O clima seco e quente dos últimos meses poderá fazer o Paraná perder para o Rio Grande do Sul o posto de segundo maior Estado produtor de soja do país nesta safra 2018/19 — a colheita é liderada por Mato Grosso.
Segundo as mais recentes estimativas divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por causa das intempéries a produção paranaense deverá cair 10% em relação ao cilo 2017/18, para 17,3 milhões de toneladas.
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No Rio Grande do Sul, o volume está projetado em 18,7 milhões de toneladas, um aumento de 9%, enquanto a folgada liderança mato-grossense deverá ser mantida com 32,1 milhões de toneladas, mesmo patamar da temporada anterior.
No total, em boa medida graças à quebra no Paraná, a colheita nacional deverá somar 115,3 milhões de toneladas, uma queda de 3,3% na comparação com 2017/18. Será a primeira retração desde 2015/16.
A escassez hídrica e o calor excessivo de dezembro já haviam prejudicado a produção das lavouras de ciclo precoce no Paraná e provocado quebras expressivas na região oeste, responsável por cerca de 20% da produção estadual.
As chuvas voltaram em janeiro, mas permaneceram irregulares e o calor não deu trégua. O resultado foi a queda da produtividade também das plantações semeadas com sementes de ciclo mais tardio.
Na quinta-feira, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná cortou mais uma vez sua estimativa para a colheita no Estado, desta feira em 504 mil toneladas.
Com isso, o volume passou a ser calculado pelo Deral em 16,4 milhões de toneladas, 15% abaixo de 2017/18 — 900 mil a menos que o estimado pela Conab até agora, sinal de que a estatal também deverá promover novos ajustes para baixo.
Assim, a colheita de soja do Paraná poderá, pela primeira vez desde a safra 1994/95, ser menor que a gaúcha, embora esta também continue passível de correções negativas.
No último levantamento que divulgou, a Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul) reduziu sua projeção para a safra do Estado em 1 milhão de toneladas, para 17,6 milhões, 1,1 milhão abaixo do patamar calculado pela Conab mas acima da estimativa do Deral para o Paraná.
De acordo com Marcelo Garrido, economista do Deral, nas lavouras de plantio precoce do oeste do Paraná houve perdas de cerca de 27% da produção prevista inicialmente. “As perdas nessa região chegam a 1 milhão de toneladas”, afirmou.
Também houve problemas significativas no norte paranaense. “As lavouras mais tardias também sofreram o calor e as chuvas foram ‘manchadas’ em janeiro”, disse ele. No norte, que representa em torno de 30% da colheita estadual, as perdas deverão chegar a 800 mil toneladas.
No total, as perdas calculadas pelo Deral chegam a 3,2 milhões de toneladas. Segundo Garrido, também houve quebras registradas no centro-oeste do Paraná (25%) e no noroeste (34%). A produtividade média da safra foi revisada de 3.108 quilos por hectare para 3.012.
Em entrevista recente ao Valor, José Aroldo Gallassini, presidente da cooperativa Coamo, com sede em Campo Mourão, estimou em 40% a quebra da produção de soja dos associados do grupo com fazendas no oesteparanaense. No noroeste, as perdas dos cooperados foram de 30%, e no total a frustração de safra da Coamo deverá atingir 20%.
Há cooperativas que tiveram mais “sorte”. Entre os associados da Coopavel, com sede em Cascavel, as perdas são de entre 12% e 14%. “Perdemos produção. Nunca teve tanto calor na região. Mas, na média, ficamos bem”, disse o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli.
De acordo com ele, após a segunda quinzena de dezembro as chuvas voltaram a dar o ar da graça na área dos associados da cooperativa e não pararam mais.
Conforme o Deral, até quinta-feira a colheita foi concluída em 42% dos 5,429 milhões de hectares plantados no Paraná em 2018/19 foram colhidos. E 67% das plantas que ainda estavam nos campos apresentavam boas condições de desenvolvimento — 28% estavam em condições médias e 5% em condições ruins.
O levantamento do Deral mostra que 51% das lavouras estão na fase de maturação, 45% em frutificação e 4% em floração. “Ainda falta colher bastante, mas o pior já passou. Não acredito que perdas mais significativas ainda sejam registradas”, ponderou Garrido, economista do Deral. (Colaborou Fernando Lopes)
Fonte: Valor