A dinamarquesa Maersk, maior empresa de logística integrada do mundo, está de olho no mercado brasileiro e busca agora oportunidades de aquisições para ampliar seu portfólio no Brasil. O grupo passa por uma reestruturação no mundo e quer crescer fora do seu core business, o transporte de longas distâncias. Na esteira das transformações globais, Julian Thomas assumiu, em setembro, a presidência do grupo no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai após ter sido Diretor Superintendente da Hamburg Süd e Aliança Navegação e Logística, adquiridas pela Maersk em 2017.
Em sua primeira entrevista no novo cargo, Thomas destacou ao Broadcast que o grupo está monitorando oportunidades para aquisições de companhias no segmento de transporte terrestre, sobretudo com foco na estocagem de produtos e com robusto sistema de distribuição. Apenas nos últimos 12 anos, a Maersk já investiu mais de US$ 7,5 bilhões nos seus negócios no País.
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O executivo explicou que a empresa está investindo de forma intensa para ter menos dependência do mercado de longas distâncias. “Estamos investindo sobretudo em conhecimento e em sistemas para cobrir toda a cadeia de logística da porta do cliente até o destino final”, disse.
Hoje a Maersk já atua no mercado “end to end” (de ponta a ponta) e o foco é crescer nesse setor. “O que a estratégia visa é ampliar esse mercado com investimentos em capacidade, armazenagem, sistemas e até aquisição de empresas a nível global para viabilizar e fortalecer esse setor de prestação de serviço em terra”, disse.
O executivo destacou que a participação da Maersk hoje no campo de logística é relativamente pequena no Brasil e que crescer sua estrutura própria também faz parte da estratégia. Sobre as aquisições, ele destacou que grupos com muita força no transporte rodoviário não estão no radar, já que a empresa tem um ativo significativo de caminhões próprios. Em Manaus, por exemplo, a Maersk caminha para concluir até novembro um processo de renovação de frota de 15 caminhões e 100 carretas a um custo de US$ 3 milhões.
O País, entretanto, precisa vencer o que o executivo chamou de “burrocracia”, termo comum usado pelos brasileiros para descrever os entraves jurídicos e legais aos negócios no Brasil e que Thomas, que é inglês, conhece bem. “Esse é o grande entrave e que agrega custos tremendos. O Brasil é muito competitivo da porteira para dentro no campo, mas parte dessa competitividade se perde no caminho até os portos”, disse, saudando as iniciativas do atual governo para melhorar o cenário.
O interesse da empresa no Brasil não veio do nada. O País é um dos principais exportadores e produtores de laranja, café, soja, açúcar e carne. Sozinho, o Brasil responde por 8% das exportações mundiais de produtos agrícolas, de acordo com o Trade Map – ITC, grupo de estatísticas internacionais sobre desenvolvimento de negócios.
A pandemia teve efeito duro sobre os negócios da Maersk no Brasil no segundo trimestre. “De forma geral no mercado, os volumes nos traders internacionais do Brasil caíram perto de 12%. Na cabotagem, essa queda chegou a 40%”, disse.
A recuperação começou a chegar. A exportação, por causa das commodities agrícolas, deu sustentação ao mercado no pior da crise e agora as importações também estão voltando. “Continuamos otimistas com o ano que vem diante do crescimento do mercado. Além disso, com o avanço esperado para a economia, estamos otimistas que a cabotagem vai continuar a crescer”, disse.
Fonte: Valor