A reviravolta nos preços das commodities metálicas e do minério de ferro não foram suficientes para evitar queda generalizada durante a primeira metade do ano. Níquel e minério de ferro tiveram os piores desempenhos no período, com junho trazendo queda novamente, após um período de alta observado nos meses anteriores. Durante o primeiro semestre, por outro lado, o petróleo cravou sua retomada e apresentou valorização.
A cotação do barril de Brent, negociado na Europa, fechou ontem em US$ 64,14. No acumulado do ano, o avanço é de 10,2%, mas durante junho houve uma retração, em 3%. No caso do WTI, a alta de 11,4% no semestre foi ofuscada pela queda de 1,3% no mês passado, cotado ontem a US$ 59,83.
Os seis primeiros meses de 2015 confirmaram a tendência dos Estados Unidos, que concentram os produtos de petróleo por meio da exploração não convencional do xisto, de reduzir sua capacidade. A queda da contagem de sondas exploratórias auxiliou o impulso nos preços, depois que a commodity desabou no fim do ano passado por conta da sobreoferta em relação às perspectivas de demanda global.
Mas Norbert Ruecker, diretor de pesquisa de commodities do banco suíço Julius Baer, ressalta que mesmo com fundamentos mais fortes, o petróleo foi ameaçado pela crise no mercado financeiro - com origem no calote grego e na crise montada por conta da indefinição do país - e também pela ameaça mais tangível e próxima aos preços: o Irã.
O prazo para um acordo entre o Ocidente e o país do Oriente Médio terminaria ontem, mas foi prorrogado para 7 de julho. Se as sanções sobre a nação, por conta de seu programa nuclear, forem aliviadas, a produção iraniana vai voltar ao mercado internacional do petróleo. Apesar de Carsten Menke, analista também do Julius Baer, admitir que esse efeito só deve ser sentido em 2016, os investidores já começam a tentar calcular esse efeito sobre o preço do barril.
Jan Stuart e Johannes Tuin, do Credit Suisse, escrevem em relatório que a oferta vinda especialmente de membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) já está suficientemente alta. Em junho, por exemplo, a produção no Oriente Médio, de 29,6 milhões de barris diários, bateu um recorde histórico. Por isso, a expectativa é que a cotação se mantenha próxima ao patamar atual, sem altas relevantes, no ano.
No primeiro semestre, o minério de ferro chegou ao pior nível desde 2008, que é o início da série histórica acompanhada hoje pelo mercado. Mas problemas nas exportações da commodity, sobretudo no Brasil e na Austrália, e o período sazonalmente mais forte para a siderurgia chinesa causaram um repique nos preços. O viés, contudo, segue de baixa, dizem analistas.
Em seis meses, a cotação do minério com teor de 62% de ferro, negociado no porto de Tianjin, da China, caiu 16,7%. Mesmo em junho, após dois meses de valorização, o insumo recuou 3,4%, e terminou ontem em US$ 59,30 a tonelada. A maior parte do mercado aposta que o preço chega a US$ 45 até o fim deste ano.
O avanço observado entre abril e maio não deve se repetir, diz Menke, do Julius Baer. "Vamos entrar no período mais fraco para a demanda pelo aço, o que vai diminuir o consumo. Ao mesmo tempo, os problemas de clima e estrutura foram resolvidos e as exportações à China já se elevaram", afirma. "Sabemos que várias mineradoras chinesas melhoraram depois dessa alta do minério, o que deve aumentar ainda mais a oferta no curto prazo", acrescenta.
Foi no momento de demanda maior por aço, que reduziu os estoques de minério e causou a alta nos preços da commodity, que as siderúrgicas aumentaram sua produção. O Bank of America Merril Lynch (BofA) destaca, em relatório, que o uso de capacidade das produtoras chinesas de aço subiu de 70% no começo do ano para cerca de 74%. Mesmo assim, o patamar está bem abaixo dos 77% de média do ano passado, o que justificaria compras menores do minério.
Em Londres, os contratos futuros do cobre terminaram ontem cotados em US$ 5.775 a tonelada - a queda mensal é de 5,3% e a semestral, de 7,7%. A equipe de commodities do Citi afirmou, em relatório, que apesar do momento ainda ser de excedente de capacidade ao redor do mundo, a expectativa é que potencialmente o mercado entre em equilíbrio durante o ano que vem. Caso alguns fechamentos de fato ocorram, pode até ser observado um déficit.
Mas Menke ressalta que a construção civil na China, maior consumidora do metal não ferroso no mundo, segue diminuindo o ritmo, o que significa menores compras da commodity. Além disso, problemas na oferta do Chile e da Zâmbia foram resolvidos. "Não vemos escassez no mercado de cobre", diz o analista.
O níquel fechou junho em US$ 10.795 por tonelada, ficando com o posto de recuo mais relevante do semestre, de 20%. No mês, a baixa foi de 5,7%. O alumínio caiu 3,1% em junho e 8,5% na primeira metade de 2015, para US$ 1.691. Já o zinco foi o único dos metais que subiu no mês passado, avanço de 0,4%, para US$ 2.000. Em seis meses, a commodity recuou 8,9%.
Fonte: Valor EconÕmico/Renato Rostás | De São Paulo
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