A Operação Lava-Jato em Curitiba deflagrou sua 59ª fase e mira a Transpetro e o Grupo Estre Ambiental. O acionista e ex-proprietário de empresas do grupo, Wilson Quintela Filho, foi preso temporariamente em São Paulo.
Também tiveram prisão temporária decretada um ex-executivo do grupo e um advogado, Mauro de Morais, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF).
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Batizada de “Quinto Ano “ — menção aos cinco anos que a operação completará em 17 de março —, a investigação apura supostas propinas no valor de R$ 22 milhões envolvendo 36 contratos da Transpetro com o Grupo Estre na área ambiental, reabilitação de dutos e construção naval, no período de 2008 a 2014, de acordo com a força-tarefa de Curitiba e a Polícia Federal (PF).
São cumpridos três mandados de prisão temporária e 15 de busca e apreensão, sendo a maioria em São Paulo e uma ordem de busca e apreensão em Araçatuba (SP).
As investigações tiveram como ponto de partida a delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro que era politicamente ligado ao senador Renan Calheiros (MDB-AL) e que foi mantido no cargo na cota política da legenda na Petrobras.
Segundo o delator, Machado ajustou com Wilson Quintella o pagamento de propinas de pelo menos 1% dos contratos firmados pelo Grupo Estre (Estre Ambiental, Pollydutos e Estaleiro Rio Tietê) com a estatal.
O aprofundamento das investigações revelou que as propinas foram pagas por Wilson Quintella em espécie a Sérgio Machado e seus emissários, segundo a Lava-Jato, “mediante sucessivas operações de lavagem de capitais que envolveram o escritório Mauro de Morais Sociedade de Advogados”, afirma o MPF.
A Receita Federal apurou que a banca advocatícia recebeu, entre 2011 e 2013, cerca de R$ 22,3 milhões de empresas do Grupo Estre, “sem que tenha prestado efetivamente qualquer serviço”, segundo a Lava-Jato.
A análise da movimentação financeira dos investigados demonstrou que, logo após a realização dos depósitos nas contas controladas por Mauro Morais, ocorriam saques fracionados em espécie como forma de burlar os controles do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
No período, o advogado foi responsável por sacar mais de R$ 9,5 milhões, apontam os levantamentos do órgão, unidade de inteligência financeira vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Sergio Moro.
Segundo o delator Sérgio Machado, os valores em espécie lhe foram entregues no próprio escritório Mauro de Morais Sociedade de Advogados “por um ex-executivo do Grupo Estre e homem de confiança de Wilson Quintella e de Mauro Morais”, observa o MPF.
Os depoimentos dos colaboradores foram ratificados por testemunhas ouvidas na investigação e embasados por “ampla prova documental, como registros de reuniões, procedimento fiscal sobre o escritório de advocacia de Mauro de Morais e empresas do Grupo Estre e dados bancários e fiscais dos investigados”.
Além dos R$ 22 milhões já identificados na suposta lavagem realizada pelo escritório de Mauro de Morais, depoimentos convergentes de Paulo Roberto Costa, Luiz Fernando Nave Maramaldo e Adir Assad apontam que a atuação criminosa alcançou outras áreas, inclusive do sistema Petrobras.
Outro lado
Em resposta à operação deflagrada nesta quinta-feira, a Estre Ambiental informou que está colaborando com a Lava-Jato e “e permanecerá à disposição das autoridades competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários e colaborar com as investigações”.
A Estre Ambiental já foi citada em outra operação da PF, a “Descarte”, de março de 2018, com vistas a desarticular um esquema de lavagem de dinheiro. Um consórcio liderado pela Cavo, controlada da Estre Ambiental, teria dissimulado a origem ilícita de R$ 100,5 milhões por meio de contratos falsos.
Especializada na prestação de serviços ambientais, entre os quais coleta de lixo e gestão de aterros sanitários, a Estre foi fundida à americana Boulevard Acquisition Corp. em agosto de 2017. Antes da transação, BTG Pactual e Quintella eram controladores da Estre e seguiram como acionistas da nova companhia.
Fonte: Valor