BRASÍLIA - O déficit em conta corrente recorde aliado a uma queda no ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) elevou a necessidade de financiamento externo do país para o maior patamar em 18 anos.
A necessidade de financiamento externo representa o déficit em conta corrente do país menos os ingressos de IED, considerado capital de melhor qualidade para financiar as contas externas.
O indicador encerrou o ano em 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) vindo de 0,77% do PIB em 2013. A dependência de capitais mais voláteis para cobrir as contas externas é o maior desde 1996, quando foi de 1,52% do PIB. No começo do governo Dilma Rousseff, o quadro era oposto, com o IED cobrindo com folga de 0,06% do PIB todo o déficit em transações correntes.
Em 2014, o déficit em conta corrente foi de US$ 90,948 bilhões, ou 4,17% do PIB — pior resultado desde 2001. Já o IED somou US$ 62,495 bilhões, menor ingresso nominal desde 2010, quando o país recebeu US$ 48,506 bilhões. Em relação ao PIB, o IED representou 2,87%, menor desde 2012, quando foi de 2,90%.
Para 2015, o Banco Central (BC) conta com melhora nessa relação. A primeira estimativa da autoridade monetária é de um déficit de 3,79% do PIB para um ingresso de 2,95% do PIB em IED. Com isso, a necessidade de financiamento recuaria para 0,84% do PIB.
De acordo com chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel, a deterioração das contas externas em 2014 decorre do comportamento da balança comercial, que saiu de um superávit de US$ 2,4 bilhões em 2013 para um déficit de US$ 3,9 bilhões no ano passado, uma diferença de US$ 6,3 bilhões, ou dois terços de todo o aumento do déficit no ano que foi de US$ 8,840 bilhões.
Segundo Maciel, o fraco desempenho da balança capta, majoritariamente, a queda no preço dos produtos da pauta de exportação. As vendas para o exterior recuaram 7%, sendo 5,3% explicado pela queda de preço e 1,7% pela quantidade exportada.
Para 2015, o BC espera um resultado positivo de US$ 6 bilhões para balança. A tese está apoiada na expectativa de ganho de competitividade dos produtos brasileiros, conforme o real perde força, aumento no crescimento global, e um melhor desempenho da conta petróleo.
Mas esse quadro não deve se configurar tão cedo. Para janeiro, o BC trabalha com um déficit em conta corrente de US$ 10,8 bilhões, resultado, novamente, de fraco saldo da balança. E o IED financiará apenas um terço do rombo, já que está previsto em US$ 3,2 bilhões.
O restante da conta deve ser coberta com os ingressos em carteira, que depois de uma forte saída em dezembro, mostram recomposição no primeiro mês do ano. Os dados parciais apresentados pelo BC apontam entrada de US$ 1,257 bilhão para o mercado de ações e outros US$ 4,666 bilhões para a renda fixa, em janeiro até o dia 21.
No ano passado, foi essa conta que cobriu o menor volume de IED ao mostrar ingresso de US$ 33,531 bilhões, uma breve queda ante os US$ 34,664 bilhões vistos em 2013. Apenas no mês de dezembro foram realizados saques de investimentos no valor de US$ 9,54 bilhões, em dezembro de 2013, por exemplo, a saída foi de US$ 1,112 bilhão.
Nas outras linhas do balanço, o gasto com viagens internacionais bateu novo recorde ao somar US$ 25,608 bilhões. Com ajuda da Copa do Mundo, os estrangeiros deixaram aqui US$ 6,914 bilhões. Assim, o déficit da conta de viagens fechou 2014 em US$ 18,695 bilhões, novo recorde.
Maciel chama atenção para o crescimento anual de 2,2% nessa conta, uma forte desaceleração frente ao avanço de cerca de 20% registrado na passagem de 2012 para 2013. O dólar mais caro e o crescimento modesto da renda do trabalhador garantem um cenário de moderação para esses gastos, que devem somar US$ 18,5 bilhões agora em 2015.
As remessas de lucros e dividendos avançaram marginalmente entre 2013 e 2014, passando de US$ 26,045 bilhões para US$ 26,523 bilhões. Para 2015, o BC estima nova saída de US$ 26,5 bilhões. O volume de remessas tem correlação com o ritmo de atividade e com a cotação do dólar.
Para Maciel, mais um sinal de que embora elevado o déficit é financiado de forma confortável é que as empresas não encontraram restrições para captar e rolar dívidas no mercado externo. As novas emissões de dívida externa de médio e longo prazos por empresas privadas e estatais somaram o equivalente a 153% das amortizações em 2014.
Para 2015, a premissa conservadora do BC é de 100% de rolagem. Agora em janeiro, até o dia 21, esse percentual era de 111%.
Fonte: Valor Econômico/Eduardo Campos e Alex Ribeiro
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