O Palácio do Planalto procura uma solução política para a sucessão na Petrobras e um dos nomes em análise é o do governador da Bahia, Jaques Wagner. O nome do governador é o preferido do PT, que vê em Wagner. autoridade política e moral para restabelecer a normalidade na estatal, virtualmente paralisada com os escândalos de corrupção objetivos de delação premiada na Operação Lava-Jato.
O destino do atual governador da Bahia deve ser decidido nos próximos dias, em encontro com a presidente Dilma Rousseff, atualmente em férias na base naval de Aratu, no litoral baiano. Wagner saiu fortalecido das eleições, após eleger o sucessor, Rui Costa, numa disputa que parecia perdida até a véspera. Muito próximo a Dilma, seu nome também é cotado para a Casa Civil e para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência, na hipótese de Dilma resolver fazer um roque entre os auxiliares do Palácio. Em Brasília ou no Rio, Jaques Wagner deve compor o chamado "núcleo duro" do novo governo da presidente Dilma.
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A presidente pode desencadear a reforma ministerial após sua volta da Bahia. Se ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente anuncia o nome do novo ministro da Fazenda já agora em novembro. O nome preferido de Lula é o de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC) durante seus oito anos de governo. Para o ex-presidente, a indicação de Meirelles enviaria um sinal que seria bem recebido pelos mercados e daria tranquilidade para a presidente terminar o atual mandato e começar o próximo. Um sinal tão positivo quanto foi o aumento surpreendente da taxa de juros na quarta-feira.
Em um esforço para melhorar as relações com a base aliada, a presidente inicia na próxima semana reuniões com os partidos que a apoiam. A primeira agenda já foi marcada, com o PSD, para quarta-feira, às 11h30, com a presença da atual bancada de deputados federais e senadores, além dos eleitos, com os presidentes estaduais da legenda e com o presidente nacional, Gilberto Kassab, cotado para ocupar um ministério.
"Já senti sinais de que o governo está mais ciente de que precisa ter tratamento de mais diálogo com o Congresso, conversar mais. Parece que entendeu que nada nesta Casa anda sem acordo", diz o líder do PSD na Câmara dos Deputados, Moreira Mendes (RO), que foi acompanhado dos ex-líderes Eduardo Sciarra (PR) e Guilherme Campos (SP) ao gabinete do ministro Ricardo Berzoini (PT), da Secretaria de Relações Institucionais, quando foi acertada a reunião com Dilma.
Conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, Dilma deve manter pelo menos 12 ministros da atual equipe. Outros devem ser promovidos, como seu ex-chefe de gabinete Giles Azevedo, que deve virar ministro, mas a pasta ainda não está definida. Talvez Minas e Energia, cargo para o qual é cotada também a atual presidente da Petrobras, Graça Foster. Amiga da presidente, Graça não agrada o PT, que reclama dela, entre outras coisas, por causa da contratação de uma empresa americana de auditoria internacional, com amplo acesso a segredos empresariais da estatal.
O Valor PRO também revelou que Lula sugeriu uma lista com três nomes a Dilma. Os outros dois foram Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, e o economista Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo na Fazenda. Especula-se que Trabuco e Meirelles estariam na lista apenas para dar um upgrade a Barbosa. Fontes do PT disseram ao Valor que não é o caso: Lula quer Henrique Meirelles.
O problema é que a presidente Dilma resiste ao nome do ex-presidente do BC. Ela até aceitaria se o ex-presidente Lula dissesse "eu quero o Meirelles". Ocorre que Lula sugere os nomes mas não diz "eu quero este". A presidente da República, afinal, é quem decide sobre seu ministério. A responsabilidade sobre o indicado é dela, exclusivamente. Nem Lula quer se tornar devedor. No momento, ele se acha credor da reeleição da presidente.
No mercado financeiro avalia-se que a nomeação de Barbosa seria "neutra", pois, se ele não tem a confiança irrestrita de um Henrique Meirelles, por outro lado, desde que deixou o governo, tem dado curso a propostas de ajuste na política econômica que são bem vistas pelo mercado. Há dúvida sobre a capacidade de Barbosa atrair nomes de peso para sua equipe, especialmente para a Secretaria do Tesouro Nacional.
Seja como for, a solução para a área econômica do governo pode sair do litoral da Bahia, onde a presidente passa férias, uma vez que Lula, seu principal eleitor, acha que há pressa para uma definição de rumos.
No caso da Petrobras, Wagner não é um nome completamente estranho à estatal: é petroleiro e foi dele a indicação do ex-presidente da empresa Sérgio Gabrielli, que depois tornou-se secretário em seu governo. Mas ele não é o único nome em consideração. Pela cúpula do PT já passou também o nome do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil). O nome de Rodolfo Landim, ex-diretor da área de gás da Petrobras, também é considerado.
O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), também foi recebido por Berzoini e ficou com a promessa de um encontro da bancada de deputados federais com Dilma quando a presidente volta do descanso pós-eleições. "O partido apoiou o Aécio [Neves, do PSDB], mas a bancada ficou do lado da presidente Dilma, e o Berzoini nos agradeceu esse apoio", afirmou.
O PTB é um dos partidos que discute uma composição com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), para a eleição de presidente da Câmara. "Dez vez em quando o Eduardo tem atrito com o governo, mas é normal. A eleição para presidente da Câmara é assunto do Legislativo", diz Arantes.
O pemedebista, que já mediu forças com o Palácio do Planalto em projetos importantes para o governo, foi lançado candidato pela bancada do PMDB na quarta-feira e iniciou as negociações para formação de um bloco que fortaleça sua candidatura.
Fonte: Valor Econômico/Raymundo Costa e Raphael Di Cunto | De Brasília