Até 2007, com a exuberância do mercado mundial de aço, puxada pela China, o grupo Gerdau foi com ímpeto às compras de ativos. Ganhou musculatura, expandiu sua geografia dos negócios e aproveitou para iniciar a diversificação. Foi assim que se tornou o maior fabricante de aços longos nas Américas - segundo no mundo - e um dos líderes globais em aços para o setor automotivo. A crise de 2008, que abalou as economias mundiais, exigiu uma nova configuração estratégica.
Atualmente, o cenário do setor é de superoferta de aço no mundo, competição com produtos chineses, russos, coreanos e turcos, dificuldades para exportar, preços deprimidos e margens de ganhos apertadas. A estratégia é: mais diversificação horizontal e vertical na cadeia produtiva siderúrgica e ganhos de gestão, eficiência e custos para se manter competitivo.
Essa é a receita de André Johannpeter Gerdau, que está à frente do grupo há quase sete anos. "Hoje, nosso foco envolve aços planos, com projetos no Brasil, investimento em minério de ferro, ampliação do negócio de aços especiais no Brasil e EUA e entrada na Índia, e gestão para ter ganhos de eficiência em todas as nossas operações", diz o empresário.
Neste ano, a empresa fez a fusão da Gerdau Aços Longos no país com a Açominas, criando uma única empresa, a Gerdau Aços Brasil. Os ganhos são significativos, aponta Gerdau, sem revelar o montante anual.
"Estamos trabalhando firmes nessa estratégia para nos diferenciar, buscando melhores resultados", diz o executivo. Admite que o negócio da siderurgia está difícil, mas diz que a Gerdau bem estruturada para enfrentar esse momento.
Ele lista ações para melhora da eficiência, redução de capital de giro - que atingiu R$ 1,1 bilhão no segundo trimestre -, e a criação de uma plataforma única de gestão, a SAP, um projeto de cinco anos que vai até 2015. Como a Gerdau fez muitas aquisições, do Canadá à Argentina, herdou culturas muito diferentes. Agora, busca falar a mesma linguagem.
Segundo Gerdau, hoje o operador de máquina e o vendedor do grupo sabe qual é sua contribuição na geração de resultado operacional, o Ebitda. "Já é o segundo ano que chegamos ao chão de fábrica e isso atinge os 45 mil empregados no mundo". E toda a empresa vem passando por uma renovação muito grande, exigindo a formação de novas lideranças.
Na diversificação de negócios, buscou ir além dos vergalhões da construção civil, pregos e arames. O grupo começa a competir na venda de chapas laminadas que vão desde autopeças a implementos agrícolas. Com isso, a Gerdau agrega valor a 2 milhões de toneladas de placas (semiacabado) por ano da usina Ouro Branco (MG). Já está fazendo bobinas a quente e iniciando vendas neste semestre. A partir de 2015, fará chapas grossas, usadas na indústria naval e outras aplicações. Ao todo: 1,9 milhão de toneladas.
"Hoje, são duas novas frentes de negócios - aços planos e mineração de ferro - e uma nova geografia", afirma o executivo. Alguns anos atrás, o grupo decidiu ser player de peso em aços especiais. Saiu de uma tímida operação no Rio Grande do Sul, a antiga Aços Piratini, e já chegou à Índia passando pela compra da espanhola Sidenor, que já era dona da Aços Villares no Brasil, e por uma agressiva entrada nos EUA.
O programa de investimentos, em cinco anos, soma R$ 8,5 bilhões. Desse valor, R$ 2,3 bilhões este ano
Além do aço plano, o foco do grupo está na mineração de ferro, com investimentos totais de R$ 1,8 bilhão para chegar a 18 milhões de toneladas até 2016. Este ano chega a 11,5 milhões de toneladas, que é suficiente para suprir toda a usina Ouro Branco e ter excedente de 45% para exportação. Os planos do grupo preveem atingir 24 milhões de toneladas em 2020. Para a empresa, é um negócio com margens melhores de ganhos que o aço.
