A produção de milho safrinha em Rondônia bateu recorde na safra 2017, com aumento de 62% em comparação a 2016. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, a produção foi de 503,4 mil toneladas. Já agora, o número saltou para 815, 9 mil toneladas. A região do Cone Sul do estado é destaque na produção.
Os dados são do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), que também apontou crescimento na área plantada, de 126,8 mil hectares em 2016 para 173,5 mil hectares neste ano.
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De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Rondônia (Embrapa-RO), Vicente Godinho, Vilhena (RO) é a maior produtora de milho do estado, seguidos de Corumbiara (RO) e Cerejeiras (RO).
“Vilhena produz mais de 30% da safra do milho do estado, safra e safrinha juntos. Esse ano teve uma boa distribuição de chuvas e as tecnologias utilizadas pelo produtor contribuíram para este aumento na produção”, salienta.
O pesquisador explica que o milho 1ª safra é plantado em setembro e colhido em fevereiro/março do outro ano. Já o milho safrinha, ou 2ª safra, é plantado a partir de janeiro, após o início da colheita da soja, e colhido a partir de maio/junho.
Godinho ressalta que o milho 1ª safra, normalmente, é cultivado por pequenos produtores em Rondônia, e utilizado para subsistência. O milho safrinha, por sua vez, é plantado em cima da lavoura de soja e, na sua maioria, produzido para comercialização.
“Hoje no estado, o milho safrinha é mais importante do que o milho safra, em termos de produção e área plantada. A grande maioria dos produtores comercializa no mercado interno de Rondônia, ou mercado de exportação, seja para outros estados, principalmente Acre e Amazonas ou para outros países, usando a logística da soja”, salienta.
De acordo com a Embrapa, Vilhena cultivou 54 mil hectares de milho safrinha em 2017, com rendimento médio de aproximadamente 5.500 kg/ha. O pesquisador Vicente salienta que, no município, os produtores trabalham em um sistema de produção, com soja e milho.
“Os produtores usam essas culturas como complementares e, normalmente, procuram ajustar as tecnologias para a convivência com pragas, convivência com invasores; para uma não atrapalhar a outra e sim, beneficiar”, ressalta.
Queda no preço
Com a alta na produção, o preço da saca de milho safrinha diminuiu em Vilhena. Conforme a Embrapa, nesta época em 2016, a saca de milho safrinha era comercializada a R$ 35. Agora, o valor médio é de R$ 20, o que implica na descapitalização do produtor.
O produtor Roberto Tissott plantou três mil hectares de milho safrinha e ainda falta vender 40% da produção. Ele ressalta que o valor da saca de milho para exportação é menor ainda, em torno de R$ 16.
“Hoje esse valor inviabiliza plantar, pois o preço é muito baixo e o custo de produção sobe a todo o momento”, diz.
O produtor Jaime Bagattoli conta que cultivou quatro mil hectares de milho safrinha, com rendimento médio de 110 sacas por hectare, com 26 mil toneladas colhidas. Bagattoli fala que utilizou 45% da produção para consumo em suas propriedades, vendeu 20% e aguarda vender o restante nos próximos meses.
Bagattoli reitera que o retorno financeiro da produção não atendeu as expectativas este ano e ressalta que o milho, atualmente, custa em média, 100 sacas por hectare.
“A queda no preço faz parte do mercado e o produtor está sempre apostando que o ano seguinte vai melhorar. Tem que ir vendendo aos poucos para ir fazendo uma média de preços, mas não dá para segurar a produção, pois lá na frente o produtor não vai conseguir vender tudo de uma vez, além de ter mais custos financeiros com o armazenamento”, ressalta.
Apesar dos contratempos com o preço da saca, Bagattoli afirma que, além de consumir milho safrinha nas suas propriedades, a produção também contribui para o enriquecimento da terra, para a produção de soja.
“O milho deixa matéria orgânica na terra. Ele se torna um adubo orgânico e ajuda na produtividade da soja. Se deixar a terra sem nada é pior, mas é claro que fazemos uma lavoura para termos margem de ganho”, pondera.
O produtor Diego Comiran enfatiza que, na maioria das vezes, alta produção é igual a preços baixos e, segundo ele, foi o que aconteceu nessa safra. Ele ressalta que o produtor vem reduzindo sua margem de ganho a cada safra, tanto para milho, como para soja.
“Esse milho da safrinha 2017 foi o maior custo de produção da história. Estamos falando de um custo de R$ 2 mil a R$ 2, 6 mil por hectare. Trabalhando com uma média de R$ 2,3 mil por hectare de custo de produção e vendendo esse milho a R$ 17 por saca, temos um custo de 135 sacas/hectare, inviabilizando a cultura, sem margem alguma para a maioria dos produtores”, destaca.
Comiran ainda salienta que falta uma política agrícola eficiente, que seja condizente com a realidade de cada região do país. “A chave do negócio está no custo de produção versus rentabilidade do produtor. De que adianta uma super safra sem renda”, questiona.
Seagri
O titular da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), Evandro Padovani, explica que a captação de recursos em dólar, para adquirir os insumos, e a incerteza do preço do boi no mercado, implicou na produção do milho safrinha.
Contudo, Padovani enfatiza que a Seagri tem tomado medidas para incentivar a produção e a comercialização do milho em Rondônia.
“Estamos organizando a cadeia da suinocultura e avicultura para ter mais consumo do milho em Rondônia. Queremos agregar valor em proteína animal, para não ficarmos reféns do mercado de exportação. Além disso, estamos tentando habilitar Rondônia na União Europeia para ter mais demanda de carne, e consequentemente de milho, e planejamos trazer para o estado uma misturadora de adubo, que vai diminuir os custos para o produtor”, ressalta.
Padovani ainda destaca que a redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do fertilizante, de 8,4% para 2,1% no Mato Grosso, foi uma medida que contribuiu para os produtores do estado.
Segundo o secretário, Rondônia consome em torno de 160 mil toneladas de fertilizantes por ano, que são utilizados em várias cadeias produtivas, como soja, milho e pastagem.
“Os produtores adquiriam o fertilizante no Paraná ou no Rio Grande do Sul com o ICMS a 1,8%. Em 2016, o governo do Mato Grosso atendeu a um pedido do governo de Rondônia e diminuiu o ICMS de 8,4% para 2,1%. Agora, os produtores compram no estado vizinho, o que diminuiu o custo de produção por causa do transporte. Isso foi uma grande vitória”, salienta.
Fonte: G1