É mais que sabido da diferença que o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) fez no pós-crise financeira de 2008 para bancar a demanda de investimento produtivo. Segundo estudo recente do Banco Mundial (Bird), a instituição federal ficou em terceiro entre bancos de fomento com ativos acima de US$ 100 bilhões no mundo a aportar crédito quando a torneira de liquidez entrou em colapso. Ficou atrás apenas das grifes chinesa e alemã.
Cinco anos depois e resquícios da turbulência ainda no ar em muitas regiões do globo, o Bndes mantém seu peso no mercado brasileiro, chegando a 11,5% do total do crédito desembolsado sobre o Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, ou R$ 190,4 bilhões, entre repasses diretos e indiretos (por outras instituições financeiras). A cifra é três vezes maior que a de 2004 (R$ 63,4 bilhões) e, em proporção do PIB, o dobro (5,7%) nove anos antes.
O tamanho do impulso do banco brasileiro entre 2007 e 2009 chegou a uma alta de 83% na oferta. O economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Bruno Paim mostrou ontem, na divulgação da Carta de Conjuntura de fevereiro, pouco otimismo com um recuo nessa participação. A medida poderia ser adequada para abrir espaço a outros mecanismos oriundos do setor financeiro privado (que se recolheu na crise) e de instrumentos como emissão de dívidas (debêntures) e mercado de capitais, como ações, na sustentação da demanda de recursos para investimentos de longo prazo.
A percepção do técnico da FEE se alicerça na conjuntura de retomada das elevações da taxa básica de juros (Selic), que alcançou 10,5% em janeiro. Paim lembra que a política de taxas aquecidas acaba deslocando maior parte de recursos em poder de bancos para as aplicações.
Diante do cenário, Paim desacredita as projeções do próprio Bndes, que havia indicado rebaixamento da fatia do banco nos aportes de longo prazo a 28,3% em 2012, 25,7% em 2013, 24,3% em 2014 e 23,3% no próximo ano. “Até 2013, não aconteceu e vai ser difícil a meta em 2015”, opinou o economista, que destacou a importância no passado recente e no futuro do funding do banco público para investimentos, principalmente, de longo prazo no Brasil. Apenas o capital oriundo de lucros retidos pelas empresas supera a injeção do Bndes, respondendo por 39% a 40%. A previsão da instituição era recuar em parte do terreno de crédito, abrindo espaço a modalidades privadas, como debêntures.
Para comprimir o aporte, que em 2012 teve 53% do capital alimentado pelo fluxo do Tesouro Nacional e 27% do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Paim defende uma reestruturação que possa permitir o alívio nos desencaixes do banco de fomento. “Tem de sair, mas alguém tem de assumir o lugar”, previne o economista, que também geraria menor crítica de setores que veem no fluxo do Tesouro a conta maior do endividamento público e sua despesa financeira.
Este alguém seria, além de debêntures (que, no sonho de consumo de crédito de técnicos do Bndes, poderia alcançar 25% dos aportes, em vez de menos de 20% atuais), o próprio Bndespar, fundo garantidor de investimento, e menor dose de Selic, em patamares internacionais e não de maior taxa.
Fonte:Jornal do Commercio (POA)/Patrícia Comunello
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