Em um imenso hangar, em meio a um ruído ensurdecedor, operários brasileiros trabalham na montagem dos cascos dos novos submarinos da Marinha. Mas em um país sacudido pela crise e pela corrupção, as embarcações enfrentam turbulências antes mesmo de sair da oficina.
O hangar situado em Itaguaí (RJ) tem 38 metros de altura e abriga as estruturas onde os futuros submarinos, alocados em diferentes seções, estão sendo montados antes de juntarem todas as suas partes.
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O projeto, que prevê a construção de cinco submarinos, entre eles um de propulsão nuclear, é conduzido em cooperação com a França, após o grupo DCNS ter conseguido em 2009 o contrato de € 6,7 bilhões.
Mas a crise dificultou os planos: afundado na pior recessão de sua história, o Brasil enfrenta severas reduções orçamentárias contra as quais luta para poder colocar na água, em 2018, o primeiro submarino. Uma estreia, que ainda que fosse conseguida a tempo, aconteceria com mais de um ano de atraso.
O programa Prosub foi elaborado para proteger os 8.500 km da costa do Brasil, assim como suas jazidas de petróleo em águas profundas. Os novos submarinos substituirão os cinco atuais que estão em atividade, construídos em colaboração com a Alemanha entre 1980 e 1990.
Além da transferência de tecnologia, o projeto inclui a construção de uma oficina naval e uma base militar que operará em Itaguaí, em um complexo de 540 mil m2.
Atrasos em série
A espera pelo submarino que usa componentes nucleares – construído exclusivamente com tecnologia brasileira – será ainda mais longa. Com sua fase de arquitetura já finalizada, a construção começará em 2021 e sua estreia debaixo d'água ficaria para 2028, cinco anos após as previsões iniciais.
Para fazer frente a esses atrasos, mais de 1.700 operários trabalham sem descanso, a maioria vestindo uniformes com o logo da Odebrecht, sócio da francesa DCNS na construção das infraestruturas e centro do megaescândalo de corrupção que sacode o País.
A Odebrecht é acusada de pagar propinas de forma sistemática a políticos para obter contratos públicos.
E a obra de Itaguaí não é uma exceção. Segundo os procuradores a cargo do caso, a Odebrecht alimentou de 2012 a 2014 os caixas do Partido dos Trabalhadores (PT), que na época comandava o País, para se assegurar de que as obras continuariam se beneficiando dos subsídios do governo.
A tempo
“Tivemos que diminuir o ritmo de obra (pelas restrições orçamentárias), e por isso estamos convergindo todos os esforços para poder lançar o primeiro submarino em 2018”, disse o almirante Gilberto Max Hirschfeld, responsável do projeto. A primeira seção do casco será enviada em julho para a oficina naval.
Para Hirschfeld, é normal que os prazos sejam flexíveis em projetos complexos como este.
Fonte: A Tribuna