Em mais um mês de queda na linha dos dois dígitos, julho confirmou uma deterioração mais acentuada do setor siderúrgico. As vendas internas, a produção e até a compra de importados recuaram e ajudaram a derrubar as ações do setor na BM&FBovespa. Em razão disso, o mercado já espera balanços ainda mais fracos relativos ao terceiro trimestre.
O Instituto Aço Brasil revelou ontem que a redução no volume comercializado de produtos de aço foi de 22% no mês passado, quando comparado com o mesmo período de 2014. O resultado foi uma venda de 1,4 milhão de toneladas. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, as vendas totalizaram 11 milhões de toneladas, declínio de 14,3%.
O consumo aparente - que é a soma de vendas internas das usinas mais importações -, por sua vez, terminou em 1,7 milhão de toneladas, nível inferior ao ano passado em 24,4%. De janeiro a julho, a baixa foi de 12,4%, para 13,4 milhões de toneladas.
As compras de produtos importados foram reduzidas em 33,8%, para 270,4 mil toneladas, com valor total de US$ 282,8 milhões. Com esse desempenho, nos primeiros sete meses do ano, foram importadas 2,3 milhões de toneladas, queda de 2,2%. Pesou principalmente o câmbio, com valorização do dólar.
Os números confirmam um aprofundamento da crise de demanda pela qual passa o setor siderúrgico no Brasil. O consumo aparente, por exemplo, que é o maior termômetro da procura por aço, teve a pior queda do ano. Se a métrica utilizada for a comparação anual, a última grande baixa havia sido observada em maio, de 22,8%. Um recuo nesse nível não era visto desde o pós-crise de 2008.
Durante julho, o instituto disse que a produção também foi cortada. Houve redução de 3,1%, frente a igual mês de 2014, para 2,9 milhões de toneladas de aço bruto. No ano, houve alta de 1,2%, para 19,95 milhões de toneladas.
Os dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) apontam para enfraquecimento semelhante. As vendas de aços planos pela rede associada caíram 29,1% em julho, em comparação com um ano atrás. O volume, de 255,4 mil toneladas, representou queda de 1,2% ante junho.
Os números da entidade mostram também que as compras de aço pela rede nas usinas recuaram 41,3% em comparação anual, para 217,3 mil toneladas. Frente ao mês imediatamente anterior, a baixa foi de 8,2%. Carlos Loureiro, presidente da entidade, lembrou que as distribuidoras tomaram uma "decisão sábia" de desacelerarem a aquisição de aço frente à demanda interna, para evitar a ampliação dos estoques da rede.
A estratégia deu certo e os volumes estocados recuaram 3,6%, para 1,02 milhão de toneladas. O giro foi de 4,1 meses para 4 meses e a previsão do Inda é que caia mais, até 3,8 meses, em agosto. Além disso, o instituto prevê estabilidade para os volumes de venda e compra de aço no mês atual - a mesma estimativa anunciada no mês passado quanto aos meses de julho.
O desempenho de vendas da rede associada ao Inda foi o pior desde abril de 2009. Como resultado, a previsão de recuo foi de 12% para 22% neste ano. Entre janeiro e julho, o volume já foi 20,1% menor, de 2,06 milhões de toneladas. Loureiro disse que esse nível atual é o "fundo do poço". "Não vejo caindo abaixo de 250 mil toneladas mensais."
Em decorrência da evolução no câmbio, alguns produtos, especialmente laminados a quente, que são importados atualmente são comercializados a um preço maior do que o mercado local. "Vemos prêmio negativo em alguns casos", afirmou o executivo. "Por isso, já há conversas no mercado de que a Gerdau tenta reajustar em 15% os preços de aços longos, mas acho difícil", acrescenta. Para planos, a perspectiva seria de reajuste em 7% - ambos no fim do ano.
Os números de desempenho derrubaram as ações do setor. Ontem, os papéis da CSN caíram 4,33%, para R$ 3,31, terceira pior queda do Ibovespa e pior preço desde julho de 2005. Os ativos preferenciais de classe A da Usiminas recuaram 4%, para R$ 3,36, e os preferenciais da Gerdau perderam 0,88%, para R$ 5,66.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás e Stella Fontes | De São Paulo
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