O arrefecimento da demanda externa, a desoneração da folha de pagamentos e o efeito da desvalorização cambial sobre os novos contratos fizeram o preço das exportações totais do país recuar 7,8% em julho na comparação com igual período do ano passado, com os semimanufaturados caindo 8,6% e as manufaturas, 3,3%. De acordo com levantamento feito pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a queda começou em abril e foi se aprofundando até julho.
O efeito da queda de preço sobre as vendas, contudo, foi diverso na indústria. Enquanto o segmento de produtos químicos registrou queda no volume das exportações mesmo vendendo mais barato no exterior, têxteis, calçados e móveis conseguiram aumentar o volume de embarques. A redução nos preços da indústria, contudo, não deve parar por aí. A expectativa é que o impacto da desoneração e da valorização do dólar seja ainda mais forte até dezembro.
O setor de calçados, em julho, vendeu 4,2% mais barato em média e entregou um volume 1,2% maior, segundo a Funcex. A Democrata, que tem fábricas em São Paulo e no Ceará, diz que conseguiu baixar, no acumulado do ano, até 10% o preço para o comprador internacional. Carlos Roberto Cintra, diretor-financeiro da empresa de calçados, diz que o ganho de competitividade serviu para segurar mercado no exterior, o que estava difícil no ano passado em virtude da competição com produtores asiáticos. Para o mercado interno, contudo, não houve mudança significativa no preço, já que o imposto de 1% sobre o faturamento, que substitui a contribuição sobre o valor da folha de salários ao INSS, incide nas vendas domésticas.
Mesmo com o produto mais atrativo, ele espera que neste ano as exportações caiam para 20% do faturamento total, ante 30% no ano passado. "Estaremos em condições melhores até o fim do ano, pois os contratos com o novo dólar vão começar a bater no balanço no segundo semestre", afirma.
Outro setor que vem enfrentando dificuldades para manter mercado externo e que conseguiu baixar os preços em 6,8% é o têxtil, que aumentou a quantidade embarcada em 5,8% na comparação entre os meses de julho. Tendo a América Latina e os Estados Unidos como os maiores mercados, a Döhler baixou os custos em até 14% neste ano. A empresa de produtos de cama, mesa e banho diz que repassou tudo para o preço das exportações. Agora, ela consegue "pelo menos sentar na mesa para negociar lá fora", diz o diretor-comercial, Carlos Alexandre Döhler.
Assim como em calçados, o fator preponderante para o recuo nos preços foi a desoneração da folha. O Reintegra, que dá à empresa 3% de crédito tributário em função do faturamento com exportações, também foi citado pelo diretor como outra medida importante tomada pelo governo. Como resultado, em maio, a empresa inaugurou um centro de distribuição na Flórida, plano que estava na gaveta desde o primeiro semestre do ano passado. "Eliminamos o intermediário", diz o executivo da Döhler.
Rodrigo Branco, economista da Funcex, pondera que a maior parte do ganho no índice de preços das exportações decorreu da influência do preço das commodities. Enquanto em março o levantamento realizado com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apontou alta de 0,8% no preço médio de venda ao exterior, em abril ele caiu 1,9%, em maio, 3,6%, e em julho, 5,5%, sempre em relação a igual mês de 2011.
Para Branco, outro movimento que explica a retração de preços de exportação nos últimos meses é a menor dinâmica interna e o excesso de oferta de manufaturados no mercado externo. "Temos um modelo de exportação com poucas empresas voltadas apenas para isso. Quando há diminuição da produção e produtividade em função do mercado doméstico, elas miram o exterior com mais atenção. Como lá fora o cenário também não está propício, elas baixam o preço para manter o nível de vendas. Claro que há também os efeitos das medidas do governo e do câmbio, mas isso vai ganhar mais força mais para frente", afirma.
O exemplo do economista é encontrado no setor de móveis. A Associação das Empresas das Indústrias do Mobiliário (Abimovel) estima que as exportações não ultrapassam 30% do faturamento de suas afiliadas. Para manter o nível de US$ 700 milhões em vendas ao exterior registrado no ano passado, o setor vendeu em julho a um preço 5,7% mais barato. O volume, por sua vez, cresceu 3,5%. José Luiz Diaz Fernandez, presidente da associação, diz que o mercado interno não mostrou a recuperação esperada no primeiro semestre, "por isso tivemos que baixar os preços e diversificar as exportações".
Efeito difuso ocorreu no setor químico, que mesmo vendendo 10,8% mais barato, segundo a Funcex, assistiu ao volume encolher 8,7% em julho. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), enquanto os preços caíram nas áreas de produtos inorgânicos, de fibras e defensivos agrícolas, registrou-se aumento nos orgânicos, farmacêuticos e químicos diversos. No entanto, de acordo com levantamento da própria associação, os preços no geral caíram 5,4% no acumulado do ano ante janeiro a julho de 2011.
A diretora de assuntos de comércio exterior da associação, Denise Naranjo, diz que "a crise está forçando a baixa de preços de alguns produtos, o que deve continuar no resto do ano". Segundo ela, o setor está contente com o nível das exportações, que devem aumentar em volume no segundo semestre pelos mesmos motivos dos têxteis e calçados.
"O que preocupa é o nível de importação da economia como um todo, que afeta a indústria. O calçado importado não usa parte de nossa produção, como um produzido aqui. Gera-se um efeito em cadeia para o setor", afirma. De janeiro a julho, a balança comercial da indústria química registra déficit de US$ 14,3 bilhões.
Rodrigo Branco acredita que mais do que as desonerações, o câmbio vai ter mais influência no segundo semestre, já que os contratos fechados no patamar do início do ano estão vencendo. "O efeito consolidador é mais para frente, pois a segunda fase das medidas do governo entrou em vigor há pouco tempo e leva um tempo para maturar. Há vários fatores colaborando para um segundo semestre melhor e um ano que vem melhor ainda", diz.
A mesma expectativa é compartilhada pela Döhler, que começa a sentir com mais força agora os efeitos da desoneração. A primeira parte do programa, que entrou em vigor no início do ano, valeu apenas para algumas áreas da linha de produção. Agora, a alíquota diminuiu e atinge mais segmentos.
Fonte: Valor / Rodrigo Pedroso
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