A Petrobras pretende divulgar em junho a oportunidade de venda ("teaser") do modelo de desinvestimento em refino. A companhia pretende vender separadamente as oito refinarias previstas no plano, com capacidade de processamento de 1,1 milhão de barris diários, praticamente metade da capacidade do parque de refino brasileiro.
"A ideia é termos um 'teaser' que estará no mercado no fim de junho e nós teremos o detalhamento da venda das refinarias. A ideia é fazer a venda individualmente", afirmou a diretora Financeira e de Relações com Investidores da Petrobras, Andrea Almeida, em teleconferência com analistas sobre o resultado do primeiro trimestre.
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O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, rechaçou a possibilidade de a BR Distribuidora adquirir qualquer refinaria da petroleira. Segundo ele, a tese não faz sentido. "Seria uma operação 'Zé com Zé'", referindo-se a um jargão do mercado de capitais. A meta, completou ele, é sair 100% das refinarias anunciadas.
Na terça-feira, o presidente da BR Distribuidora, Rafael Grisolia, havia afirmado, em teleconferência com analistas, que era "dever" da empresa, como distribuidora, olhar a possibilidade de aquisição de refinarias colocadas à venda pela estatal.
Castello Branco também afirmou que, tão logo seja concluída a venda de 90% da Transportadora Associada de Gás (TAG) para a francesa Engie e o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ), a empresa vai anunciar a venda da participação remanescente de 10% na empresa e na Nova Transportadora Sudeste (NTS), vendida para a Brookfield.
Os desinvestimentos serão fundamentais para os planos da Petrobras, que pretende manter sua meta de desalavancagem de 1,5 vez a dívida líquida sobre o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), em 2020, mesmo com a implementação da nova norma contábil IFRS 16, que, na prática, elevou em mais de R$ 100 bilhões o endividamento líquido da empresa, para R$ 372,2 bilhões, no fim do primeiro trimestre. Dessa forma, o nível de endividamento líquido da petroleira ficou em 3,19 vezes no fim de março.
"Nossa meta de alavancagem não muda. Estamos comprometidos em desalavancar a empresa. Então o nosso indicador de dívida líquida/Ebtida de 1,5 está mantido, mesmo após os ajustes do IFRS", explicou Andrea.
Castello Branco diz que estatal está alinhada com o governo em relação à abertura do mercado de gás natural
No campo operacional, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, afirmou que está mantida a meta de produção de petróleo e gás natural da empresa de 2,8 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia, em 2019, mesmo com a queda de 5% da produção no primeiro trimestre, em relação a igual período anterior, para 2,46 milhões de BOE por dia.
A expectativa do executivo é baseada no crescimento ao longo de 2019 da produção de três plataformas que entraram em operação neste ano. Segundo Oliveira, no mês de maio, a produção da Petrobras está acima de 2,8 milhões de BOE diários.
Questionado sobre a perspectiva de novas paradas para manutenção de plataformas, um dos principais motivos para a queda da produção no trimestre, o diretor disse que está prevista uma quantidade maior de paradas no início do segundo semestre. Oliveira, porém, disse que essa previsão já está considerada na meta para 2019.
O presidente da Petrobras também disse não lamentar a perda de produção provocada por venda de ativo. "Esse desinvestimento gera recursos para uso em ativos que vão produzir um retorno muito maior para a companhia, que é o pré-sal. É simplesmente uma gestão de portfólio", afirmou ele.
Questionado sobre o plano do governo de abrir o mercado de gás natural, Castello Branco disse não ter conhecimento sobre detalhes da iniciativa e que apenas o governo poderia responder sobre isso. Sobre a recente declaração dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que havia se arrependido de ter enviado para a Petrobras o consultor responsável pelo plano que previa a abertura do mercado de gás apenas em quatro anos, Castello Branco disse que "o ministro Paulo Guedes não colocou ninguém aqui [na Petrobras]".
"O ministro Paulo Guedes não colocou ninguém aqui. Até hoje, ninguém de fora colocou ninguém aqui. Todas as pessoas que trabalham aqui ou eram funcionários de longa data da Petrobras ou algumas poucas trazidas por mim. E os diretores foram escolhidos por mim sem interferência de ninguém", afirmou o executivo.
Ele acrescentou que "não há resistência" dentro da Petrobras com relação ao plano de governo de abrir o mercado de gás natural. "Nós fomos voluntariamente ao Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] conversar exatamente sobre esse tema, no refino e no gás. Não há resistência nenhuma dentro da Petrobras. A Petrobras está perfeitamente alinhada com o governo para esse objetivo".
Fonte: Valor