A decisão é ter mineração como uma operação que será avaliada pelos seus resultados, mas não como empresa separada. Alguns anos atrás fez a tentativa de ter parceiro, mas não avançou. "Ficará dentro da Gerdau", diz. O executivo evita revelar quanto cada um dos dois negócios vai adicionar de receita.
Esse pacote de investimentos destinou R$ 500 milhões apenas em logística ferroviária e o grupo avalia a construção de um terminal portuário próprio para embarcar minério de ferro e receber carvão e outras cargas em Itaguaí (RJ).
Siderúrgicas transformando mineração em um novo negócio tornou-se uma rotina nos últimos anos. Temos exemplos de CSN, Usiminas e ArcelorMittal no Brasil, além de outros mundo afora. O argumento é que, com a valorização da matéria-prima, grande parte do ganho na cadeia produtiva que abrange minério de ferro, carvão e aço está na área mineral. Ficam com a atividade siderúrgica 26%. Em 2005, o aço apropriava-se de 61% do ganho, carvão, 22%, e o minério, 17%.
Geograficamente, o foco da Gerdau hoje é a Índia, com uma joint venture local para produzir aços longos especiais de uso na indústria automotiva. São 300 mil toneladas. "Parece pequena, mas é uma escala razoável para entrar no país e ganhar aprendizado", diz. Além daí, continua seguindo a China. "Fizemos avaliações e não encontramos oportunidades lá".
Atualmente, com vendas na casa de 19 milhões de toneladas anuais de aço, o grupo obtém 36% da sua receita no Brasil, 30% nos Estados Unidos, 21% em Aços Especiais (Brasil, EUA e Espanha) e 13% na América Latina. Foram R$ 38 bilhões no ano passado. Na geração de resultado operacional (Ebitda), o Brasil responde por quase três quintos - exatamente 58%. A seguir vêm o Aços Especiais com 21%, EUA, 12%, e América Latina, 9%. A capacidade instalada em 60 usinas e laminadoras é de 25,5 milhões de toneladas por ano. O grupo ocupa a décima quarta posição no ranking mundial da World Steel Association (WSA).
O programa de investimentos da Gerdau, em um plano de cinco anos, soma R$ 8,5 bilhões. Desse valor, R$ 2,3 bilhões vão ser desembolsados este ano, sendo 70% no Brasil. A empresa está investindo em novo laminador de aços especiais em Pindamonhangaba (SP), uma aciaria de aço longo no Sul, os laminadores de aços planos em Ouro Branco e na mineração. Segundo o executivo, a companhia não avalia um salto mais agressivo no mercado de aços planos, tanto que nem cogitou avaliar a compra da CSA, siderúrgica da ThyssenKrupp.
Dois outros projetos importantes estão na América do Norte: um nos EUA e outro no México. No mercado americano, o grupo amplia a produção, com aportes de US$ 185 milhões, de duas usinas de aços especiais, elevando em 50% a atual capacidade de 1,1 milhão de toneladas ao ano. "Visa acompanhar a recuperação do setor automotivo americano", diz Gerdau. No país, também se verifica a retomada do mercado de construção não residencial e da expansão decorrente dos investimentos em 'shale' gás e 'shale oil'.
No México, investe US$ 600 milhões em usina de perfis pesados, dentro de um plano de atender as Américas com esse produto também a partir de Brasil e EUA. Esse projeto busca principalmente substituir importações e exportar a mercados regionais. "Na região, há muita coisa a fazer em infraestrutura no Peru, Colômbia, Guatemala, Chile, Venezuela e no próprio México". A usina terá capacidade de 1 milhão de toneladas de aço e 700 mil de produtos finais (perfis).
Na Espanha, com a Sidenor, de aços especiais, com a crise local, a estratégia é de sobrevivência. Opera com cerca de 55% a 60% da capacidade, em turnos ajustados. Metade da produção atende o mercado automobilístico espanhol e outra metade vai para o resto da Europa, como Alemanha, Itália e França.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
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