Números melhores da economia mundial e o movimento forte de especulação financeira ajudaram a deixar as commodities industriais em alta durante o mês de abril. A recuperação foi especialmente significativa para o minério de ferro e para o petróleo, cujos preços avançaram mais de 20% no mês passado.
O barril do petróleo tipo Brent para entrega em julho fechou abril a US$ 48,13 na ICE Futures, de Londres, uma alta mensal de 22%. Na Nymex, de Nova York, o barril do tipo WTI de junho avançou 20%, cotado a US$ 45,92. O movimento se manteve apesar de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia não terem chegado a acordo para congelar a produção em níveis de janeiro. A reunião aconteceu no dia 17 de abril e desfecho frustrou o mercado.
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Norbert Ruecker, diretor de análise de commodities do banco suíço Julius Baer acredita que, além de o enfraquecimento do dólar sobre as principais moedas do mundo e a greve de petroleiros no Kuwait ter ajudado na valorização, é a forte entrada de fundos especuladores que deu robustez maior ao movimento.
Desde o fim do ano passado, os contratos do tipo "long", que representam uma aposta dos fundos na alta do Brent, dispararam na ICE. O curioso é que pela primeira vez na década os investidores de cunho não comercial, ou seja, os especuladores, chegaram praticamente ao mesmo número de operações desse tipo que os usuários de petróleo (ver gráfico acima).
O problema, acrescenta Ruecker, é que a própria valorização da commodity deixa em risco o equilíbrio do mercado e uma retomada mais sustentável. "A mensagem que esse preço passa é de que é positivo se voltar a extrair petróleo e isso deixa em risco a equalização de oferta e demanda", afirma.
Para o analista, é possível que já no início do segundo semestre a produção americana de petróleo, que caiu em fevereiro pelo quinto mês consecutivo - frente ao período imediatamente anterior -, já comece a se estabilizar ou até volte a crescer. Parte das produtoras já travou contratos a preços futuros, que para o começo do ano que vem já se encontram em US$ 50.
"A confiança grande dos investidores, toda a tendência de alta e a proximidade do nível de US$ 50 devem atrair mais compradores ainda", argumenta o Commerzbank em relatório. "O movimento todo simplesmente ignora a sobreoferta do petróleo e os recordes de estoques nos EUA."
No caso do minério de ferro, a especulação também impulsionou os preços, mas a China tenta barrar esse excesso - o governo chinês aumentou a tarifa de negociação de commodities. Os fundamentos, contudo, melhoraram para o insumo, e tiveram papel importante no avanço de 23% do produto entregue no porto chinês de Tianjin, para US$ 65,20 por tonelada.
Abril costuma ser um dos meses mais importantes para a produção de aço chinesa, maior fabricante do mundo. Mas o pico de preços até agora, no ano, foi mais intenso. A média do período, em US$ 59,60, representa elevação de 16,4% em comparação anual. Em 2015, por exemplo, o aumento alcançou 10,2%.
Isso se deu porque novas construções na China dispararam. A alta superou os 10% nos últimos três meses, o que, aliado ao aumento de US$ 100 por tonelada dos preços do vergalhão, animou as siderúrgicas a elevarem a fabricação. A produção chinesa cresceu 20,7% de fevereiro para março e a expectativa é de se manter a expansão.
Cálculos do mercado apontam que as empresas do setor na China viraram o jogo e encontram-se agora no azul. Cerca de 93% da indústria perdia dinheiro no fim de 2015, mas esse índice desabou para 15% na última leitura.
"Mas a produção [de aço] ainda vai cair, a demanda pelo minério também, os preços da commodity vão junto e o mercado siderúrgico chinês vai permanecer com um excesso de oferta significativo", afirma Caroline Bain, analista da consultoria Capital Economics. "A questão não é mais se, mas quando o minério vai cair", observa Carsten Menke, do Julius Baer.
Dentre os metais não ferrosos, em abril o destaque ficou com o níquel, que subiu 13% na LME, para US$ 9.445. O alumínio obteve ganho de 12% para US$ 1.678.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo