Em meio ao prolongado cenário de recessão, paralisação da produção e redução no consumo, a taxa de investimento na economia brasileira registrou o pior desempenho em pelo menos 20 anos. O resultado de 16,4% do PIB registrado em 2016 foi o menor da série histórica, iniciada em 1996 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já são 11 trimestres consecutivos de retração na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB). Embora o ritmo de queda tenha desacelerado no quarto trimestre, quando o recuo de 5,4% ante o mesmo trimestre de 2015 foi o mais brando registrado nesse período de perdas, uma futura retomada esbarra no alto nível de capacidade ociosa. “Continua com taxas negativas, mas quedas menores”, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
PUBLICIDADE
A esperança de retomada dos investimentos reside no projeto de concessões públicas prometido pelo governo, na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “É a única possibilidade. O impulso aos investimentos não vai sair de setores em que a capacidade ociosa está tão elevada. Seria conveniente que o arranjo financeiro e contratual que essas operações vão demandar já estivessem prontos, porque o efeito na economia demora a acontecer”, alertou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.
O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria foi de 74,3% em fevereiro, enquanto o do setor de serviços ficou em 82,1% no mesmo mês, segundo sondagem do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). A alta ociosidade é reflexo da retração na atividade. O PIB industrial encolheu 3,8% em 2016, enquanto o PIB de serviços diminuiu 2,7%.
“Nossa crise é interna, inclusive política. O grande ponto de interrogação é como essa crise política vai se desdobrar e se vai abalar a confiança dos agentes daqui em diante, já que foi a grande responsável pelo mico dos investimentos nos últimos dois anos”, avaliou o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Para José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o tombo nos investimentos a partir do segundo trimestre de 2014 foi o fator que detonou a recessão. “É como se fosse um avião que perde sustentação. De repente, desaba.”
Por trás desse colapso esteve o fato de que, no início daquele ano, a taxa real de retorno do capital ficou negativa, ou seja, abaixo da inflação, afirmou Oreiro. Isso ocorreu porque houve “esmagamento do lucro” das empresas, provocado por custos em alta (destaque para salários) e impossibilidade de repassá-los (por causa do câmbio favorável às importações).
Entre os componentes do PIB, a maioria teve perdas menores no último trimestre de 2016 ante o mesmo período do ano anterior. Isso não indica, porém, que a recuperação é certa, alertou Rebeca Palis. Juros, inflação e a expectativa dos consumidores são determinantes, mas “o mercado de trabalho é fundamental na equação”, declarou.
“Olhando para trás, é terra arrasada. Mas, olhando para a frente, tem novidades, principalmente o arrefecimento da inflação, que vai ajudar a partir do segundo semestre, e planta um cenário positivo para os juros. O que está faltando para a economia recuperar é o emprego mesmo”, corroborou Bentes, da CNC.
Fonte: Estadão