A participação do grupo de logística JSL na disputa pela ponte Rio-Niterói, na semana passada, não foi o movimento de quem está apenas tentando ocupar o espaço deixado por empresas tradicionais em concessões e que enfrentam dificuldades por seu envolvimento na Operação Lava-Jato. Faz parte da estratégia bem definida de expansão de uma empresa que nasceu há 59 anos com um caminhão Ford F8 transportando produtos agrícolas de Mogi das Cruzes (SP) para o Rio de Janeiro e que atingiu receita bruta de R$ 6 bilhões em 2014. Em faturamento, o grupo cresce, em média, 27% ao ano, desde 2001.
A JSL não venceu na sua estreia. Com deságio de 21,4%, perdeu para a vencedora EcoRodovias (36,67%), mas ficou em linha com propostas de grupos bem mais experientes como Triunfo (25,73%) e Infra Bertin (20,13%). O deságio reflete a preocupação do grupo com o equilíbrio financeiro nos seus negócios. Um certo conservadorismo herdado do fundador, o português Julio Simões, e mantido pelo filho Fernando Simões, no comando da companhia desde 2001. A história recente das concessões no país tem vários exemplos de grupos vitoriosos com ofertas agressivas e que atrasaram ou não conseguiram atender as exigências previstas na licitação.
"Tenho o respaldo do conselho de administração para investir, mas desde que esse investimento não comprometa o equilíbrio econômico-financeiro da companhia", afirma Simões. "Somos uma empresa de serviços e entendemos que as concessões são prestação de serviço. Entrar nesse segmento é um passo natural para nossos negócios. O que é a ponte? Prestação de serviço. É isso que sabemos fazer", completa.
No radar do grupo entram as rodovias, portos, ferrovias e outras áreas. Em parceria ou sozinho, dependendo do tamanho do negócio. Simões descarta apenas atuar na construção. Para isso, diz ele, vai contratar "quem entende do assunto" e ficar focado na gestão da concessão.
Sobre ser novata, em uma área dominada por grandes grupos, Simões diz que a experiência em logística pode ser seu diferencial. Ele conta que a empresa, por exemplo, faz todo o trabalho de logística da fabricante de celulose Veracel, inclusive o carregamento dos navios no porto de Belmonte, no sul da Bahia. "O pessoal e o equipamento do terminal são nossos. Isso sabemos fazer muito bem."
O advogado especializado em infraestrutura Fernando Marcondes, sócio do escritório L.O. Baptista, avalia que há espaço para novos grupos, tanto nacionais como estrangeiros, disputarem as concessões. "O país sempre vai passar por bons e maus momentos. Em períodos como este [economia fraca] tem gente chorando e tem gente vendendo lenço. Então cada um tem de definir de que lado quer ficar", afirma. Mas Marcondes alerta que as concessões são para poucos grupos, porque os investimentos são de longo prazo e exigem "fôlego" de quem se arrisca. "Já tivemos alguns aventureiros, mas o mercado se encarrega de excluir essas pessoas", diz o advogado.
Quando fala de dinheiro, aventura é uma palavra que não cabe no vocabulário de Simões. Em um cenário pouco propício para buscar recursos no mercado, o presidente da JSL diz que vai repetir, guardada as devidas proporções, o modelo adotado pela empresa até hoje. Depois de fechado o contrato, vai buscar os recursos para atender o novo serviço.
A empresa pode ir ao mercado. Ela tem capital aberto desde 2010, com 30% das ações negociadas em bolsa. Os outros 70% estão com a família Simões. O grupo é formado pela JSL Logística, com receita líquida de R$ 3,7 bilhões em 2014, JSL Concessionárias (R$ 1,2 bilhão) e a Movida (R$ 600 milhões). A JSL Leasing é uma nova área, mas ainda em fase pré-operacional. A CS Brasil, empresa ligada à JSL Logística, é o braço de atuação do grupo em concessões.
Simões recorre sempre ao passado para projetar o futuro. Com várias referências ao pai, morto em 2012 e com quem começou a trabalhar em 1981, aos 14 anos, o presidente da JSL diz que aprendeu com Julio que é necessário "entender para atender". O grupo passou de transportadora a gestora de logística para atender o desejo das empresas de terceirizar a logística. Em 2014, 70% do crescimento veio de clientes antigos. E alguns muito antigos, como a Suzano Papel e Celulose, cliente há 58 anos e com quem tem oito contratos diferentes de serviços, a Unilever (41 anos e sete contratos), CAT (39 anos e oito contratos) ou Paranapanema (30 anos e cinco contratos).
"O maior cliente [a Vale, atendida em Minas Gerais e em Carajás] responde por 9% do faturamento e o maior setor [alimentação] gera 14% da receita. Essa diversificação nos dá tranquilidade", diz Simões.
Uma política agressiva de aquisições iniciada nos anos 90 levou o grupo ao tamanho que tem hoje, com cerca de 24 mil funcionários e 70 mil ativos, entre caminhões, ônibus, carretas, veículos leves e outros equipamentos. Mas entre todos eles, o preferido do presidente do grupo é um Ford F8, de 1951, idêntico ao que o pai começou o grupo em 1956 e exposto no Centro de Memória Julio Simões, na sede do grupo em Mogi das Cruzes.
Fonte:Valor Econômico/Carlos Prieto | De Mogi das Cruzes (SP)
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