As empresas de níquel serão beneficiadas no médio prazo pelas novas regras de exportação na Indonésia. O país proibiu a partir do último domingo a venda de minérios não processados ao exterior. Caso a medida seja mantida, as produtoras globais do metal - que vêm sofrendo com a queda do preço do metal nos últimos anos - vão sentir efeitos positivos em suas operações daqui a cerca de seis meses, dizem as próprias companhias e analistas.
O impacto é esperado uma vez que a Indonésia é responsável por ao menos 20% da oferta global de minérios e concentrados de níquel. Segundo o banco francês Naxitis, o país fornece mais da metade das compras chinesas para a produção de ferro-gusa de níquel (NPI, na sigla em inglês), um substituto mais barato do metal e considerado um vilão dos preços do níquel nos últimos anos. Nas estimativas de Nic Brown, chefe de commodities do Natixis, a redução da oferta da Indonésia pode reduzir gradualmente e significativamente (em cerca de 200 mil toneladas) a produção chinesa de NPI.
Mas os efeitos das mudanças do mercado não serão imediatos, pois a medida da Indonésia já era prevista, dizem os especialistas. Assim, produtores aço inoxidável - que tem níquel em sua composição - fizeram estoques de minério nos últimos meses, o que lhes garante suprimento agora. Além disso, o mercado global de níquel ainda está em situação de superávit. Um equilíbrio do mercado é esperado para os próximos 12 a 24 meses.
A Votorantim Metais (VM), responsável pelos negócios de metais do grupo Votorantim, disse ao Valor acreditar que as medidas da Indonésia vão provocar uma melhora nas operações locais. Mesmo assim, afirma que ainda não há justificativa para a retomada das atividades de sua unidade de Fortaleza de Minas (MG), cujas operações foram suspensas em novembro. Segundo a VM, a alta de preço do níquel, isoladamente, não determina a retomada. Antes de estudar a viabilidade da retomada, a empresa diz que é necessário um cenário de mudanças estruturais. Entre elas, cita uma consistente dos preços, taxa cambial favorável, custos competitivos e melhores margens. Em 2012, a VM produziu 34 mil toneladas de níquel e teve prejuízo de R$ 452 milhões com as operações do metal, segundo suas demonstrações financeiras.
Jeremy Martin, presidente da inglesa Horizonte Minerals, também estima um impacto positivo em médio prazo. A companhia está em fase de desenvolvimento de um projeto de exploração de níquel no Pará, com início de produção prevista para 2017. Na opinião dele, o preço do níquel deve ser impulsionado por um equilíbrio do mercado principalmente a partir de 2015, e os efeitos positivos para as companhias começam a ser sentidos em seis a oito meses.
A Vale não comenta o assunto. Segunda maior produtora de níquel, atrás da russa Norilsk Nickel, a mineradora produziu 190 mil toneladas nos primeiros nove meses do ano passado, faturando US$ 2,8 bilhões, 8% de suas receitas totais. Nas contas do Barclays, a cada 10% de aumento do preço do níquel, o lucro por ação da Vale cresce 3,3%.
Nos últimos dias, o níquel subiu 3% na bolsa de metais de Londres (LME) puxado pela decisão do governo da Indonésia. No momento, a tonelada vale US$ 14.300. O Naxitis estima um preço médio de US$ 14.250 neste ano e US$ 15.000 no ano que vem.
Brown, da Naxitis, lembra que a Vale possui uma operação de níquel na Indonesia, onde produz mate de níquel para exportar ao Japão. Mas como o produto tem teor de concentração de níquel muito superior a 4%, que é o mínimo que o país passa a exigir para a exportação, a empresa não será afetada, na visão do analista, mesmo que as taxas de exportação tenham sido elevadas.
A Anglo American também não comenta o assunto, por estar em período de silêncio. A empresa britânica produz níquel apenas no Brasil desde que fechou a unidade Loma de Níquel, na Venezuela, em novembro de 2012. Naquele ano, produziu 39,3 mil toneladas.
Fonte: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo
PUBLICIDADE