A Petrobras surpreendeu o mercado ao apurar um prejuízo de R$ 36,94 bilhões no quarto trimestre de 2015 - o maior de sua história -, refletindo principalmente uma baixa contábil por perda no valor de ativos e investimentos (impairment) de quase R$ 48,3 bilhões feita no período.
No ano, o prejuízo ficou em R$ 34,83 bilhões, o que levou o presidente da estatal, Aldemir Bendine, a confirmar a expectativa de que os acionistas ficarão sem dividendos pelo segundo ano consecutivo. Além disso, os funcionários não vão receber a participação nos lucros e resultados (PLR).
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Somando as baixas realizadas em 2014 e 2015, a Petrobras contabilizou perda de quase R$ 100 bilhões no valor de seus ativos, sem contar o desvio de R$ 6,2 bilhões atribuídos a corrupção. Se em 2014 as maiores perdas foram causadas pelo Abastecimento, no ano passado elas ficaram com a Exploração e Produção. O prejuízo do trimestre foi 41% maior que o antigo recorde, de R$ 26,6 bilhões, do quarto trimestre de 2014.
A queda do preço do petróleo, que saiu de uma média acima de US$ 76 por barril no quarto trimestre de 2014 para US$ 43 por barril no último trimestre do ano passado, foi o que gerou a necessidade da baixa contábil, segundo afirmou o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine.
Além da queda do Brent, o aumento do risco Brasil e a perda de grau de investimento contribuem para desvalorizar os ativos da empresa, já que a taxa de desconto usada nas avaliações aumenta. Isso ajuda a explicar porque a baixa e prejuízo forão tão maiores que os de suas principais concorrentes.
Mas não bastasse isso, uma série de outros fatores não recorrentes jogou o resultado da companhia para baixo, o que levaria a estatal a fechar no vermelho mesmo se não tivesse feito o impairment. A inadimplência dos recebíveis atrasados das subsidiárias da Eletrobras, levou a perdas de R$ 2,51 bilhões no trimestre.
Foram registradas ainda despesas com constituição de provisões para perdas em processos judiciais, de R$ 1,88 bilhões, gastos maiores relacionados com paradas não programadas (R$ 670 milhões) e despesas de R$ 352 milhões com a desativação da refinaria em Okinawa, no Japão.
O presidente da companhia afirmou que, com o resultado, a empresa demonstra transparência em em direção ao que ele chamou de processo de "resgate de sua credibilidade". A estatal fechou 2015 com dívida líquida de R$ 391,9 bilhões, inferior aos R$ 402,3 bilhões de setembro. Medido como proporção do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), o endividamento ficou em 5,31 vezes em dezembro, pouco acima do índice de 5,24 vezes do fim do terceiro trimestre.
Bendine apontou que a geração de caixa como principal destaque positivo dos resultados da companhia em 2015. Ao todo, a empresa registrou caixa livre de R$ 15,6 bilhões no ano passado, contra os R$ 19,6 bilhões negativos em 2014.
"Apesar do resultado contábil negativo, a Petrobras teve geração de caixa positiva pela primeira vez em oito anos (desde 2007) e as despesas e dívida líquida caíram", fez questão de ressaltar.
A empresa terminou dezembro com R$ 100 bilhões em caixa, o que lhe dá alguma flexibilidade para tentar rolar suas dívidas, uma vez que os credores estão cobrando juros que a diretoria da companhia reluta em aceitar. Sobre novas captações, Bendine afirmou que "não está no nosso radar no momento" a não ser "que apareçam situações vantajosas" que permitam alongar prazos e reduzir custos. E garantiu que a empresa tem capacidade de caixa suficiente até o fim de 2017.
No ano passado, a Petrobras captou R$ 56,16 bilhões em novos empréstimos, mas desembolsou R$ 70,6 bilhões com pagamento de principal e juros de sua dívida. Os investimentos diminuíram 12% no ano, para R$ 76,3 bilhões.
Segundo Bendine, o caminho para levantar recursos e reduzir o endividamento continuar a ser o plano de venda de US$ 14,4 bilhões em ativos neste ano, com a qual ele ainda conta. "A procura por ativos [está] muito forte, há algumas negociações em fase final, mas o objetivo não é vender abaixo do preço", disse.
Questionado sobre a possibilidade de a crise política influenciar o ritmo dos desinvestimentos, Bendine respondeu que a crise não afeta quando se tem o ativo que o investidor quer. "O que o investidor não gosta é de quebra de contrato. Não acho que isso [crise] pode trazer impacto. Pode atrasar do ponto de vista do business", disse, acrescentando que é natural.
O termo de compromisso com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) para empréstimo de US$ 10 bilhões é uma "reserva" para uso em caso de necessidade. "Foi aprovada, mas não desembolsada. É uma reserva que a gente tem para uma eventual necessidade diante das nossas obrigações de endividamento", disse.
O diretor João Elek confirmou que investiga denúncia da gestão da FUP no RH.
Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner, André Ramalho, Rodrigo Polito, Camila Maia e Fernando Torres | Do Rio e de São Paulo