Dados divulgados nos últimos dias mostram que a queda no preço das commodities e a piora no cenário internacional já afetam duramente a receita de países sul-americanos com exportações fortemente dependentes de produtos primários, afirmam analistas.
Esse quadro já tem levado à redução da expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de países como Peru, Colômbia e Chile para este ano. E já há analistas que veem no horizonte a possibilidade de uma recessão em 2014, caso não haja uma melhora.
Anteontem, a Sociedade Nacional de Mineração, Petróleo e Energia (SNMPE) do Peru anunciou que a renda obtida com o setor de mineração caiu 16,4% entre janeiro e abril em comparação ao mesmo período de 2012. No mês de abril, a queda foi de 4,1% contra abril do ano passado.
Segundo a entidade, a renda obtida com exportações de cobre, um dos principais produto
exportado pelo país, caiu 11% nos quatro primeiros meses do ano, enquanto a receita obtida
com o ouro foi 21,5% menor.
O setor de mineração foi responsável por 56,8% das exportações peruanas em 2012. No mesmo dia da divulgação dos dados da SNMPE, duas consultorias privadas reduziram sua previsão para o crescimento do país neste ano. A Maxime diminuiu sua estimativa de 6% para 5,6%. E, já vendo sinais de desaquecimento da economia, recomendou ao banco central que baixasse juros.
Já a Focus Economics foi mais discreta, baixando o número de 6% para 5,9%. A empresa apontou para novos sinais de desaceleração do PIB, que se expandiu 4,8% no primeiro trimestre contra
o mesmo período do ano passado, o ritmo mais lento em mais de três anos. No ano de 2012 a economia do país cresceu 6,29%, um dos índices mais altos da região.
Também anteontem, o Departamento Nacional de Estatísticas da Colômbia (Dane) anunciou que o superávit comercial do país em abril foi de apenas US$ 36,8 milhões, contra US$ 788,9
milhões no mesmo mês de 2012. Entre janeiro e abril, o país teve um superávit de US$ 595,7 milhões, contra US$ 2,9 bilhões nos quatro primeiros meses de 2012. As exportações, no período, caíram 7,3%. "Os produtos que explicam fundamentalmente tal diminuição foram
petróleo e derivados, carvão, coque e briquete", que caíram mais de 12%. Juntos, os setores de petróleo e minérios responderam por 63% das exportações do país no período.
Na semana passada, o governo colombiano reduziu sua estimativa de alta do PIB neste ano de 4,8% para 4,5%. Mas analistas já falam em 4%, repetindo o desempenho de 2012, contra 6,6% em 2011.
Segundo analistas, o cenário externo desfavorável contribui por um menor apetite pelos
minérios produzidos por países como Peru, Chile e Colômbia, e uma consequente queda nos
preços. Compõem esse cenário a desaceleração da economia chinesa, a recessão na Europa e uma recuperação lenta nos Estados Unidos e no Japão.
No caso do Chile, cujas exportações são comandadas pelo cobre, o superávit comercial caiu de US$ 3,3 bilhões para US$ 1,8 bilhão nos primeiros cinco meses do ano.
"Nesses países sul-americanos que são muito dependentes das matérias-primas, a piora externa se reflete quase que imediatamente em sua economia", afirma o economista César Ferrari, ex-presidente do Banco Central do Peru, hoje radicado na Colômbia. "Um cenário externo tão negativo quanto o atual por mais alguns trimestres pode levá-los até à recessão em 2014."
Fonte: Valor Econômic/Fabio Murakawa | De São Paulo
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