Condições meteorológicas adversas e um cenário de incerteza econômica fizeram disparar os preços das commodities neste ano, do café ao gás natural e a soja. Em muitos desses mercados, o preço das commodities para entrega hoje é maior que para entrega nos meses seguintes. Esse cenário, conhecido como mercado invertido, cria várias oportunidades para o investidor lucrar. É assim que funciona: um gestor de fundo compra um contrato futuro para entrega no próximo mês. Antes do vencimento, o investidor vende o contrato, compra outro mais barato para entrega numa data mais distante e embolsa a diferença. É uma oportunidade rara de embolsar uma renda estável com commodities, que não oferecem os pagamentos de juros dos títulos de dívida ou os dividendos das ações. E a bonança também não deve durar: na maioria dos mercados, os preços de contratos de curto prazo estão altos devido à escassez causada por secas, doenças e outros fatores, que provavelmente arrefecerão nos próximos meses. Até que isso aconteça, os investidores querem continuar lucrando.
A renda extra das commodities é bem-vinda, num momento em que os juros atingem mínimos recorde na maioria dos países desenvolvidos. Alguns gestores de recursos também estão migrando para as commodities porque têm dúvidas sobre a capacidade das ações de continuar batendo recordes de alta. "Você é pago simplesmente por ter [commodities]", diz Nicholas Johnson, gestor de portfólio de commodities da Pacific Investment Management Co. que administra US$ 25 bilhões. "Há uma razão convincente para se ter commodities como uma garantia contra a inflação ou uma fonte de diversificação, mas, hoje, o que as tornam particularmente atraentes é o rendimento gerado com a rolagem [de contratos]." Em julho, investidores vão se beneficiar desse comportamento dos preços em 12 das 24 commodities presentes no índice S&P GSCI. Desde 2008, só uma média de sete mercados apresentou preços de curto prazo mais altos que os futuros.
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Um fundo que monitora o índice teria ganho 1,8% através da rolagem de contratos esse ano, embora o índice tenha recuado ligeiramente. Investidores estão aplicando essa estratégia usando contratos futuros e fundos negociados em bolsa (ETFs, pela sigla em inglês), que compram futuros em nome de seus acionistas. Por exemplo, as ações do EFT americano Oil Fund LP subiram 5,6% neste ano, superando a alta de 2.8% no preço do petróleo registrado na bolsa Bolsa Mercantil de Nova York. Essas operações têm ajudado a reacender o interesse dos gestores de fundos pelas matérias-primas, que vinha caindo nos últimos três anos devido aos retornos mais fracos que os das bolsas e da renda fixa. O Citigroup estima que os gestores de recursos colocaram cerca de US$ 7,5 bilhões em mercados de commodities durante a primeira metade de 2014, ante uma retirada líquida de US$ 50 bilhões em todo 2013. É verdade que as commodities continuam tendo um desempenho pior que as ações, mesmo levando-se em conta a renda mensal da rolagem dos contratos futuros. De fato, os ganhos obtidos comprando e retendo commodities podem facilmente evaporar se os preços caírem - um grande risco nos mercados onde o clima e outros fatores imprevisíveis provocam frequentes oscilação nas cotações.
Alguns investidores não esperam que a onda de operações seja duradoura no caso de muitas commodities. Grandes safras de milho e soja devem aumentar consideravelmente a oferta nesses mercados, desencorajando as empresas de alimentos de pagar preços elevados para garantir o fornecimento no curto prazo. "Parece que estamos nos preparando para um período de boa colheita e isso está criando uma situação onde o [bônus da rolagem] irá sumir com o tempo", diz Michael Strauss, diretor de investimento da Commonfund Asset Management Co., que tem U$ 25 bilhões em carteira. Strauss diz que investiu pouco em commodities nos últimos 12 meses e continua preferindo outros ativos. Até o momento, porém, o faturamento mensal ainda atrai muitos investidores. David Hemming, que administra US$ 1,6 bilhão na Hermes Fund Managers, diz que está segurando futuros de carne suína de curto prazo que planeja rolar para tirar vantagem da estrutura de preço do mercado. O futuro da carne suína com vencimento em agosto está sendo negociado 29% acima do contrato para entrega em agosto de 2015 em função da escassez provocada por um vírus, que torna as empresas de alimentos dispostas a pagar mais caro para assegurar o fornecimento. "O retorno da rolagem tem sido positivo para os investidores, [...] é uma razão adicional para investir em commodities", diz Hemming.
Fonte: Valor Econômico\Tatyana Shumsky | The Wall Street Journal