A mina de minério de ferro de Kaunisvaara, nas proximidades, tinha acabado de começar a produzir. Os Nilssons criaram novos espaços para reuniões no hotel e reformaram a boate. "Queríamos dar um grande hotel aos moradores e às pessoas trabalhando nas minas", diz Nilsson, que tem 28 anos e administra o hotel. "Foi por isso que compramos, vimos um futuro nisso."
Mas o preço do minério de ferro despencou no ano passado e, com ele, as perspectivas do Hotel Lapland River. Em outubro, a dona da mina, a Northland Resources, suspendeu as operações. Dois meses depois, entrou com um pedido de recuperação judicial.
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"Acho que perdemos 75% do movimento", diz Nilsson. "Na época, pensamos que isso era inconcebível. Mas a maior parte simplesmente desapareceu do dia para a noite."
Anos de alta nos preços das commodities alimentaram um boom mundial de investimentos por parte de empresas que exploram recursos naturais - e de muitas outras, pequenas e grandes, que dependem delas. A baixa atual dos preços tem sido devastadora.
A mina e suas prestadoras de serviços empregavam cerca de 700 pessoas numa cidade de 6 mil habitantes, diz Andreas Lind, governador interino do Condado de Norrbotten, onde fica o município. A Northland não quis comentar.
Pajala não está sozinha. O mercado de commodities, do petróleo ao carvão ao açúcar, sofreu um golpe em 2014, quando os preços de muitas delas caíram para seus níveis mínimos em vários anos. Isso afetou inclusive fornecedores bem maiores que o Hotel Lapland River: a siderúrgica americana U.S. Steel Corp., por exemplo, declarou na semana passada que vai desativar uma fábrica no Estado de Ohio que faz tubos de aço para a indústria do petróleo e demitir 600 empregados.
Níveis elevados de produção ajudaram a empurrar os preços das commodities para baixo e analistas acreditam que eles ficarão assim: os estoques continuam altos e algumas empresas continuam produzindo.
Na China, por exemplo, os estoques de trigo atingiram 63 milhões de toneladas no fim do ano, comparado com 46 milhões em 2008, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O país asiático também aumentou seu estoque de petróleo em 87 milhões de barris em 2014, segundo Amrita Sen, analista da consultoria Energy Aspects.
"A oferta vem superando a demanda não porque a demanda tenha sido particularmente fraca, mas porque há muita oferta", diz Stephen Briggs, analista do BNP Paribas SA. "Não parece que isso vai mudar tão cedo."
O caso do cobre é ilustrativo. Tendo sido o metal de pior desempenho no ano passado, ele perdeu 14% do valor em meio a quatro anos seguidos de oferta em excesso. Ainda assim, a oferta continua sendo alimentada por novas minas, como a de Sierra Grande, inaugurada em outubro no Chile. A mina Constancia, que deve começar a operar em 2016 no Peru, vai se juntar a elas.
No mercado de açúcar, quatro anos consecutivos de oferta global em excesso fizeram os preços do produto cair em 2014 a seus níveis mais baixos em anos. "Em outubro, os preços estavam caindo, mas o mercado acreditou que estávamos perto do fundo do poço. Em vez disso, o mercado viu uma breve alta e, então, o colapso", diz Matt Bradbard, que administra US$ 300 milhões na RCM Asset Management, uma gestora de Chicago.
Mas, apesar do preço extremamente baixo, alguns produtores de açúcar estão ampliando a capacidade - resultado de investimentos de capital planejados anos atrás. A iraquiana Etihad Sugar Co. está construindo uma refinaria em Bagdá com capacidade para 900 mil toneladas anuais que deve entrar em operação neste ano.
Muitos produtores de commodities estão em dificuldades. Alguns estão enxugando as operações. Jerzy Podsiadlo, presidente do conselho da polonesa Weglokoks SA - uma das maiores exportadoras de carvão duro da Europa - diz que a empresa estima ter exportado 2,6 milhões de toneladas a menos em 2014 do que no ano anterior, uma queda de quase 33%. "É óbvio que ninguém na Polônia está satisfeito com os preços baixos atuais do carvão", diz Podsiadlo. Na quinta-feira, o governo polonês afirmou que fecharia quatro minas estatais, apesar dos protestos dos sindicatos.
A mineradora australiana Fortescue Metal Group Ltd. planejava investir US$ 1,3 bilhão no ano fiscal de 2015. Em novembro, ela cortou o valor pela metade. "Adiamos alguns investimentos porque sentimos que não era prudente expandir a produção com os preços de hoje", disse Nev Power, o diretor-presidente, em entrevista ao The Wall Street Journal. A Austrália é um dos maiores fornecedores de minério de ferro do mundo. Os preços do produto caíram 50% no ano passado.
Ivan Glasenberg, diretor-presidente da Glencore PLC, a gigante da mineração, criticou recentemente suas concorrentes por continuarem a investir e aumentar a produção de minério de ferro, apesar da queda de preços. Falando num evento para investidores em dezembro, ele disse que a "a má alocação de capital, não a falta de demanda, continua sendo o principal problema do setor".
(Fonte: Valor Econômico/Georgi Kantchev, Ese Erheriene e Neena Rai | The Wall Street Journal/Colaboraram Sarah Kent e Patryk Wasilewski)