A Petrobras pode apresentar em 2012 a primeira queda de produção anual de petróleo em oito anos no Brasil, segundo especialistas do setor.
A queda na produção contrasta com um período de brilho no setor de exploração da estatal. Nos últimos anos, a companhia anunciou a descoberta de campos gigantes na camada do pré-sal e foi uma das petrolíferas que mais agregou reservas no mundo.
A última vez que a estatal informou declínio em sua produção anual de petróleo foi em 2004, quando houve uma redução de 3 por cento em relação à extração média de 2003.
Mas neste ano a companhia vem sofrendo com paradas das plataformas para manutenção e a baixa produtividade do pós-sal --especialmente na bacia de Campos--, que ainda responde por mais de 90 por cento da produção total, e cujos campos estão em declínio de produtividade por estarem maduros.
A estatal também sente a paralisação do campo de Frade, operado pela Chevron, onde detém participação de 30 por cento, depois de um vazamento em novembro de 2011.
Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e especialista em energia, Adriano Pires, provavelmente em 2012 a Petrobras deverá apresentar uma produção 2 por cento menor que em 2011, ano em que a extração média de 2,021 milhões de barris diários já veio abaixo das expectativas.
No acumulado do ano até julho, a produção de petróleo da Petrobras no Brasil atingiu uma média de 2,007 milhões de barris dia.
"A Graça (Maria das Graças Foster, presidente da companhia) apresentou um novo plano de negócios, com metas de produção abaixo das anteriores e mais realistas, mas ainda assim será decepcionante. Ela está tentando consertar o avião em pleno voo", disse Pires à Reuters.
Nesta quinta-feira (30), à 16h28, as ações da companhia operavam em queda de 0,94 por cento, enquanto o Ibovespa tinha queda 0,36 por cento no mesmo horário.
Não havia um representante da Petrobras imediatamente disponível para comentar o assunto.
BENEFÍCIO MARGINAL
Em relatório, o Deutsche Bank afirma que, mesmo que as paradas para manutenção diminuam e novas estruturas de produção (FPSOs) entrem em operação, o benefício deve ser "marginal" este ano porque as plataformas programadas para entrar em 2012 devem começar a produção no quarto trimestre.
"Se a produção se mantiver no nível de 2,0 milhões de barris diários até dezembro, a Petrobras irá relatar um declínio da produção no ano (...), o primeiro desde 2004", acrescentou o banco em nota.
Na noite da quarta-feira a estatal divulgou a sua produção média no mês de julho, que ficou em 1,940 milhão de barris ao dia, queda de 1 por cento na comparação com o mês anterior, atingindo o menor patamar em quase dois anos.
No primeiro semestre, a produção mensal da estatal subiu em relação ao mês anterior somente em maio. Nos demais meses, a extração no país caiu.
A companhia disse que a parada programada para manutenção na plataforma P-8 (campo de Marimbá, na Bacia de Campos) foi um dos fatores responsáveis pela redução de 1 por cento em julho na comparação com o mês anterior, afirmou a estatal em nota.
A menor eficiência na bacia de Campos, que gera grande parte da produção de petróleo do Brasil, é um dos grandes problemas da estatal, segundo o diretor do CBIE.
"O pós-sal está sendo operado de maneira ineficiente pela Petrobras e a companhia também não consegue produzir no pré-sal na velocidade esperada", comentou Pires.
Para tentar melhorar a produtividade, a Petrobras anunciou em julho que gastará 5,6 bilhões de dólares até 2016 em atividades que visam reverter a queda na produção.
Já o analista da corretora Geração Futura, Lucas Brendler, disse que uma produção menor em 2012 é uma possibilidade, mas ainda é cedo para cravar qualquer previsão.
"Não temos gerência sobre a produção da empresa e ainda restam alguns meses para que a companhia se recupere. Mas existem dificuldades e a queda é sim uma das probabilidades."
A menor produção, o câmbio e a defasagem dos preços dos combustíveis, entre outros fatores, provocaram perdas de 1,34 bilhão de reais no segundo trimestre, o primeiro prejuízo trimestral da Petrobras em mais de 13 anos.
Fonte: Reuters / Leila Coimbra
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