Ao menos por enquanto, a Vale não precisa se preocupar com o plano chinês de produzir metade do minério de ferro que consome. Ontem, em um encontro de empresários de mineração, siderurgia e representantes do governo chinês, a Associação de Minas e Metalurgia da China disse que o país pretende atingir a meta em 2025, para reduzir sua dependência dos fornecedores internacionais da commodity.
A analista Melinda Moore, do Standard Bank, lembrou, em entrevista ao Valor, que a intenção chinesa de reduzir sua dependência de minério de ferro não é nova. A mesma associação vem afirmando há anos a necessidade de o país conseguir ficar menos vulnerável aos preços internacionais da matéria-prima. As siderúrgicas do país são hoje as maiores consumidoras globais de minério, com cerca de 60% da demanda mundial. Segundo Melinda, o anúncio é "irrelevante" para a Vale e as outras principais fornecedoras de minério para a China, como as anglo-australianas Rio Tinto e a BHP Billiton.
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Outro analista especializado no setor, de um banco internacional, afirmou ao Valor que sua impressão inicial é que a afirmação da Associação de Minas e Metalurgia da China "está mais para um desejo" do que uma realidade para curto ou médio prazos.
Segundo os dois analistas, como a China tem minério de baixa qualidade e produção de alto custo, a saída para que suas siderúrgicas tenham uma menor dependência passaria por alianças e investimentos internacionais.
A associação chinesa disse também que planeja divulgar, até o fim deste ano, um estudo detalhado sobre os recursos de minério de ferro disponíveis no país, segundo a Platts, empresa que elabora pesquisas, informações e índices de commodities. O documento também vai traçar diretrizes para o desenvolvimento da indústria chinesa produtiva de minério de ferro no período de 2016 a 2025, de acordo com a entidade.
Atualmente, o país produz entre 20% e 30% de sua necessidade. Considerando o minério de ferro com concentração de 62% de ferro - usado como referência no mercado -, a produção chinesa prevista neste ano será de 320 milhões de toneladas, segundo o Credit Suisse. Esse volume corresponde a 27% do total do consumo estimado para o país no ano. O governo chinês afirmou que a importação de minério neste ano será de 870 milhões de toneladas. Os dois volumes totalizam 1,190 bilhão de toneladas de consumo interno.
De acordo com um executivo da Angang Mining, citado pela Platts, a associação pretende dividir a China em dez regiões - de acordo com os depósitos de minério - para facilitar as pesquisas sobre produtores locais. Também serão acionadas grandes empresas chinesas para ajudar nos levantamentos. A Angang, subsidiária do grupo Anshan Iron & Steel, é uma das maiores produtoras de minério de ferro na China, com cerca de 60 milhões de toneladas ao ano.
Ainda de acordo com a Platts, a associação disse que poderá sugerir fusões e aquisições entre mineradoras chinesas para formar entre seis e oito gigantes, com capacidades de ao menos 30 milhões de toneladas ao ano. Segundo ela, a união poderia reduzir os custos de produção e melhorar a competitividade com fornecedores globais.
Fonte: Valor Econômico/Olívia Alonso | De São Paulo