Cláudio Morici Crego e seus três sócios gastaram R$ 1 milhão para montar uma central de atendimento em Belo Horizonte que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Eles são donos de uma rede de concessionárias que vende escavadeiras, compactadoras, carregadeiras e outras máquinas pesadas. É um negócio que não parece exigir uma equipe dia e noite para atender queixas ou tirar dúvidas de clientes por telefone. Mas as máquinas de Crego vêm de uma fábrica do sul China, têm uma marca bem pouco conhecida no Brasil e enfrentam ainda o ceticismo de quem já estava acostumado com fabricantes tradicionais, como Caterpillar, Volvo ou New Holland.
Novata no Brasil, a LiuGong está em fase de expansão de sua rede de vendas e aposta em iniciativas como a de Crego para dar credibilidade e impulsionar o crescimento da marca no país. Até o fim do ano, a empresa terá mais quatro revendas: em Porto Alegre, Fortaleza, Natal e Recife. Serão 24 no total. A companhia também estuda construir uma fábrica no Brasil.
"É um mercado muito difícil de entrar, mas estamos ganhando espaço. Este mês chegamos a 4 mil máquinas LiuGong trabalhando na América Latina, das quais 2 mil estão no Brasil", diz Fernando Mascarenhas, presidente para a América Latina da empresa.
A chinesa LiuGong planeja estar entre as 10 maiores fábricas de máquinas pesadas do mundo até 2015
Fundada em 1958, a LiuGong é uma semi-estatal chinesa: 35% de seu capital pertence ao governo da província de Guangxi (onde a empresa está sediada) e os demais 65% são negociados em ações na bolsa de Shen Zen, na China.
A LiuGong quer estar entre as 10 maiores fábricas de máquinas pesadas do mundo até 2015. Hoje afirma estar entre as 20 maiores. No ano passado, a empresa faturou US$ 2,3 bilhões. Seus negócios se concentram na China, mas nos últimos anos, segundo Mascarenhas, a companhia vive fase de internacionalização. Instalou nove subsidiárias em mercados considerados chave pelos chineses, entre eles Austrália, África do Sul, Brasil e Índia. Em 2010, as vendas fora da China representaram 10% do total. Este ano, a expectativa é que chegue a 15%.
O Brasil - onde a subsidiária foi inaugurada no fim de 2009 - responde por uma parcela pequena desse bolo: 3%; toda a América Latina, 6%. No ano passado, as vendas para mineradoras, construtoras, empreiteiras, fábricas e outras empresas no Brasil geraram faturamento de R$ 46 milhões. Este ano, as vendas devem subir para R$ 50 milhões e na América Latina como um todo, para US$ 100 milhões.
Comparado com o desempenho de uma de suas concorrentes já bem estabelecidas, a sueca Volvo, é pouco. A receita da Volvo Construction Equipment Latin America foi de US$ 600 milhões em 2010, com 4,2 mil máquinas vendias, sendo 3,2 mil no Brasil.
Mas os chineses da LiuGong acreditam ter apelos poderosos para os clientes no Brasil. O primeiro é que as máquinas chinesas são fáceis de operar e de manter, diz Mascarenhas.
"Às vezes basta uma chave de fenda ou a ajuda simples de um mecânico para resolver o problema. É uma característica bem adequada às necessidades do país. É difícil quando se tem uma máquina no interior do Brasil e é preciso que vá alguém com um notebook para fazer o diagnóstico", diz Mascarenhas, fazendo referência aos concorrentes que, diz ele, possuem máquinas mais sofisticadas.
Mesmo se apresentando como uma espécie de Fusca do mundo das máquinas pesadas, a LiuGong no Brasil viu com entusiasmo a montagem de um call center para atender aos clientes. A ideia é dar segurança aos compradores e tentar mostrar que a empresa - embora do outro lado do mundo e desconhecida - não vai deixá-los na mão em caso de problemas com os equipamentos.
"Temos uma preocupação muito grande com o pós-venda porque a nossa perpetuidade depende disso", diz Crego, diretor comercial da BHM Equipamentos, a maior concessionária da LiuGong na América Latina e uma das maiores do mundo. São 11 lojas em 11 Estados. A de Santa Catarina foi inaugurada há duas semanas, a de Porto Alegre - que será 12ª revenda. - deve abrir as portas no mês que vem.
Minas Gerais é o principal mercado da LiuGong no país. "Minas é o mercado mais exigente que temos, porque as pessoas são tradicionalistas, preferem continuar comprando as máquinas das marcas mais conhecidas, que o pai comprava", diz Crego. Mesmo assim, entre 35% a 40% das vendas das concessionárias de Crego são feitas em Minas. O peso do Estado para a LiuGong fez com que instalasse a subsidiária para a América Latina em Belo Horizonte.
Além da simplicidade das máquinas, Mascarenhas diz que LiuGong considera que os outros dois fortes apelos da marca aqui é o atendimento aos clientes e o custo benefício. Longe de ser a marca mais barata na China, as máquinas da empresa chegam ao Brasil com preços 20% a 25% mais baixos que o dos principais concorrentes, diz o executivo.
Mascarenhas diz que a empresa está avaliando a construção de uma fábrica na América Latina e que o Brasil é o candidato mais forte. "O Brasil tem as vantagens de possuir um grande mercado interno e de os clientes poderem recorrer ao Finame [financiamento especial para veículos utilitários]", diz ele. "Uma fábrica aqui ajudaria muito a nossa imagem junto aos clientes, e também nas operações de exportação e importação." A decisão sobre construir uma fábrica aqui sai até o começo de 2012.
fonte:Valor Econômico/Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
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