SÃO PAULO - A decisão de destituir três executivos da siderúrgica Usiminas, em uma longa reunião do conselho de administração da empresa que tomou todo dia de quinta-feira e foi comunicada na manhã de sexta-feira, é decorrente de atos ilícitos praticados na gestão da empresa, informou ao Valor representantes da Nippon Steel & Sumitomo, principal acionista da companhia mineira.
Foi afastado do cargo, após a conturbada reunião, o presidente executivo da Usiminas, Julián Eguren, na gestão da empresa desde janeiro de 2012. Além dele, o conselho destituiu os vice-presidentes Paolo Felice Bassetti, responsável por companhias subsidiárias, e Marcelo Rodolfo Chara, que respondia pela área industrial da siderúrgica.
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Os três diretores foram indicados pelo grupo Techint, que entrou no capital da empresa brasileira no fim de 2011, depois de comprar uma fatia de ações (27,6% do capital ordinário) da Usiminas que pertencia à Votorantim e ao grupo Camargo Corrêa por R$ 5,1 bilhões.
De acordo com a Nippon Steel, os três executivos infringiram as normas de conduta (compliance) da empresa, problema que foi identificado desde meados de 2012. Foram apurados pagamentos não previstos de bônus e remunerações e sem a devida aprovação do conselho de administração, aos respectivos diretores. Segundo informações obtidas pelo Valor, teriam ocorrido também abusos na utilização de alguns benefícios.
Inicialmente, depois de comunicados sobre as irregularidades, os três diretores concordaram em ressarcir os valores a mais embolsados, mas uma auditoria interna, segundo a Nippon, apurou que a devolução foi parcial e que os atos indevidos continuaram a ser praticados.
A situação levou a um impasse no início deste ano entre os dois principais acionistas da companhia, quando se começou a discutir a reeleição da diretoria executiva na assembleia de acionistas prevista para o final de abril. Os argentinos, conforme os japoneses, negavam o tempo todo que houvesse irregularidade na sua gestão à frente da empresa.
Dessa forma, não houve consenso no processo de eleição da diretoria-executiva, comandada por Eguren, tanto nas reuniões prévias dos acionistas quanto na assembleia anual. Em função disso, para atender a lei das S.A., a diretoria foi mantida enquanto não havia um entendimento entre os acionistas controladores.
O conflito e as negativas dos argentinos em reconhecer problemas de má gestão na empresa fizeram com que o conselho de administração contratasse em maio duas auditorias externas - Deloitte e Ernest & Young (EY). Os relatórios das duas firmas foram entregues ao Comitê de Auditoria da Usiminas em setembro e, de acordo com a Nippon, confirmaram todas as denúncias apuradas pela auditoria interna da companhia.
O comitê, diante da documentação, recomendou ao conselho de administração tanto o ressarcimento dos valores apropriados indevidamente como a destituição dos três executivos envolvidos.
A reunião do conselho desta quinta-feira, após acaloradas discussões e tentativas de adiamento da parte dos argentinos, colocou o caso em votação. O placar foi de 5 votos a favor da destituição — três de Nippon Steel e dois dos conselheiros independentes representando os minoritários Previ e Lírio Parisoto — e cinco contra, com três da Ternium e dois da Caixa dos Empregados.
O voto de Minerva foi dado pelo presidente do conselho, Paulo Penido Marques, que foi reconduzido ao cargo na assembleia de abril por unanimidade de votos dos conselheiros e por votos afirmativos dos dois principais acionistas - Nippon Steel e o grupo Techint. Em 2012, Penido, um antigo funcionário da Usiminas, foi indicado pelos japoneses à posição de chairman e acatado pela Techint.
Segundo a Nippon, não houve quebra do acordo de acionistas na decisão da eleição que destituiu os três executivos. A companhia japonesa alega que o que estava em discussão não eram pontos do acordo, mas a deliberação sobre atos ilícitos pertinentes à gestão da empresa, comprovados por relatórios de auditorias interna e externa.
O objetivo, ressaltou, era avaliar as medidas que seriam tomadas para zelar e preservar a boa governança corporativa da companhia.
A reunião decidiu também eleger um novo presidente para substituir Eguren, então afastado. Novo empate se verificou sobre a indicação do nome de Rômel de Souza, que ocupa a vice-presidência de Tecnologia da siderúrgica. Novamente, Penido decidiu com seu voto em favor de Souza para ocupar temporariamente o cargo, até que nova assembleia de acionistas nomeie uma diretoria definitiva.
A Ternium, controlada do grupo Techint, que tem a maior fatia de ações de Usiminas dentro do conglomerado ítalo-argentino, entrou com uma ação na Justiça de Belo Horizonte (MG), onde está o escritório central da Usiminas, para tornar sem efeito a decisão do conselho de afastamento dos três diretores.
Segundo a empresa e seus advogados — escritórios Mattos Filho e Trindade Advogados —, o que ocorreu foi uma quebra de várias regras do acordo de acionistas firmado entre os acionistas controladores em 2012.
Os acionistas japoneses liderados pela Nippon Steel & Sumitomo contestam a tese dos sócios argentinos. E contrataram o escritório Pinheiro Netto para defender seus interesses no caso.
O imbróglio e seu desfecho inesperado, que derrubou as ações da companhia na bolsa, coloca a Usiminas novamente em uma situação crítica perante os investidores de seus papéis e o setor siderúrgico. A empresa vem desde 2008 passando por gestões complicadas, perdas de participação de mercado, resultados financeiros negativos e forte desvalorização de suas ações.
Procurada, a Techint não dispunha de porta-voz imediatamente disponível para comentar as declarações da Nippon Steel.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | Valor