Cerca de uma década após a saída de gigantes mundiais, o mercado de distribuição de combustíveis passa por nova onda de investimento estrangeiro no Brasil.
Para especialistas, o movimento pode criar um pelotão de empresas médias. Mas ainda há obstáculos, como confusão tributária, monopólio no refino e intervenção estatal.
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Em 2018, quatro grandes companhias compraram participação em distribuidoras regionais, em um mercado dominado hoje por três grandes —BR, Ipiranga e Raízen, que opera com a marca Shell.
“O Brasil é o mercado da América Latina, tanto pela escala continental quanto pelo potencial de crescimento”, afirma Fulvius Tomelin, presidente da distribuidora Ale, cujo controle foi adquirido pela suíça Glencore.
“Acho que as empresas estão olhando para um país com muito potencial e que vai demorar um pouco para assimilar novas tecnologias, como o carro elétrico”, complementa Roberto Tonietto, presidente da Rodoil, que tem metade de seu capital nas mãos da Vitol, também suíça.
A chinesa Petrochina e a francesa Total aportaram no mercado com a aquisição da pernambucana TT Work e da mineira Zema, respectivamente. Excluindo a Ale, são empresas de pequeno porte.
A Rodoil comprou uma concorrente em 2018 e mira postos de bandeira branca para se consolidar no Sul. A empresa tem cerca de 400 postos.
A Ale conseguiu 41 novos postos em 2019 e deve ampliar em mais de 10% sua rede de cerca de 1.500 postos neste ano. Para isso, prevê investir R$ 167 milhões.
Por restrições concorrenciais, BR, Ipiranga e Raízen têm dificuldades para aquisições, o que abre oportunidade para companhias de menor porte.
O consultor Luiz Henrique Sanches vê obstáculos para a expansão das menores. Ele cita a política de cotas para a compra de combustíveis em refinarias da Petrobras, que limita aumentos repentinos nas vendas.
Executivos criticam o monopólio do refino, a complexidade tributária —que facilita a sonegação— e a instabilidade nas regras, como a intervenção federal nos preços.
Glencore e Vitol são fornecedores globais de combustíveis, mas, com os preços represados no Brasil, veem poucas oportunidades para suprir suas distribuidoras.
Incertezas regulatórias, alta sonegação e adulteração de produtos levaram à saída de grandes multinacionais nos anos 2000/2010.
Em 2004, a italiana Eni vendeu a rede de postos Agip à Petrobras. Depois, as americanas Chevron e Exxon —que operavam com as marcas Texaco e Esso— também deixaram o país.
Fonte: Folha SP