Em discurso voltado para empresários, presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu "juízo" para manter a situação econômica que o país atravessa e, em tom parecido com o qual foi vítima nas eleições de 2002, tentou mostrar eventuais riscos de mudança de governo. "Queremos fazer com esse país não volte atrás. Se a gente for imaginar as incontáveis vezes que esse país teve condições de dar um salto de qualidade e de se transformar numa grande economia e a quantidade de vezes que nós retrocedemos, ou seja, nós não temos o direito de fazer mais isso com o país", afirmou Lula para uma plateia de empresários, no Congresso Brasileiro do Aço. Ontem, Lula recebeu do Instituto Aço Brasil (IABR) o prêmio Personalidade do Aço do ano.
Segundo Lula, se a atual situação for mantida, o Brasil pode chegar a ser a quinta maior economia mundial dentro de seis a oito anos. O presidente ressaltou a participação do empresariado ao lembrar das medidas tomadas contra a crise econômica, como o aumento da oferta de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pediu ainda aos empresários do setor que elaborem propostas para o próximo governo. Disse também que o governo sabe da necessidade de aumentar a capacidade de competir das empresas nacionais e que não existe nenhum tabu em discutir redução de impostos federais ou de ICMS e de custos de energia e de transporte.
O presidente ironizou o principal slogan da pré-campanha de José Serra (PSDB) à Presidência nas eleições de outubro. Na despedida do governo de São Paulo e durante o lançamento da pré-candidatura no sábado, Serra utilizou a expressão "o Brasil pode mais".
Questionado hoje sobre o assunto, Lula disse que "o Brasil sempre pode mais". "É uma pena que, quando eles governaram, não acreditaram que o país podia mais", afirmou o presidente, destacando que agora o Brasil goza de grande credibilidade no mundo.
Lula preferiu não comentar os resultados da pesquisa Sensus, divulgada na terça-feira, que aponta empate entre Serra e a pré-candidata governista, Dilma Rousseff.
"Está cedo para discutir pesquisa. Temos seis meses pela frente. A única coisa que eu posso dizer aos candidatos é que não tenham pressa porque uma campanha é uma maratona de muitos quilômetros. Quem tentar correr, vai chegar cansado", observou.
O presidente disse que vai esperar o Congresso votar o reajuste para os aposentados que ganham acima do salário mínimo para depois avaliar se veta a proposta. Líderes do Senado fecharam um acordo em torno de um aumento de 7,7%. Contudo, o percentual não agradou aos governistas da Câmara, que alegam que o governo não tem recursos suficientes para bancar o aumento. Lula frisou que vai procurar saber em que condições políticas o tema foi votado e avaliar se a Previdência tem condições de sustentar reajuste. "Longe de mim fazer injustiça para os aposentados brasileiros. Só que tenho que levar em conta a disponibilidade do dinheiro, que é do próprio trabalhador", disse. Segundo Lula, o acordo com as centrais sindicais é de 6,14%.
Durante abertura do congresso de siderurgia, o governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), defendeu a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), vendida ao setor privado durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. "Esse foi o setor que foi exemplo de sucesso de privatização", disse Goldman, que lembrou ainda a quebra do monopólio da Petrobras durante os anos FHC. "É uma questão pragmática, não é uma questão ideológica", afirmou o governador de São Paulo. A campanha petista tenta retomar o discurso de 2006 nestas eleições, ao afirmar que o PSDB é privatista e que o partido de oposição teria a intenção de vender mais estatais caso volte a governar. Goldman , no entanto, disse ontem que há empresas estatais que devem ser mantidas como tal. "O que vale é o interesse público", afirmou.
Fonte: Valor Econômico/ Ana Paula Grabois e Fernando Taquari, de São Paulo
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