O modelo econômico da Noruega costuma ser muito admirado. O país escandinavo é um dos mais ricos do planeta, graças a 40 anos de produção de petróleo no mar do Norte. A crise financeira de 2008 mal se fez sentir, lá, em meio a décadas de crescimento quase ininterrupto.
Mas agora, com a queda nos preços do petróleo (cerca de 50% desde junho de 2014), autoridades econômicas e analistas de Oslo agora temem que essa era dourada esteja chegando ao fim.
"Não podemos esperar um crescimento contínuo como o dos últimos dez a 15 anos", disse Øysten Olsen, presidente do BC da Noruega. "Vamos estar no mesmo barco dos países vizinhos."
O maior produtor de petróleo da Europa Ocidental, porém, ainda está bem distante de uma crise, apontam as mesmas autoridades.
A economia cresceu 3% no ano passado, o ritmo mais rápido entre os países da zona do euro. O índice de desemprego, de 3,7%, está entre os mais baixos do planeta.
Mas o problema para a Noruega é que a queda no preço do petróleo veio em companhia de um pico de investimento no setor petroleiro.
Estimativas apontam que o investimento para o setor petroleiro deve cair em cerca de um quarto neste ano.
As projeções para o PIB de 2015 foram reduzidas, e a agência estatística norueguesa calcula crescimento de 1%.
Para alguns, a queda do petróleo serve como ensaio para o que acontecerá quando os campos petroleiros do país enfim se esgotarem.
"A bolha do petróleo em que vivíamos ocultou o fato de que a produção está em queda", disse Thina Saltvedt, analista do banco Nordea. "Agora a bolha estourou, temos de reduzir nossa dependência e encarar a realidade."
Para Olsen, do BC, "a era em que o petróleo tem grande importância ainda não acabou. Ainda temos metade dos recursos no subsolo".
Mas o governo está consciente da necessidade de estimular a competitividade de suas indústrias não petroleiras. Embora a recente queda na moeda do país tenha ajudado, os salários da indústria continuam a ser duas vezes mais altos do que em EUA, Japão ou Reino Unido, e a produtividade parou de crescer.
E os sinais de alerta são visíveis. Os preços das casas vêm subindo há 20 anos, e muitos economistas estrangeiros acreditam que o mercado da habitação também esteja vivendo uma bolha.
Só dois outros países desenvolvidos têm jornadas de trabalho mais curtas que as norueguesas, e o país tem o maior índice mundial de licenças por motivo de saúde. "Estamos operando em piloto automático há tempo demais. Temos problemas sérios", disse o presidente de uma companhia norueguesa, que argumenta que o petróleo roubou espaço aos demais setores, o que dificulta reformar a economia.
Fonte: Folha de São Paulo/DO "FINANCIAL TIMES"
PUBLICIDADE