Sérgio Leite de Andrade, que assumiu a presidência da Usiminas em 25 de maio, tem uma missão difícil pela frente, provavelmente a mais espinhosa em sua carreira de 39 anos na siderúrgica mineira: tornar a situação da empresa sustentável, financeira e operacional, o mais rápido possível. A Usiminas passa por uma crise sem precedentes em sua história iniciada nos anos de 1960.
A atual situação da empresa foi agravada desde 2014 por desentendimentos dos acionistas controladores, que se refletiu na gestão executiva, e pela situação de mercado interno e global do setor. Após uma sucessão de prejuízos e resultados negativos até na operação, fechou operações, fez milhares de demissões e teve de ser socorrida financeiramente pelos acionistas para não ir à lona.
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O executivo sabe que terá um grande desafio pela frente, mas se diz confiante. "Ao ser eleito pela maioria do conselho da empresa, recebi mandato para tornar a Usiminas rentável com o portfólio de ativos que tem hoje", afirmou Leite de Andrade, em entrevista exclusiva ao Valor no escritório da companhia em São Paulo.
Com metade da carreira na área industrial e metade na industrial da Usiminas, Leite admite que já em 2017 a empresa terá de gerar um resultado operacional (Ebitda) de no mínimo R$ 1,2 bilhão. Esse valor é o suficiente para cobrir as necessidades do custo da dívida (em torno de R$ 900 milhões ao ano) e dos investimentos correntes nas operações - de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões, nível que deve se manter durante dois a três anos.
Como exemplo do tamanho da dificuldade, no primeiro semestre, ainda com custos altos do fechamento da produção de aço bruto em Cubatão (SP), a siderúrgica teve Ebitda de pouco mais de R$ 100 milhões. "É o mínimo que teremos de gerar por mês", disse.
Ele sentou na cadeira de presidente com um processo de capitalização da empresa de R$ 1 bilhão em curso, ancorado pelos três grandes acionistas da siderúrgica - o ítalo-argentino Ternium - Techint, a japonesa Nippon Steel & Sumimoto e a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN). Esta última, fora do bloco de controle, mesmo questionando os termos e condições da operação colocou R$ 180 milhões no caixa da rival.
O executivo também herdou uma rolagem de vencimentos da dívida de R$ 7,2 bilhões que estava em negociações com nove bancos do país e exterior. O processo está em cursos e deve ser encerrado em um mês. Vai ter 10 anos para pagar, sendo os três primeiros com amortização só dos juros da dívida. A partir de meados de 2019 começa a amortização do principal, distribuído em vencimentos de sete anos.
"De 2018 em diante, temos de buscar uma geração de resultado de ao menos R$ 2 bilhões", diz.
Pela frente, Leite tem um mercado de aço deprimido no Brasil e dificuldades para exportar devido ao excesso de oferta global. Para ganhar escala e gerar o resultado almejado [e necessário], terá de passar de um volume de vendas próximo de 4 milhões de toneladas neste ano para algo como 6 milhões de toneladas em até dois anos. Condições de produção a empresa tem. As instalações continuam aptas a fabricar 9 milhões de toneladas de produtos.
A estratégia, diz, é centrar esforços em ações de redução de custos, aumentar a vendas e retomar em escala a geração de resultado operacional da empresa. Cinco ações foram definidas para atingir essa meta: reconfigurar a usina de Cubatão, melhorar o desempenho na usina de Ipatinga (MG), redução da estrutura gerencial com ganhos de 20% a 25% nesses quesito, revisão de todos os contratos com fornecedores (de bens e serviços) e aumentar volume e preços do aço vendido.
Ele aposta também em medidas que possam ampliar a competitividade de exportação, hoje limitadas a poucos mercados. Apenas 13% das vendas no segundo trimestre foram no exterior. E espera arrancar até fim do ano um reajuste de preço do aço com as montadoras. O último foi em janeiro de 2014. Com outros setores industriais alcançou 30% de alta.
Em Cubatão, a meta é vir a ocupar o máximo da capacidade de um laminador de pouco mais de três anos de vida, apto a fazer 2,3 milhões de toneladas ao ano. Vai usar matéria-prima (placas) de terceiros, como a Thyssenkrupp CSA, do Rio. Neste mês espera passar de 100 mil toneladas. Com a CSA, negocia um contrato de longo prazo para 120 mil toneladas mensais.
Após os cortes de pessoal, a serem finalizados até o fim do ano, Cubatão ficará no máximo com 1,8 mil funcionários. Com todos ajustes, o grupo Usiminas, informa Leite, ficará com estrutura de 14 mil a 15 mil pessoas. Nos bons tempos passou de 30 mil pessoas.
Sobre o questionamento da Nippon Steel na Justiça sobre o processo de sua eleição para a presidência, Leite diz estar sereno. "Tive dois votos da parte dos empregados, um dos minoritários e três da Ternium. Se for decisão da Justiça, vou cumprir". Enquanto isso, diz, trabalha muito para a retomada da Usiminas.
Fonte: Valor Econômico/Por Ivo Ribeiro e Renato Rostás | De São Paulo