A valorização do câmbio, a desoneração da folha de pagamentos para duas dezenas de setores, a redução do custo da energia elétrica e mesmo uma correção um pouco mais branda dos salários não foram suficientes para a indústria recuperar espaço na exportação. No ano passado, a parcela da produção industrial destinada às vendas externas voltou a cair, segundo índice desenvolvido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A queda foi pequena, mas a expectativa era que a desvalorização de quase 15% do real na comparação com o dólar americano pavimentasse o caminho para que a indústria brasileira recuperasse pelo menos uma ínfima parte do mercado internacional perdido ao longo dos últimos anos. Apenas alguns setores conseguiram essa façanha.
De acordo com o Índice Firjan de produção Exportada (IFPE), 22,2% de tudo que a indústria de transformação produziu foi vendido no exterior. Em 2012, essa participação foi levemente maior (22,5%) e no auge, em 2005, ela alcançou 25%. A média, porém, embute setores cuja presença no exterior praticamente desapareceu (como a indústria de confecções, cuja parcela destinada ao exterior caiu de 6,5% para 1,7% nos últimos dez anos) e o setor de celulose e papel, no qual ela passou de 30% em 2003 para 44,3% no ano passado.
Os dados de 2013 mostram que seria preciso um ajuste muito grande no câmbio para compensar as diferenças de custo e de tributação entre o Brasil e o mundo, observa o gerente de Economia e Estatística da Firjan, Guilherme Mercês. No cenário atual de baixa competitividade, dado por custos como mão de obra, energia e impostos, diz ele, a indústria não consegue elevar sua presença no exterior ao mesmo tempo em que cresce a concorrência de produtos importados no mercado doméstico.
Alguns setores são emblemáticos dessa situação. Em 2003, 21,5% da produção do segmento de material eletrônico e de comunicação foi vendida no exterior, percentual que despencou para 5,9% no ano passado. Essa perda impactou diretamente a produção do setor porque o volume produzido em 2013 foi idêntico ao de 2003.
Entre os 20 setores de transformação nos quais a Firjan agrupou a produção nacional, nove reduziram sua parcela exportada entre 2012 e 2013. Na comparação com 2003, apenas três hoje vendem uma parcela maior da produção no exterior (celulose, produtos alimentícios e couros e calçados) e outros três estão estáveis, enquanto 14 reduziram esse volume. Os poucos setores que ganharam espaço representam segmentos onde o país tem alguma vantagem comparativa, muitas vezes associada à commodities ou produtos básicos, como o de celulose, ou mesmo o de couros e calçados. Nesse setor, a parcela exportada passa de 50% para 88% em dez anos, mas o aumento veio, principalmente, do maior volume de couro importado e não do bem acabado, o calçado.
Na avaliação de Mercês, as medidas adotadas pelo governo ao longo de 2012 e 2013 para ajudar a indústria com redução do custo da folha de salários e energia, além do financiamento de máquinas quase a custo zero com o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) foram na direção correta, porém insuficientes e cujo impacto ficou aquém do esperado.
Para 2014, a expectativa da Firjan é de alguma recuperação no desempenho exportador, com ajuda do câmbio e de uma pequena melhora na demanda externa, ainda que a crise Argentina seja um fator negativo para esse cenário. A recuperação, contudo, será bem modesta, estima Mercês.
Fonte: Valor Econômico/Denise Neumann | De São Paulo
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