariado quanto à produção menos negativas. Acredita-se que a moeda americana deve permanecer no atual nível por algum tempo, por causa do cenário macroeconômico. Isso deve dar tempo para que o setor não somente aproveite a oportunidade para ganhar mercado interno, mas também eleve o ritmo de exportações, afirmou o especialista.
Essa avaliação do setor é perceptível ao se observar a trajetória dos resultados preliminares de confiança e expectativas por categorias de uso da indústria da transformação. Segundo Campelo, houve melhora nas expectativas de bens de capital e de bens intermediários.
No caso das expectativas menos desfavoráveis para o emprego, Campelo comentou que o setor industrial já promove demissões e "layoffs" há bastante tempo. O que pode ter ocorrido no resultado preliminar em outubro, avalia, é uma percepção das empresas de que as demissões devem continuar, mas em ritmo menos intenso que em meses anteriores. "Não estamos saindo do cenário negativo. Temos, na prévia, proporção maior de empresas querendo demitir do que contratar. Mas essa parcela de companhias dispostas a demitir diminuiu em relação ao mês passado", disse o economista.
Para Campelo, o dólar em alta é uma vantagem, mas a indústria brasileira ainda é muito focada no mercado interno. "Há, por outro lado, um fator negativo do dólar em elevação, pois muitas empresas têm dívida nessa moeda, e não sabemos como elas vão lidar com isso em seus balanços. Acho que o aumento na prévia do indicador é uma boa notícia. Mas, não é certo que teremos um momento de virada."
Outro aspecto mencionado pelo técnico foi a atual profundidade da queda na confiança industrial. Para Campelo, o aumento sinalizado na prévia pode se converter em uma alta, no fechamento do mês, a ser divulgado no dia 28. Entretanto seria uma elevação apenas depois de várias quedas fortes, que conduziram o índice no mês passado ao menor patamar (66 pontos) da série histórica, iniciada em abril de 1995. "Mesmo com a elevação, o indicador ainda estaria bem abaixo de cem pontos", notou ele, lembrando que a marca de cem pontos divide pessimismo e otimismo.
O técnico frisou também que a trajetória das expectativas na confiança industrial é bastante volátil. Ou seja: é incerto se esse patamar de expectativas menos negativas irá se manter até o fim do ano, com impacto positivo na confiança da indústria.
Para o especialista, somente um aumento sustentável na demanda interna, impulsionada por melhora no consumo das famílias e nos indicadores de mercado de trabalho, poderia conduzir uma reversão da confiança industrial para o campo do otimismo, em comparação ao quadro de "diminuição de pessimismo" observado atualmente, avalia. (Colaborou Ana Conceição, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico/Alessandra Saraiva | Do Rio